Crítica | The Pirate Bay: Longe do Teclado
Por trás do maior site de compartilhamento de conteúdo da internet, o documentarista Simon Klose segue os suecos Peter Sunde, Fredrick Neiji e Hottfrid Swartholm, fundadores do Piratebay. Segundo os próprios, o provedor possui 25 milhões de usuários, entre pessoas que sobem os arquivos em torrent e quem os baixa.
O filme trata do julgamento dos três envolvidos, e de qualquer outro associado ao Piratebay. O processo movido contra eles tem em seu caráter o desesperador apelo dos grandes estúdios (Warner, Columbia, Fox, entre outros) motivado pelo prejuízo que o site de compartilhamento causou a estes, diminuindo as bilheterias, as vendas de produtos derivados, tudo através da violação dos direitos autorais, causando mal a população mundial. As alegações foram muitas e faltou pouco para associar a figura dos três a propagação também do satanismo.
De forma superficial, o documentário mostra como a geração atual de usuários da grande rede enxerga o copyright e o quanto isto deixou de ser sagrado. Pontuando que a geração anterior foi instruída a enxergar o consumo dos produtos culturais de forma diferenciada e canônica. Com atitudes ligadas ao modo correto de viver, em um pensamento quase tão catedrático e fanático quanto o presente nas ideologias fundamentalistas religiosas. O objetivo de Klose é registrar o julgamento e seus bastidores, pois outras obras já haviam aprofundado a discussão dos direitos autorais violados (a série Steal this Film, de J J King).
O documentário é um gênero cinematográfico que precisa de fatos para provar um argumento. É a verdade mostrada sobre um ponto de vista parcial. O argumento que o realizador tenta validar é a desmistificação da teoria da conspiração que as empresas multinacionais levantavam a respeito da ligação do TPB com conglomerados rivais, ainda mais quando a maioria dos estúdios – se não todos – se sentem lesados pelo site. A base de operações do grupo, em um escritório com condições paupérrimas, nunca era admitida como o possível local de tanta exploração de trabalho alheio e apropriação indevida do lucro. O anacronismo e alienação da indústria é a pauta secundária mais abordada, depois da intimidade dos acusados.
Ao falar em uma feira de exposição, Peter Sunde é registrado pela câmera em um telão, ao lado do host do evento. Graças a projeção mal enquadrada, ele parece gigante ao lado do homem, e a lente o flagra dessa forma, desproporcional em relação ao resto da humanidade. Um dos depoentes, amigo de Sunde, afirma que após a Guerra Fria os EUA precisavam inventar novos inimigos que não poderiam matar, e o TPB era a bola da vez. No entanto a grandeza de Sunde e seus colaboradores cai por terra nos últimos momentos da película, onde se registra a prisão dos três criadores do site.
O tom do final é absolutamente pessimista, apesar dos últimos depoimentos de Peter diante de uma grande mesa, composta por pessoas de várias nacionalidades. A última frase antes dos créditos é um apelo, para que o arquivo de vídeo seja compartilhado (Please share this film online) e para que a filosofia nele mostrada também passe adiante.