Resenha | Primeiros Dias do Verão Eterno – Roger Lombardi
Primeiros Dias do Verão Eterno (Editora Patuá), do escritor paulista Roger Lombardi é um agradável livro de contos que aviva o tema do estranhamento, do fantástico, do misterioso, assuntos significativos na Literatura Brasileira (latino-americana, principalmente) e resgata nomes como Murilo Rubião, Campos de Carvalho, mas até Machado de Assis, Aluísio Azevedo, Júlia Lopes de Almeida e Bernardo Guimarães.
Mas vamos nos ater aos vivos. O livro de Lombardi nos apresenta 8 contos reunidos pela costura do estranhamento. Efeito dos mais potentes, em Literatura, as histórias extraordinárias (para fazer um paralelo com Poe), têm o poder de nos lançar um novo olhar ou entendimento sobre uma situação aparentemente normal ou corriqueira. E o autor faz isso muito bem em seus textos. Logo no primeiro conto “A macieira”, uma árvore dada a Josué por, ele acredita, Deus, desperta toda a vaidade do homem a ponto de ele se tornar um assassino a sangue frio de quem ousa tomar aquelas maçãs.
Em “A cadeira”, na minha opinião o melhor do livro, as pessoas ficam em estado vegetativo ao se sentar em uma aparentemente simples cadeira em estilo barroco. Lombardi cria uma atmosfera incomum que gradualmente vai conquistando a ansiedade do leitor porque o mistério do móvel parece insolúvel e mirabolante. O desenvolvimento da trama é sólido, conciso, e passaram por minha cabeça Edgar Allan Poe, H. P. Lovecraft e principalmente “Ficções”, de Jorge Luis Borges.
Aliás, sobriedade talvez seja uma das grandes qualidades do livro. Mesmo em histórias insólitas, não se pode colocar um dragão ou outro animal fantástico sem qualquer explicação na sala de jantar. O risco é o escritor se empolgar com a figura mencionada e esquecer de contar a história por trás daquele acontecimento. Em “A carona”, por exemplo, Lombardi se utiliza da figura de um anjo, contudo, diminui sua importância para que nos esqueçamos dele ou duvidemos que seja de fato um ser celestial. O efeito funciona porque, quase ao fim do conto, com a expectativa baixa do leitor, o autor utiliza o potencial do seu personagem fantástico para criar um final impactante e não premeditado. Os desfechos são o ponto forte; as histórias terminam com o gancho de Julio Cortázar.
Contudo, tenho que deixar claro que algumas coisas poderiam ser melhoradas. O livro conta com alguns erros de revisão que acabam funcionando como quebra-molas inesperados da leitura; outras vezes peguei alguns trechos com rima ou eco entre as frases e isso não é muito agradável tendo em vista que uma das qualidades de uma boa escrita é a variabilidade de palavras utilizadas.A impressão é que embora os textos estejam bem estruturados com começo, meio e fim, com a temática bem costurada e precisos ao atingir seu efeito, alguns contos parecem mais acabados para alcançar todo o seu potencial. “A macieira” e “O oficial”, por exemplo, me pareceram menos trabalhados que as outras histórias.
Este é o segundo livro de Lombardi e espero que o autor continue por esta vereda. Livro indicado para leitores do insólito e para quando notamos nossa cabeça embaralhada demais com o evidente cotidiano que nos atinge. Autores e leitores do incomum, uni-vos.
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Texto de autoria de José Fontenele.
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