Crítica | ReMastered: O Diabo na Encruzilhada
Para os ouvintes assíduos de blues, um homem gera questionamentos e mistérios há décadas: Robert Johnson. Um verdadeiro mestre na arte da música, Johnson possuía um jeito ímpar de tocar seu violão. Uma técnica incompreendida na época (e por muitos até hoje). Tão misteriosa quanto sua técnica foi a vida do bluesman. Nascido no Mississipi nos primórdios do século XX, pouco se tem registrado além das 29 músicas gravadas, certidão de óbito e pouquíssimas fotografias.
Fazendo uma verdadeira exumação da história, a Netflix produziu o documentário O Diabo na Encruzilhada (Devil At The Crossroads), título diretamente ligado à maior lenda envolvendo o músico: teria ele vendido sua alma ao Diabo em troca da famigerada técnica musical? Esta lenda torna-se mais verossímil à medida que o documentário, dirigido por Brian Oakes, avança em seus quase 50 minutos. Havia todo um contexto cultural e social da época envolvendo o forte cristianismo da região, que constantemente taxava o blues como “música do Diabo”. Afirmação esta corroborada constantemente pelos participantes do documentário, que vão de músicos a especialistas em cultura afro-americana. Talvez este seja um dos poucos elementos negativos do filme, visto que existe uma vontade quase fanática-religiosa de bater nessa tecla de “os cristãos demonizavam o blues”. Mesmo sendo verdade, houve uma certa forçação de barra para salientar esse ponto e, com isso, fortalecer a lenda da encruzilhada. Nada que desqualifique as demais qualidades da obra.
Para quem não conhece a lenda, Robert Johnson sumiu por cerca de um ano, e quando reapareceu, estava com uma técnica musical extraordinária (até aqui é fato). Juntando este ponto às diversas referências em suas letras, Robert teria ido até uma encruzilhada, encontrado o Diabo, e lá o capiroto pegou o violão de Johnson e o afinou. “O violão por sua alma. Negócio fechado?”, e o resto é história (ou mito).
Além dos especialistas em cultura afro-americana e diversos músicos, dentre eles o imortal Keith Richards, temos os depoimentos do neto e do filho de Robert Johnson. Mesmo que não haja esclarecimentos contundentes da história, foi feito um belo apanhado do que temos disponível sobre o bluesman. E claro, muita música por conta dos participantes e da trilha sonora do documentário. A dinâmica do filme é muito boa, não ficou tão engessada naquele formato padrão de documentários. Há os depoimentos, claro, mas estes são intercalados e até sobrepostos a cenas externas e animações muito bacanas, fazendo com que o depoente se torne um narrador momentâneo. Com isso, os 50 minutos passam rápido.
ReMastered é uma série de documentários com diversos já disponíveis na Netflix.
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