Tag: New York Knicks

  • Crítica | June 17th, 1994

    Crítica | June 17th, 1994

    De Brett Morgen, lançado em  2010  June 17th, 1994 é um documentário sobre o meio do ano de 1994, começando seu “drama” através de um discurso de OJ Simpson, em meio a época do assassinato a que foi acusado, logo depois as atenções se voltam para os New York Ranges, time da NHL que  seria campeão  por aquela época, variando entre datas daquele junho para retomar a história do ex- jogador de futebol e também para se dedicar um pouco a mostrar as glórias do belo time do New York Knicks de Patrick Ewing.

    O caráter ‘andrógeno” do filme  o faz atirar para mais de uma direção, e por mais confuso que isso possa parecer em premissa, há uma organização própria, acompanhada de um certo charme e riqueza na intenção de explorar uma época muito peculiar e rica em polêmicas e em louvores esportivos, ainda que se explore todo um mundo além dos campos de jogo, quadras e certames de gelo.

    A edição de Andie  Grive se vale do artifício de jogar muita informação em tela. Há um número onde  os jornais televisivos locais e nacionais são intercalados, repercutindo o caso judicial de Simpson, obviamente não tão rico quanto em OJ : Made in America, afinal é esse um episodio de apenas 50 e poucos minutos,  mas mostrar a variação entre a cobertura jornalística do caso e dos outros tentos esportivos, incluindo a Copa de 94 vencida pelo Brasil de Romário ajuda a perceber qual era a sensação geral dos cidadãos dos Estados Unidos na época.

    Realmente parecia ser um tempo festa, havia uma alegria estampada no rosto de Bill Clinton em celebrar a abertura da Copa, e é engraçado e curioso ver todo o otimismo da época, diante de tragédias morais e éticas que pautariam os Estados Unidos dali para frente. Talvez o filme mais conhecido dos recentes na filmografia de Morgen seja Cobain: Montage of Heck, e entre esse e June 17th há a coincidência do tom sentimental, levado pelo ritmo dos noticiários mostrados e organizados pela edição.

    Morgen usa um argumento metalinguístico para justificar a variação entre os assuntos, através da tentativa de fura de OJ, que ao ser acompanhada pelas câmeras, embaralhava o sinal e as micro ondas de transmissão,  deixando a transmissão instável, tornando a zapeada dos canais mais plausível. A sequência é acompanhada de uma música instrumental sentimental, e esse momento ápice e de clímax “contamina” todo o filme, que tal qual como foi a realidade daquela época,  desviava o olhar daquela tragédia ao acompanhar Houston Rockets e Knicks pelas fases finais da NBA, inclusive e poetizando sobre os melhores jogadores de basquete disputando  em quadra um titulo, em comparação com o antigo vencedor do futebol, tentando fugir e (quase) assumindo sua culpa neste ato

    Os assuntos como a greve na liga de baseball (MLB), a carreira de golfista de Arnold Palmer, os Knicks perdendo a chance de quebrar um jejum que vinha desde 1973 (e perdura até hoje, em 2019), o Rangers vencendo a Stanly Cup quebrando o jejum desde os anos 40 são todos elementos coadjuvantes na memória de quem viveu aquele junho de 1994, mas ajudam a compor o retrato de uma época em que mesmo o pão e circo do cenário esportivo de Nova York não foi suficiente para anestesiar uma nação que via um ídolo seu cometer uma atrocidade, assim como também não influíram na não condenação do mesmo. A sensação de impotência em alguns pontos se apodera do espectador, ainda que não haja tempo ou fôlego para grandes reflexões, Morgen manipula bem as sensações de quem assiste seu filme, brincando com a anestesia típica de quem usa o esporte como válvula de escape, mas condenando também que utiliza isso como ópio.

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  • Crítica | When The Garden Was Eden

    Crítica | When The Garden Was Eden

    Documentário do programa 30 for 30 dos canais internacionais da ESPN, When the Garden Was Eden é um filme de 2014, dirigido por Michael Rapaport que se dedica a relembrar o período de glórias do New York Knicks da década de 70 do século passado, tempo de glorias bem diferente das terríveis e recentes época do Knicks, que é incapaz há alguns anos de produzir um basquete competitivo e de contender na NBA.

    O começo do filme registra uma tomada aérea, acompanhado de uma gravação de rádio, que fala a respeito de como se forma um time de basquete vencedor, onde se fala a respeito de garra, raça e talento, e o time de NY era tão ovacionado quanto bandas de rock populares, dado o frisson que eles causavam em público e crítica. O time de Bill Bradley, Jerry Lucas, Willis Red, Dick Barnett, Dave DeBusschere, Earl Monroe era histórico, possuía seis All Star e brilhavam muito no cenário cultural de Nova York. O filme de Rapaport faz questão de mostrar a efervescência da Big Apple, situando que aquele time era só um aspecto daquela cultura.

