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  • Crítica | A Queda! As Últimas Horas de Hitler

    Crítica | A Queda! As Últimas Horas de Hitler

    No ano de 2004, chegava aos cinemas mundiais o filme A Queda! As Últimas Horas de Hitler, longa de Oliver Hirschbiegel que tinha a difícil tarefa de retratar os momentos finais da trajetória do Fuhrer, da maneira mais fiel possível. Grande parte do êxito disso se dá pela interpretação de Bruno Ganz como o tirano austríaco, onde o ator se dedica de maneira visceral ao papel, sendo parecido não só em aparência mas também em trejeitos e comportamento. Depois de um intenso trabalho de pesquisa com vídeos da época e com relatos de quem esteve próximo do político ele chegou ao ideal visto em tela.

    A historia é narrada pelos olhos de Traudl Junge (Alexandra Maria Lara), uma mulher que recém assumiu como secretária de Hitler. Há uma construção de normalidade politica no inicio, que faz o filme soar até moroso de tão lento que é, mas isso é extremamente necessário, pois a ideia de mostrar os bastidores  de como era o principal país do Eixo.

    Uma grave situação envolve o médico e oficial Prof. Ernst-Günther Schenck, que é interpretado por Christian Berkel. Sua inserção na trama se dá quando os militares estão se livrando das provas documentais, fazendo uma bagunça nas partes internas dos quartéis se livrando de papelada para queimá-las atrapalhando obviamente todo o trabalho de manutenção de mantimentos das tropas. Os soldados ficariam sem suprimentos, sem comida e essa preocupação foi dita por Schenck, que vai falar com outro oficial da parte operacional. A condição de não ter comida não era uma preocupação do partido nazista e de suas lideranças, e por mais explicito e didático que o roteiro de Bernd Eichinger seja nesse quesito, é um ponto importante de ser levantado, afinal, deflagra a total falta de compromisso com as tropas, e com os civis, pois os soldados certamente roubariam a comida destes para não padecerem de fome.

    O visual do filme se vale de uma cenografia e fotografia onde predominam tons mais claros, que facilitam a visualização de toda a grandiosidade visual que o Terceiro Reich tentava imprimir no detalhes de sua arquitetura e na construção do visual de seus líderes. Chega a ser irônico o contraste entre toda esse verniz que foi jogado em cima dos líderes nazistas com os ambientes mal acabados dos corredores dos bunkers, que obviamente não tinham o mesmo cuidado em serem construídos, pois eram abrigos de emergência.

    O contraste entre a alegria de Eva Braun (Juliane Köhler), dançando mesmo ao ter a noticia de que a Alemanha poderia cair e os  bombardeios que acontecem minutos depois as bases onde o exercito alemão está é impressionante. Não acontecem mortes gráficas, como nos filmes dirigidos por Mel Gibson, mas há apego a realidade o suficiente para que o espectador sinta que a situação é de calamidade.

    Adolf se sente sempre traído e injustiçado. Os soldados que desistem são chamados por eles de covardes e traidores da pátria o que demonstra mais uma vez o total distanciamento dele com relação as tropas e o desapego ao bem estar do povo, não só o civil como visto anteriormente, mas também aos alistados. Essa alienação e indecência moral é muito vista em lideranças autoritárias que emergiram recentemente e é catastrófico o rumo histórico que os países tomam, elevando figuras semelhantes a essa versão que normalmente sobre ao poder utilizando um discurso completamente inverso a isto, com foco no combate a corrupção e primando por caça a minorias.

    A Queda termina de maneira melancólica obviamente, dando o destino de cada um dos personagens que o publico acompanhou pelos quase 150 minutos de duração, mostrando a personagem que foi entrevistada para fazer o filme declarando que apesar de lamentar pelo numero absurdo de mortes que ocorreram na época, não poderia se sentir responsável por aquilo, dada a natureza burocrática de seus serviços, e isto é bastante simbólico, pois reflete o pensamento e o argumento geral de quem esteve ao lado do poder enquanto os governos tirânicos ocorriam, onde normalmente ocorria a ignorância aos fatos óbvios e aos acontecimentos nefastos praticados pelo poder em si, e apesar da linguagem visual se assemelhar demais aos especiais de televisão, a mensagem do roteiro é muito bem transmitida.

