O Que Esperar de “Liga da Justiça – Snydercut”?
Na época do primeiro trailer de Sonic: O Filme, nos primeiros meses 2019, os fãs reclamaram muito da aparência do personagem. Isso gerou tal comoção que a Paramount e o diretor Jeff Fowler resolveram se recolher, adiaram o filme e o reformularam com novos efeitos especiais e design, e agora, se fala até em produzir uma nova franquia de mundo compartilhado da Sega. Talvez esse episódio tenha ajudado a reavivar uma história que até então era encarada de maneira jocosa: o tal Snydercut, de Liga da Justiça, sem a entrada de Joss Whedon, e sob as rédeas exclusivas de Zack Snyder.
Essa questão não é um evento ou um factoide recente. Após revelar o grave problema familiar que fez Snyder não dirigir as novas tomadas de Liga, e após uma recepção mista da crítica e pouco amena da parte dos fãs, o realizador de Watchmen começou a soltar nas redes sociais imagens, de artes conceituais e outras bem acabadas, de personagens em situações diferentes, de outros heróis que sequer apareceram, e outras tantas. Aos poucos, membros do elenco engrossaram o coro, em especial Ray Fisher, que fez o Cyborg, que teria uma participação bem maior pelo que se diz, e com o tempo, praticamente todos os interpretes falaram a esse respeito, apoiando o diretor, para que tivesse a chance de editar o material que já tinha em mãos.
Alguns fatos precisam ser postos em perspectivas, sobre a atração que chegará ao catálogo da HBOMax em 2021, ainda sem uma data exata. O primeiro deles é que a Warner não lançou este anúncio por ser justa, “boazinha” ou não egoísta, o motivo principal é um só: dinheiro. Se eles realmente acreditassem no potencial e visão de Snyder, dariam liberdade a ele, ou esperariam passar o luto do realizador para que ele fizesse as alterações necessárias, e não chamariam um substituto.
O segundo fato é que, mesmo que o diretor tivesse a sua sonhada liberdade, não necessariamente sairia um filme irretocável. Batman vs Superman: A Origem da Justiça foi massacrado pela crítica e não foi o êxito financeiro (nem Liga foi) e nem e Batman vs Superman: A Origem da Justiça – Versão Estendida também não salvou o conteúdo, tampouco resgatou a ideia heroica em torno do Superman.
O terceiro fator que faz essa versão se tornar real é ainda comercial, pois no meio da pandemia de Covid-19 não se sabe quando o setor audiovisual poderá realizar coisas inéditas, e lançar algo com potencial financeiro atrativo, ainda mais em uma época em que o streaming é o principal modo de consumir cultura. A Netflix tem disputado com a Disneyplus e o Prime Video a preferência do público, e ter algo portentoso colocaria a marca da Warner no ramo de modo robusto. Isso aliás é mais uma prova de que a DC Universe está para ser extinta a qualquer momento, podendo ser agregada a HBOMax.
Ainda existem muitos mistérios sobre o roteiro e a forma de lançamento – diz-se que pode ser como um filme, ou como uma minissérie – mas o pouco que se sabe é que a Warner não daria muito dinheiro nas mãos de Snyder, além disso, dificilmente ocorrerão novas filmagens, até porque além da epidemia de coronavírus, o elenco mudou muito, e Ben Affleck dificilmente retornará como Batman, ainda que tenha demonstrado empolgação com o lançamento da versão do diretor. O que pode ser feito são redublagens de cenas, o que sempre pode dar errado, tal qual aparentemente ocorreu com o criticado Star Wars: A Ascensão Skywalker.
A questão maior aparentemente é o que ocorrerá após o lançamento do produto. Se for bom, a Warner certamente não hesitará em assumir seu erro na substituição de Snyder por Whedon da forma conturbada como se deu, pois a possibilidade de finalmente fazer muito dinheiro com esses produtos é algo que todos almejam. Mais uma vez isso esbarra no diretor, que já provou não ser um produtor de cinema tão bom quanto ele próprio pensa, uma vez que sua versão foi ignorada pelos mesmos executivos que lhe deram a franquia da DC, e isso contaminou outros tantos filmes, entre eles, o Esquadrão Suicida de David Ayer.