    Décadas antes, os Knicks não era vencedores. Nos anos 60 a NBA não era o produto que era atualmente, e o Madison Square Garden, cenário principal da franquia era mais lotado pelos jogos de basquete universitário do que pelos jogos dos profissionais. Isto na época era um fenômeno absurdo, pois o basquete universitário era mais popular até do que o futebol americano da categoria aquela época, já que hoje, está longe de ser, até porque há quem diga que os campeonatos da NCAA de Football tem mais fãs e adeptos até do que a NBA.

    Um dos maiores méritos do documentário é situar o espectador de como o esporte funcionava na época, como ele se encaixava na economia da época, e não tem receio sequer de mostrar como uma nação tão conhecida por seu conservadorismo lidava com a questão da popularização das drogas. Ainda que ele não associe tanto a figura dos esportistas a utilização de drogas, há um sem número de sugestões dessa pecha, e isso realmente pesava para que essas competições não fossem tão abraçadas por imprensa, possíveis anunciantes etc.

    O filme detalha bem a entrada de algumas estrelas, como Walt Frazier, que foi a primeira escolha no draft de seu ano, Phil Jackson que veio de North Dakota e era um monstro defensiva mesmo em uma época que não se valorizava tanto assim a defesa, e Bill Bradley que rivalizava com os astros Bill Russell e Wilt Chamberlain,  É curioso como se exploram detalhes íntimos e pessoais dos jogadores, como o fato de Bradley ainda ter cursado dois anos de faculdade antes de aceitar jogar na NBA, pontuando ele como a esperança branca do basquete dos Estados Unidos, e que chegaria até a se candidatar a presidência da república nos anos 2000. Também é mostrado Jerry Lucas, e se explana bastante o método de Red Holzman, o treinador, que não distinguia negros de brancos em seu time, mas que também agiu de maneira autoritária com alguns de seus subordinados, desviando esses de discussões progressistas e igualitárias.

    Em se tratando de um documentário que fala sobre um time dos anos setenta, é natural que os entrevistados já estejam bem idosos (quando não membros dessa equipe já estão mortos), o que é impressionante é que as historias são tão marcantes que a memoria de cada um deles é bem viva, em cada caso. Os méritos deles contra o trio do Los Angeles Lakers Wilt, Jerry West e Elgin Baylor são sempre lembrados, com os Knicks soberanos sobre o Big Three, só é uma pena que a maioria das imagens de arquivo tenham uma nitidez pífia. Até os momentos de transmissão não coloridos, anteriores aos tempos de gloria do time da Big Apple são melhores que os do auge em si.

    As intervenções de Rapaport são cirúrgicas, ele aparece na frente das câmeras entrevistando os que fizeram parte daquele time mágico, todos já bem velhinhos, e é curioso como ele traz parte de seu background para dentro do filme. Nos EUA ele é conhecido por seu trabalho como comediante stand up sobretudo em Los Angeles, mas suas raízes nova iorquinas jamais foram deixadas de lado, e se nota isso neste 30 for 30, que prima por um ritmo ágil e por um roteiro bem leve e engraçado, que mesmo deusificando seus objetos biográficos, o faz com bastante leveza. Ele está no ar com a série da Netflix Atypical, e infelizmente tem feito poucas aparições como realizador, executando alguns curtas ou poucos episódios de séries pouco conhecidas dos Estados Unidos.

    Os momentos finais não são tão empolgantes quanto o início, até porque se dedicam a mostrar a rivalidade da época contra o Boston Celtics, que era o time da conferência a ser batido, daí se perde um pouco o foco na franquia que realmente importa, mas ao menos, valoriz a longevidade do grupo, e os títulos que vinham, e dá o destino dos que formaram aquela equipe, em que carreiras eles incorreram e como seguiram suas vidas após pararem de jogar, os artistas que ganharam tantos títulos, traçando também um bom panorama político da época, sem receio de fugir do caráter chapa branca, já que explora bem as questões envolvendo Cazie Russell e a proibição dele de repercutir dentro do grupo as terríveis acusações racistas que sofreu. When The Garden Was Eden é prodigioso ao louvar os feitos dos Knicks, que durante essa época, foram soberanos, mais vencedores que os times da cidade no Baseball e Futebol, distantes demais da atualidade sem força nas ultimas temporadas do campeonato americano de basquete.

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  • Crítica | Winning Time: Reggie Miller vs The New York Knicks

    Crítica | Winning Time: Reggie Miller vs The New York Knicks

    Documentário 30 for 30 da Espn, conduzido por Dan Klores, Winning Time: Reggie Miller vs The New York Knicks aborda um jogo (na verdade, uma série de jogos) lendário, focado bastante nesse primeiro confronto de semifinais da Eastern Conference (também conhecida como Conferência Leste), entre o Pacers e Knicks, no ano de 1995. Nesse início, antes mesmo de se falar da personalidade forte de Miller, há um lembrete, de ele, o ala-armador de Indiana tentou cumprimentar John Starcks, jogador do adversário pelos idos do mata-mata, mas não recebeu o mesmo tratamento cordial dele.