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  • Crítica | 13 Minutos

    Crítica | 13 Minutos

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    Baseado em fatos reais – com roteiro de Léonie-Claire Breinersdorfer, Fred Breinersdorfer e direção de Oliver Hirschbiegel – o filme conta a história de Georg Elser (Christian Friedel), um carpinteiro nascido em Hermaringen, Württemberg, opositor do nazismo, conhecido por sua tentativa frustrada de assassinar Adolf Hitler.

    Em 8 de novembro de 1939, durante o discurso de aniversário de Hitler, uma bomba explode no Munich Bürgerbräukeller, bem atrás de onde o Führer discursava, matando oito pessoas. Pouco antes, um homem, Elser, havia sido preso na fronteira suiça, portando objetos suspeitos – um mapa e detonadores. Ele é então levado à Gestapo para ser interrogado. Como já é sabido, sua tentativa falhou – Hitler havia deixado o local 13 minutos antes da explosão.

    Durante dias, Elser é interrogado pelo chefe da Polícia Criminal no Reichssicherheitshauptamt, Arthur Nebe (Burghart Klaußner), e pelo chefe da Gestapo, Heinrich Müller (Johann von Bülow). Inicialmente, Elser nega-se a responder e quando, finalmente, Nebe e Müller encontram um gatilho que o faz falar, ninguém acredita que ele tenha agido sozinho. Enquanto Elser está detido sendo interrogado e torturado, vai relembrando os eventos de sua vida que culminaram naquela ação contra o Führer.

    O início do filme é bastante promissor. O espectador acompanha, numa sequência totalmente sem diálogo ou qualquer tipo de narração, a instalação do que depois se percebe que é uma bomba. E só depois de finalizada a montagem é que o protagonista é apresentado. Quando o espectador percebe o que Elser está planejando, a empatia com o personagem e sua motivação é imediata. Após a prisão de Elser, quando se inicia o interrogatório, esse fluxo de ação se interrompe. A inserção recorrente dos flashbacks é cansativa, além de fazer uso de uma estrutura que se repete: algo importante ocorre durante o interrogatório que deflagra uma lembrança da vida do protagonista. E muitos desses eventos rememorados sequer têm importância para o desenvolvimento do pensamento anti-nazista de Elser. Boa parte deles foca na vida amorosa do personagem, num melodrama desnecessário.

    Se a cena inicial consegue imergir o espectador no filme instantaneamente, o restante do filme não consegue chegar nem perto. A cenografia e o guarda-roupa são bastante fiéis à época, mas o elenco é incapaz de convencer o espectador de que aquela história se passa em 1939. Talvez seja falha do roteiro, talvez da direção, ou um pouco de cada. Mas exceto pela boa performance de Friedel, são todos pouco convincentes em seus papéis.

    Em certo ponto, a narrativa parece que irá seguir o caminho do “E se…”. E se o plano de Elser tivesse funcionado? E se um nevoeiro não tivesse feito Hitler sair antes do previsto? Mas é apenas um vislumbre. Logo depois que Elser resolve começar a falar, o roteiro explora um pouco a incredulidade dos oficiais quanto ao fato de ele ter feito tudo sozinho. E esse seria outro caminho interessante a ser seguido – a necessidade de se obter uma informação que não existe. Contudo, de uma hora para outra, eles se convencem e a trama caminha rapidamente para um desfecho totalmente previsível mesmo para quem não conhece a história de Elser.

