Crítica | Super Mario Bros.
O começo do filme de Annabel Jankel e Rocky Morton ocorre com a música tema da primeira fase do jogo de NES, homônimo ao filme. Na introdução de Super Mario Bros. se mostra uma animação mambembe, mostrando os dinossauros conversando sobre sua subsistência, logo depois se dá um salto de 65 milhões de anos em que se fala que há um dimensão que reúne a vida dos humanos com a dos dinossauros, caso esses últimos não fossem extintos. Para se ter noção da confusão que é a temática do filme, ainda se volta mais 20 anos, o motivo para tais saltos temporais não é muito bem explicado e tudo isso ocorre nos primeiros cinco minutos de tela.
Sem qualquer preâmbulo ou explicação minimamente plausível, o vilão Koopa é mostrado, por um Dennis Hopper completamente perdido em meio ao texto de Ed Solomon, Parker Bennett e Terry Runte. Logo, o Brooklyn é mostrado, inicialmente em uma cena onde um ovo de dinossauro é deixado numa igreja. Tempos depois, na atualidade, há o chamado aos dois encanadores e mecânicos Mario Mario (Bob Hoskins) e Luigi Mario (John Leguizamo), logo eles encontram Daisy (Samantha Mathis), uma bela arqueóloga/paleontóloga que tem sempre as pernas a mostra, e após uma desventura no subterrâneo do Brooklyn, eles se vêem entrando em outra dimensão, o tal mundo onde homens convivem com dinossauros.
A personificação dos personagens centrais é pífia, com Daisy como princesa em perigo e não Peach – referência essa à Super Mario Land, para Game Boy – um Luigi meio sul-americano sem bigode que nada tem a ver com o italiano alto. Além desses, a maior parte dos vilões também é mal encaixada, como os Goombas, Bertha, e até o herói cogumelo Toad. Parece que a ideia era só usar o nome dos personagens sem qualquer identificação ao produto original além disso.
Os raptos das mulheres dos protagonistas faz com que os irmãos corram por uma cidade futurista e decadente, em alguns momentos lembrando Blade Runner e em outras sendo completamente risível. A pior parte é perceber que o filme não se trata de uma paródia, pois se leva a sério demais.
A configuração política deste mundo também soa confusa, com uma não decisão sobre o modo de governo, se seria monarquia, com Koopa como soberano, ou presidencial, já que o mesmo é candidato a alguma coisa. Também não há uma tentativa de aprofundar uma possível dualidade entre esses dois estados, ao contrário, o que se vê é um filme que tenta emular qualidades do cinema de Tim Burton, buscando uma atmosfera mais adulta, mas esbarrando em um péssimo texto.
Ao final, se entende um pouco da evolução entre os mundos, com o lar de Koopa sendo resultado da evolução dos dinossauros, ainda que isso seja confuso, uma vez que Bowser – ou Rei Koopa – nos games era uma variação entre tartaruga e dragão e não um Tiranossauro Rex, tampouco os goombas eram reptilianos.
Além do roteiro terrível, as atuações são igualmente caricatas e desmedidas. Leguizamo é um herói sem carisma, Hoskins parece ter vergonha de ser o nome principal no pôster desse filme e Hopper só seguia ladeira abaixo na fase decadente em que vivia. Os efeitos digitais são terríveis para à época e a construção do mundo fantasioso faz perguntar onde foram parar os mais de quarenta milhões do orçamento do longa, dinheiro bastante alto na época, e que obviamente não foi recuperado.
As questões políticas do outro mundo faz lembrar mais a Shao Khan e do rei de Edenia em Mortal Kombat do que a mitologia dos irmãos encanadores. A questão envolvendo Daisy soa confusa e nada familiar – exceto pelo fato de o rei antigo voltar para a forma humana, como em Super Mario Bros. 3 – para quem era aficionado pelo mascote da Nintendo, assusta demais perceber que deixaram um produto tão confuso ser lançado em circuito comercial. Nada da essência super colorida, lúdica e lisérgica ficou, apenas uma tentativa de transformar o em um cyberpunk completamente incabível, com direito a cena pós-créditos que quebra a quarta-parede e gancho para uma continuação que nunca veio.
https://www.youtube.com/watch?v=wtMZKYnLg5c
Acompanhe-nos pelo Twitter e Instagram, curta a fanpage Vortex Cultural no Facebook, e participe das discussões no nosso grupo no Facebook.