Crítica | Mega Shark vs Crocosaurus
Mega Shark não é uma ave de fogo ou um undead, até porque jamais andou, mas certamente entrou para a categoria dos imortais do cinema, ao lado de figuras mitológicas como Godzilla, King Kong e outros primos não tão gigantescos, como Jason e Michael Myers. O segundo episódio da saga tubaranesca começa ainda mais incisiva e crítica que a primeira, mostrando um comentário social contestador, de escravização moderna, na mesma África (Congo) que séculos atrás produziu a mão de obra utilizada para levantar o mundo moderno. O filme de Christopher Ray é ainda mais corajoso, pois exibe um novo monstro logo de cara, um enorme crocodilo, um Alligator super desenvolvido, chamado Crocossauro, cujo CGI o deixa irreal e cinzento mas que mesmo com todo o tom grafite, ele ainda não tem sua origem definida.
Outra grande rebeldia da fita é exibir o corpo de cientistas que estuda os peixes (tubarões) formado em seus protagonistas por negros. Até algumas das linhas de frente militar são pessoas cuja taxa de melanina é alta, elevando o desejo de Luther King Júnior a níveis estratosféricos – se Denzel Washington e Hale Berry podem ganhar o Oscar, por qual motivo a rapaziada do gueto não pode enfim ter sua voz no cinema podre da Asylum? A pergunta está respondida nos parcos minutos de Mega Tubarão vs Crocosauro,
A história é contada sob os olhos do Doutor Terry McCormick (Jaleel White) que está a bordo de um navio militar, que é atacado pelo tubarão super-desenvolvido. Como nem tudo é bonito e belo, o navio é afundado pelo peixe pré-histórico cujo tamanho varia ao gosto de seu realizador, levando consigo a amada de Terry, e um bocado de sua esperança na vida, consequentemente. Sem delongas, a trilha segue até a savana, mostrando Nigel Putnam (Gary Stretch), um branco de cabelo engomado, que consegue manter o penteado mesmo em seu ofício de caçador de animais de médio porte. Logo ele encara o enorme réptil, em terras africanas, fazendo dele um autêntico sobrevivente.
Terry por sua vez é encontrado pelo governo estadunidense, surpreendentemente vivo – outro sobrevivente – será que a narrativa já é perceptível? Nigel então decide viajar de barco, e lá, encara o peixe descomunal também, para logo depois ser perseguido pelo jacaré colosso. O embate de criaturas titânicas quase ocorre, mas é deixado para mais tarde, afinal, essa premissa única precisa ser segurada por mais dois terços de filme.
A urgência nesse filme é maior, a pressa para resolver todas as questões que assolariam a humanidade é justificável, uma vez que os dois predadores têm feito muito mais vítimas que no seu anterior, ainda mais com um deles podendo andar em terra, aterrorizando os praieiros com sua textura de glacê sabor lodo. Nigel acaba se juntando ao corpo de especialistas, formado pelo negro, pela agente governamental Hutchinson (Sarah Lieving) e por um constrangidíssimo Robert Picardo, o Doc de Star Trek: Voyager, que em nome de alguns trocados aceita interpretar o militar maníaco por charutos Almirante Calvin.
Entre muitas viagens de roteiro, o grupo decide destruir as ovas do jacaré, capturando um dos receptáculos e levando para dentro da base dos sujeitos. Após isso, decidem usar os invólucros para chamar a atenção dos monstrengos, não sem antes apresentar mais um sem número de cenas mal editadas em ambientes escuros, cuja iluminação vem das luzes avermelhadas típicas dos botões fosforescentes inerentes a qualquer instalação da marinha.
A arrogância do homem faz ele não calcular a possibilidade muito real das duas criaturas caírem na porrada em terra firme, mesmo que uma dessas partes necessite da água para se locomover – o que não é exatamente um problema, uma vez que o planeta é formado por dois terços desse elemento, mas o Mega Shark gosta de um preciosismo, e se exibe de modo pouco aconselhável pelas cidades costeiras, trazendo uma destruição enorme, que em vias secundárias, relembra a evolução milenar prevista por Darwin.
Mais uma vez quem traz a solução é o cientista de cor que insiste em falar gírias sem fim, mesmo sendo um renomado profissional. Sua ideia de atrair o tubarão por meio de uma corrente elétrica é ignóbil, mas passa a ser a melhor saída na suspensão de descrença típica da película. Após algumas conclusões bastante precipitadas, o caçador entende que o tubarão se tornou um animal nuclear. Seus pitacos prosseguem, com frases soltas de cunho óbvio, que entregam algo que o espectador é plenamente capaz de observar sozinho: os crocodilos filhotes se aproximam de onde eles estão, atraídos por aquele perigo enorme.
Juntos, os dois heróis superam seus traumas familiares, se veem diante das figuras mastodônticas. De arma em punho, eles cruzam o cenário, distribuindo chumbo e se movendo em câmera lenta, para grafar todo o heroísmo possível em suas ações, atividades belas, perpetradas por bravos homens, cuja genialidade é notada em seus argumentos completamente alucinados e sem sentido. Como mágica – e como já esperado por esse roteiro esquizofrênico – o plano de Terry dá certo, e eles fritam as criaturas malvadas. Tudo acaba bem, e mais uma vez os heróis voltam para suas casas com somente alguns arranhões, nada que um bom banho e descanso não cure. Dessa vez, as criaturas parecem ter sido sepultadas, já que a quantidade massiva de explosivos foi jogada nelas, mas o Mega Tubarão é um ser de proporções tão dantescas, que não é de se surpreender que ele faça mais mal a humanidade em um futuro próximo. Mega Tubarão vs Crocosauro é bem menos divertido que seu anterior, até por ter perdido o fator surpresa, além de acrescentar pouco a mitologia do peixe super desenvolvido, o que é uma lástima, evidentemente.