Crítica | Amor Profundo
Amor Profundo é um filme de 2011 que chegou ao Brasil com atraso e sem muito alarde, o filme de Terrence Davies é adaptado da peça de Terence Rattigan, um dos grandes nomes do drama inglês moderno.
A história traz Rachel Weisz como Hester, a respeitável mulher de um juiz inglês que acaba abandonando o marido por uma relação autodestrutiva com Freddie Page, um ex piloto da força aérea inglesa. Passado na década de 50, o filme procura retratar as profundas transformações sociais que se dava na Inglaterra pós-guerra e retratar a herança, e as feridas, que a Segunda Guerra deixou no país, mas se perde e acaba apresentando só uma história de amor um tanto superficial.
Freddie é, inicialmente, encantador. Um ex-piloto cheio de histórias, um dos que ajudaram a salvar o país do nazismo e Hester, intensa, porém presa com um marido totalmente desprovido de calor, não poderia deixar de se apaixonar por ele. Na primeira parte do filme, quando o casal se conhece e começa um caso, os personagens são bem construídos e a interação entre eles faz sentido, Davies faz um bom trabalho em contrapor o gélido Sr. Collyer ao jovem Freddie Rachel Weizs enche sua Hester de nuances, dando realidade a mulher intensa sob a fachada de respeitável senhora inglesa.
No entanto, quando Hester abandona o marido para viver com Freddie em uma pequena pensão o filme desanda. A paixão desenfreada dela não é bem explorada, nem a distância dele, Davies parece asumir que o espectador vai se envolver com o casal e se comover com uma relação que no fundo ele nunca explora. Talvez a dramaticidade da história funcione no teatro, onde um grau maior de artificialidade é aceitável, mas no cinema o que aparece é uma relação morna que o cineasta quer quer se trate de uma grande paixão.
Essa falta de intensidade se reflete na composição do filme: os planos são burocráticos, ainda que muito bonitos, e a montagem sóbria faz pouco por uma história que deveria ser tão cheia de sentimentos arrebatadores. Amor Profundo é esteticamente muito bonito e os tons azulados da fotografia ecoam o título original, The Deep Blue Sea, e enfatizam a depressão e o isolamento de Hester, mas justamente apagam a intensidade dos sentimentos. O que sobra é uma história de amor filmada em tons frios, feitos para afastar.
Amor Profundo não é um filme ruim, é uma história bonita, com belas interpretações. Mas falta intensidade, principalmente quando a história em questão é sobre uma mulher capaz de se autodestruir por uma paixão. Se por um lado o sexo, a luxúria e as relações entre amor e paixão são um dos temas, por outro não há uma única cena de sexo e Hester e Freddie (mesmo no início do filme) pouco se tocam, Davies parece tomar a verbalidade do teatro e esperar que ela seja suficiente no cinema. Infelizmente, não é.
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Texto de autoria de Isadora Sinay.