Review | Star Trek Discovery – 1ª Temporada (Parte 2)
A Uss Discovery entrou em uma dimensão diferente, longe do destino em que estavam, no episódio 9 da parte 1 da temporada de Star Trek Discovery, Into the Forest I Go. Com quatro minutos decorridos de Despite Yourself, o capitão Lorca (Jason Isaacs) percebe o obvio, que eles não estão no universo prime, e sim no chamada realidade do espelho, conceito introduzido em Jornada nas Estrelas: A Série Classica.
Curiosamente esse retorno é conduzido por Jonathan Frakes, que originalmente era o intérprete de Riker em Jornada nas Estrelas: A Nova Geração, mas que foi também diretor nesta série, em derivados e em dois dos filmes oficiais. Talvez por isso esse seja um capitulo que faz lembrar demais os conceitos originais de Star Trek, a despeito até das reclamações freqüentes dos fãs.
Apesar disso, alguns dos mistérios (bastante mal pensados, aliás) plantados na primeira parte são revelados, como a real origem de Ash Tyler (Shazad Latif), como o klingon modificado geneticamente, como antes se havia pensado ser. Toda essa problemática se arrastada de forma mais demorada do que deveria, variando entre a realidade crua e o apreço do mesmo pela protagonista, Michael Burnham (Sonequa Marti-Green). Essa questão parecia ter um potencial de discussão que não teria muito futuro, e o que se vê é exatamente isso, uma nova gama de questões requentadas, que são pouco interessantes diante de uma nova dimensão explorada aqui.
A tripulação decide encarar a teoria de Saru (Doug Jones) como real, e muda toda a configuração da embarcação e hierarquia, para se adequar a este novo modo. De qualquer forma, é bem engraçado ver Syvia Tilly (Mary Wiseman) tentando deixar de ser extremamente insegura para exercer o comando nessa versão do cosmo, assim como assistir os mesmos personagens desfilando com outros trajes. Todo o planejamento de Michael é ardiloso e inteligente, faz lembrar os motivos que fizeram Lorca confiar nela apesar dos problemas no passado.
Em The Wolf Inside e Vaultin Ambition há uma preocupação de se explorar basicamente três temáticas distintas, que é a viagem mental de Stamets (Anthony Rapp) no interior de sua mente, modificada pelos esporos especiais, o condicionamento de Tyler e a introdução de Burnham nessa nova dimensão. Os episódios miram alto, como nos momentos clássicos da franquia, mas se perdem um pouco por não conseguir desenvolver bem as três discussões paralelas.
Se a ideia é deixar Saru como líder, há um problema. Ele é inseguro, e os roteiros não são afiados o suficiente para dar sustentação a algo tão complexo como uma nave da federação que é levada por uma capitão interino e que é parte de uma raça que prima pelo medo e receio de morrerem dada sua fragilidade.
Discovery começou bem, mas já perto do fim da parte 1 de sua temporada se percebia claramente que as historias perderam seu fôlego. As boas idéias eram deixadas de lado, e não é diferente aqui, e mesmo o plot twist ligado ao destino de Lorca, como um comandante bem diferente do esperado não explica muito a fuga do seriado dos temas super otimistas que sempre foram a tônica nos seriados e até nos filmes recentes da franquia.
Os poucos momentos inspirados são os focados especialmente na trajetória dos personagens. Michael tem uma jornada bonita e inspiradora de redenção e muito disso é mérito de Sonequa Martin-Green, que consegue executar isso independente até dos roteiros atrapalhados que Akiva Goldsman comandou. As perdas que ocorrem com Paul Stamets também são bem explorados, mas para cada momento sentimental dos dois personagens há outras tantas tramas terríveis envolvendo os klingons, que tem aqui certamente uma das piores adaptações suas.
O fato de Discovery ter um início que tropeça em suas próprias pernas não necessariamente é motivo para acreditar que serie estará morta. Talvez só Deep Space Nine tenha começado bem, alem da série Clássica. Enterprise, A Nova Geração e Voyager demoraram a encontrar suas identidades e a esperança para a segunda temporada mora nesse otimismo, e em um possível retorno a temática heroica mais clássica, de preferência que não precise apelar para saídas e referencias sensacionalistas ou muletas ligadas as outras séries do cânone de Jornada nas Estrelas.