Se considerar que Snyder não mentiu a respeito de sua história, provavelmente Darkseid aparecerá nesta versão, se não em todo seu esplendor, ao menos como o mandante dos crimes do Lobo da Estepe. Os outros volumes mostrariam ele esmigalhando os heróis, e isso certamente tornaria todos os filmes posteriores confusos, podendo inclusive inviabilizar projetos futuros como The Batman, de Matt Reeves.
Enfim, o fato de não ser conclusivo a princípio, poderia colocar esta versão em um patamar narrativo semelhante ao de Guerra Infinita na Marvel, fato que faz perguntar, se houver êxito, se a Warner dar prosseguimento ao universo compartilhado DC, ainda valerá a lógica de lançar via HBOMax, ou será no cinema? Pois uma série de orçamento semelhante ao do filme, com 300 milhões de dólares (a serem corrigidos pela inflação, ainda) é caro demais para TV, ainda mais em um mundo pós-pandemia.
Outra questão são os precedentes. Mal foi anunciado o SnyderCut e David Ayer começou a jogar nas redes foto de Jared Leto não utilizadas no corte de Esquadrão Suicida. Se esta “aventura” der certo, poderá gerar uma demanda ainda mais fútil por refazer filmes acabados, e ela simplesmente não será concluído em outras mídias, como gibis ou animações, ao menos não com toda a pompa que se espera de uma produção hollywoodiana.
De novidades, se espera um arco maior para o Cyborg, já que sua origem tem tudo a ver com as caixas maternas e outros elementos do Quarto Mundo, aparições breves de Átomo, Iris West, e talvez, Supergirl, já que há uma pequena menção a outro kriptoniano em O Homem de Aço. Também se espera algo a mais do Lanterna Verde, além do visto na antiga guerra das amazonas contra as forças de Apokolips, talvez até com aparição de Hal Jordan – Kevin Smith bate nessa tecla até hoje, dizendo que ao visitar o set viu Jordan como Lanterna, embora já tenha sido desmentido por gente da produção. Além disso, a participação do Exterminador de Joe Manganiello seria diferente da cena pós-crédito, com uma referencia até a uma disputa com o Batman, possivelmente referenciando o filme solo do Morcego.
Outra questão pequena, porém digna de nota mora na aparição cortada do General Swanwick, personagem de Harry Lennix, que seria uma versão do Caçador de Marte, embora ele tenha aparecido nos dois filmes anteriores de Snyder, sem nenhuma dica disso. Ele apareceria para Lois Lane e continuaria escondendo sua real forma, por conta da rejeição dada ao Superman. Por outro lado, alguns equívocos certamente não ocorrerão neste corte, como o bigode apagado de Henry Cavill – que estava, durante o anúncio do SC, ostentando a mesma pelugem facial que utilizava em Missão Impossível: Efeito Fallout – e possivelmente ele usará o traje preto pós-ressurreição.
Fora isso, diz se que coadjuvantes do filme do Aquaman teriam suas primeiras aparições, e a Mulher-Maravilha encontrando pistas sobre Darkseid. A grande e persistente dúvida é, os fatos nos (supostos) dois filmes posteriores, com o segundo mostrando uma invasão terráquea a Apokolips que dá errado, e a distopia presente no pesadelo de Batman em BvS se tornando real serão aludidas? Haverá um cliffhanger barato (minha aposta…) que visa forçar a Warner liberar dinheiro para Snyder fazer isso e consequentemente reativar o universo compartilhado da DC nos cinemas (ou streaming)? Isso somente o tempo dirá, enquanto isso, o fã ardoroso por histórias mais sombrias e mal pensadas aguarda feliz pela possibilidade quase nula de vir uma obra digna de nota, redentora de toda a péssima concepção de Zack Snyder a respeito do universo de heróis da DC Comics. É aguardar a desilusão ou a surpresa.