    Vale pela lição de história pois provavelmente a maioria das pessoas sequer sabia da existência de Elser. E possivelmente, achavam também que o único atentado à vida de Hitler foi aquele engendrado por generais, evento contado no filme Operação Valquíria, de 2008.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

  • Crítica | Diana

    Crítica | Diana

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    O fingido e delicado sorriso de Diana, cercada de paparazzi, membros da imprensa e de súditos, é o símbolo da hipócrita atitude que predominava em seu cotidiano. A princesa, vivida por Naomi Watts, mostrava-se incômoda, cansada das inconveniências do cargo que exercia, da completa falta de privacidade, além das claras rugas que saltavam em seu rosto, fatores que agravavam seu estado de espírito, aproximando-se cada vez mais da depressão.

    O improviso e o acaso fazem uma contraposição na regulação extrema da vida da princesa recém-divorciada com a aparição do doutor Hasnat Khan (Naveen Andrews), única pessoa capaz de fazer a realeza sorrir em meio a tempos de crise e de perseguição irritante dos fotógrafos, algo tão inconveniente para a moça quanto para o público, que sente o enfado de ver o argumento deste aspecto particular da vida da Princesa de Gales repetido tantas vezes em tela. A solução, pensada pelo novo affair da soberana, é esconder a sua identidade utilizando uma peruca, que obviamente não cobre todo o semblante da alteza, mas que causa nela uma estranha sensação de segurança e anonimato.

    A popularidade e carisma de Diana fazem dela um personagem trágico, uma figura amada por seu povo mas com possibilidades mínimas de ascender ao trono. Os discursos que ela faz à imprensa passam pela bajulação ao povo britânico, assim como pela posição de assumir um papel de vitimada, de alguém injustiçada unicamente por viver segundo os próprios instintos, fugindo da preconizada figura canonizada e perfeita de uma rainha para aproximar-se da plebe, do homem e da mulher comum.

    O motivo preponderante para que o romance ocorresse foi o modo como Hasnat tratou a mulher, sem reservas respeitosas a sua condição real, interagindo com ela de modo normal. O texto de Stephen Jeffreys destaca pontos de extrema obviedade, constrangendo quem assiste à obra em razão do didatismo exercido no drama particular.

    Watts é exibida na indiscreta câmera de Oliver Hirschbiegel como um ser de fragilidade extrema, vulnerável como a realidade de sua biografada. Em alguns momentos, a abordagem lembra demais o método utilizado por Michelle Williams em Sete Dias com Marilyn, obra na qual a faceta não oficial de uma diva também é mostrada, sem medo de se exporem defeitos e imperfeições dos objetos de análise dos realizadores. Hirschbiegel já tinha feito algo parecido com A Queda, ainda que Hitler seja uma figura muito mais fácil de criticar do que a britânica.

    Os afazeres da Lady variam entre eventos beneficentes, a luta por um maior combate à disparidade social, à fome e a proliferação de doenças na África, e, claro, a condução de seu romance que se tornou público, revelando o péssimo humor e recepção de Hasnat. Curioso como um elenco estrelado e formado por pessoas talentosas não consegue garantir tantas nuances quanto as personas exigem, culpa mais uma vez do preguiçoso roteiro, que se atrela a demasiadas soluções fáceis. A preocupação com o aspecto visual da película assinala ainda mais as muitas incongruências do texto, fazendo com que a fita pareça-se com um teatro mal executado em determinados momentos. Só faltavam placas indicando “uma tragédia se aproxima”, e por pouco nelas também estaria a inscrição “e com fotógrafos”.

    A balela que predomina na realização de Diana busca resgatar a falsidade dos dias de Lady Di, especialmente nos namoros fake que protagonizava, para desviar a atenção dos seus reais sentimentos. O excesso destes eventos constitui mais um momento de cansaço extremo. Como era de se esperar, a despedida da princesa é sentimental, carregada de romantismo e idealização por parte do povo inglês. Apesar de não ter um cunho chapa-branca, o filme erra demais, exagerando na longa duração e na repetição de plots, e é inferior, e muito, às adaptações recentes de histórias que envolvem grandes personalidades, como J. Edgar, A Dama de Ferro, Lincoln e outros, fazendo de uma figura pública um objeto de um simples amor que não pôde ser plenamente concebido, caindo em uma armadilha desnecessariamente piegas.