Crítica | O Homem Nas Trevas
O uruguaio Fede Alvarez ganhou certa notoriedade em 2009, quando seu curta-metragem, Ataque de Pânico, viralizou pela Internet. Um tempo depois, o trabalho do diretor — que até então só tinha curtas-metragens em seu currículo, chamou a atenção de Sam Raimi e os dois iniciaram uma parceria para trazer à tela grande uma mistura de remake com reboot de A Morte do Demônio, um clássico absoluto do gênero. Embora Alvarez tenha sido competente em sua direção, principalmente no que diz respeito a efeitos práticos e situações bem gráficas como a chocante bifurcação na língua de uma personagem, A Morte do Demônio não convenceu os fãs do original, não agradando, também, aqueles que não conheciam a franquia.
Contudo, Alvarez ganhou uma segunda chance num projeto totalmente autoral em que divide o roteiro com seu fiel escudeiro, Rodo Sayagues, que também assina quase todos os projetos em que o uruguaio esteve envolvido. Essa segunda chance é o ótimo O Homem Nas Trevas.
A premissa do filme é bem simples e logo já podemos perceber que a protagonista, Rocky (Jane Levy), junto de seu namorado, Money (Daniel Zovatto) e de seu amigo, Alex (Dylan Minnette), formam uma quadrilha que assalta casas na cidade onde moram e veem num homem cego (Stephen Lang), veterano de guerra, a possibilidade de levantarem dinheiro suficiente para nunca mais cometerem nenhum tipo de delito, visto que o homem recebeu uma ótima indenização pela morte de sua filha, envolvida num acidente de carro.
Aqui, Alvarez possui duas cartas na manga, sendo que, a primeira delas foi a sua capacidade de dirigir o pequeno elenco com uma competência ímpar, haja vista a simplicidade do roteiro que acaba por desenvolver uma história que cresce a cada minuto, surpreendendo o expectador em vários momentos, sendo que, no mais, a direção é bem “redonda”, fazendo a tarefa de casa de forma competente no que diz respeito a fazer um filme de suspense/terror, já que temos os closes nos rostos apavorados dos personagens, sem mostrar a ameaça em potencial; aqueles sustos que nos fazem pular na cadeira; algumas doses (comedidas) de violência e, por fim, suspense. Muito suspense, o que faz soar justo o título original do filme, chamado Don’t Breathe, que, traduzindo para o português, seria Não Respire.
A segunda carta na manga do diretor é o ator Stephen Lang, o personagem cego.
Lang é um nome que figura há anos nos casts de filmes e seriados em Hollywood e ficou conhecido por ser o principal vilão em Avatar, interpretando um personagem que qualquer um poderia interpretar, mas que se supera em O Homem Nas Trevas, fazendo com que seu personagem, amargurado pela morte da filha, também soe justo ao título do filme em português. Uma grata surpresa que pode render, inclusive, uma indicação de Melhor Ator ou Melhor Ator Coadjuvante no Oscar a ser realizado em 2017.
Se você é fã do gênero, O Homem Nas Trevas é obrigatório. Caso você não seja, o filme merece uma atenção especial mesmo assim, dado que não se observa nenhuma aresta a ser aparada.
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Texto de autoria de David Matheus Nunes.