    Reggie é tratado como um dos maiores manipuladores do jogo em quadra em sua época, e não é à toa. Ele evocava o pior do temperamento de seus adversários, mas a irritação que ele causava era (supostamente) fruto de sua qualidade em quadra, embora alguns adversários declarem que odeiam ele, como Patrick Ewing, que até afirma que o odiava. A realidade é que ele chegou a irritar até Michael Jordan. Ele fingia falsas contusões, atrapalhava a visão do adversário em quadra  estendendo a mão aberta sobre o rosto dos  rivais, falava o tempo todo praticando o famigerado trash talk. – esse .Um dos principais alvos disso, foi Starcks, que saiu do jogo exatamente por perder a cabeça contra ele durante os confrontos.

    Miller era um sujeito bem engraçado, ele afirma na frente das câmeras, na época que é um cara bom, mas no documentário afirma que se soubesse que a mãe de Starcks reclamou com Ewing sobre ele ser violento com seu filho, certamente usaria isso demais em quadra. A realidade é que o ala-armador era amado pelos seus, apesar de todos os pesares. Antes de se profissionalizar, ele era mais conhecido por ser irmão de Cheryl Miller (que aliás, é uma das entrevistadas também, junto a  Ewing e o próprio Reggie), que era uma promissora jogadora. O dirigente que escolheu Reggie no draft foi até ameaçado de morte, pois a expectativa era que se trouxesse Steve Alford, que era de Indiana, que por sua vez, era um rapaz branco, carismático, com pose de bom moço e que certamente seria o casamento perfeito com o time. Não demorou muito para se reverter esse quadro e essa parte do filme conversa bem com outro 30 for 30, This Magic Moment, no momento que se fala da contratação de Penny Hardaway, escolhido pelo Orlando Magics e que também se tornou ídolo da franquia. Essa era historia meio comum na NBA, de figuras rejeitadas darem a volta por cima e sem muita demora.

    O filme  resgata muito da memória dos anos 80 nos Knicks, da época das vacas magras até o draft em que Ewing foi a escolha primaria e reforçou o time de Nova York, e esse panorama é importante de ser estabelecida até para entender o barril de pólvora que foi toda essa luta, e incrivelmente o filme consegue explicitar muitos aspectos bem diferentes em apenas 69 minutos, que são inteiramente divertidos, especialmente quando mostra a briga entre Reggie e Spike Lee, diretor de cinema fanático pelo Knicks e que ficava a beira da quadra brigando com o ala. Os dois elevaram a rivalidade a um nível tão alto, que fizeram uma aposta, se Knicks vencesse, Reggie teria q visitar Mike Tyson na prisão , se Indiana passasse, a esposa de Miller teria um papel no próximo filme do cineasta, e toda essa gracinha torna ainda mais hilário o filme, cujo formato é bem engraçado, mostrando essas “briguinhas” de maneira dinâmica, aumentando a expectativa do duelo de titãs que ocorreria entre as duas franquias.

    A provocação de Lee gerava controversia, especialmente depois que Reggie “venceu”. Para os apoiadores do Paces, a provocação do cineasta soava como a dos garotos ruins de bola, que ficavam do lado de fora enchendo quem estava em quadra. Para a imprensa – o Daily News deu  isso na capa – Spike atrapalhou o time, ao irritar e inspirar Miller a jogar de maneira matadora, pois esse elemento externo que ele era e a encheção de paciência extrapolava o direito dele de pagar mais caro para estar próximo do jogo. Ele respirava o mesmo ar dos times, mas não suava o mesmo suor, mas tinha privilégios, e evidentemente que isso tem repercussão fora de quadra. Lee, ao ir em Indiana foi muito hostilizado, e para ele, isso era fruto (também) de Indiana ser o berço da Ku Klux Klan e que isso ajudaria a explicar o tamanho da raiva da torcida adversária a si, com proporções de ódio exageradas ou não,  ele se prontificou a ir para o jogo.

    O ala armador continua sendo considerado o único adversário dos Knicks nos 7 jogos, o responsável pela derrota ou pela vitória , mas sua influencia emocional ia muito além até da desestabilização emocional de Starks (que em um dos jogos, errou uma série grande de lances livres que poderiam lhe dar a vitória), pois num ultimo momento, até Ewing erra, ao bater a bola da virada no aro, indo para fora a chance de titulo em cima de Miller e do Knicks. Winning Time é um filme que transborda carisma, mostra um personagem rico, inteligente, amado e odiado – bem diferente de Christian Laettner, protagonista de I Hate Christian Lattener, outro excelente documentário – e fala um bocado sobre duas franquias que desde essa época, não tiveram títulos, ou grande disputas, e essa riqueza de detalhes ajuda a explicar um pouco da mitologia em volta da NBA que vai muito além de finais e títulos, dando voz a pessoas e times normalmente excluídos dos maiores holofotes do basquete americano.

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