Crítica | Diana
O fingido e delicado sorriso de Diana, cercada de paparazzi, membros da imprensa e de súditos, é o símbolo da hipócrita atitude que predominava em seu cotidiano. A princesa, vivida por Naomi Watts, mostrava-se incômoda, cansada das inconveniências do cargo que exercia, da completa falta de privacidade, além das claras rugas que saltavam em seu rosto, fatores que agravavam seu estado de espírito, aproximando-se cada vez mais da depressão.
O improviso e o acaso fazem uma contraposição na regulação extrema da vida da princesa recém-divorciada com a aparição do doutor Hasnat Khan (Naveen Andrews), única pessoa capaz de fazer a realeza sorrir em meio a tempos de crise e de perseguição irritante dos fotógrafos, algo tão inconveniente para a moça quanto para o público, que sente o enfado de ver o argumento deste aspecto particular da vida da Princesa de Gales repetido tantas vezes em tela. A solução, pensada pelo novo affair da soberana, é esconder a sua identidade utilizando uma peruca, que obviamente não cobre todo o semblante da alteza, mas que causa nela uma estranha sensação de segurança e anonimato.
A popularidade e carisma de Diana fazem dela um personagem trágico, uma figura amada por seu povo mas com possibilidades mínimas de ascender ao trono. Os discursos que ela faz à imprensa passam pela bajulação ao povo britânico, assim como pela posição de assumir um papel de vitimada, de alguém injustiçada unicamente por viver segundo os próprios instintos, fugindo da preconizada figura canonizada e perfeita de uma rainha para aproximar-se da plebe, do homem e da mulher comum.
O motivo preponderante para que o romance ocorresse foi o modo como Hasnat tratou a mulher, sem reservas respeitosas a sua condição real, interagindo com ela de modo normal. O texto de Stephen Jeffreys destaca pontos de extrema obviedade, constrangendo quem assiste à obra em razão do didatismo exercido no drama particular.
Watts é exibida na indiscreta câmera de Oliver Hirschbiegel como um ser de fragilidade extrema, vulnerável como a realidade de sua biografada. Em alguns momentos, a abordagem lembra demais o método utilizado por Michelle Williams em Sete Dias com Marilyn, obra na qual a faceta não oficial de uma diva também é mostrada, sem medo de se exporem defeitos e imperfeições dos objetos de análise dos realizadores. Hirschbiegel já tinha feito algo parecido com A Queda, ainda que Hitler seja uma figura muito mais fácil de criticar do que a britânica.
Os afazeres da Lady variam entre eventos beneficentes, a luta por um maior combate à disparidade social, à fome e a proliferação de doenças na África, e, claro, a condução de seu romance que se tornou público, revelando o péssimo humor e recepção de Hasnat. Curioso como um elenco estrelado e formado por pessoas talentosas não consegue garantir tantas nuances quanto as personas exigem, culpa mais uma vez do preguiçoso roteiro, que se atrela a demasiadas soluções fáceis. A preocupação com o aspecto visual da película assinala ainda mais as muitas incongruências do texto, fazendo com que a fita pareça-se com um teatro mal executado em determinados momentos. Só faltavam placas indicando “uma tragédia se aproxima”, e por pouco nelas também estaria a inscrição “e com fotógrafos”.
A balela que predomina na realização de Diana busca resgatar a falsidade dos dias de Lady Di, especialmente nos namoros fake que protagonizava, para desviar a atenção dos seus reais sentimentos. O excesso destes eventos constitui mais um momento de cansaço extremo. Como era de se esperar, a despedida da princesa é sentimental, carregada de romantismo e idealização por parte do povo inglês. Apesar de não ter um cunho chapa-branca, o filme erra demais, exagerando na longa duração e na repetição de plots, e é inferior, e muito, às adaptações recentes de histórias que envolvem grandes personalidades, como J. Edgar, A Dama de Ferro, Lincoln e outros, fazendo de uma figura pública um objeto de um simples amor que não pôde ser plenamente concebido, caindo em uma armadilha desnecessariamente piegas.