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  • Crítica | A Mansão do Inferno (1980)

    Crítica | A Mansão do Inferno (1980)

    Dario Argento e seu Suspiria, de 1977, marcaram a história do cinema de horror e o filme sobrevive como um grande clássico até hoje, mas o que muita gente não sabe é que o cineasta continuou essa história no desejo de criar uma trilogia. O segundo longa foi o A Mansão do Inferno, de 1980, esse que prometia expandir a mitologia criada por Argento a partir do livro Suspiria de Profundis (Thomas de Quincey, 1845) mostrando a segunda mãe das Três Mães, responsáveis por afundar o mundo em suspiros, lágrimas e trevas, residente em uma Nova York sinistra e barroca.

    Mesmo que o filme pareça ser dividido em três momentos e em três personagens, pode-se dizer que  sua trama principal se inicia quando a jovem Rose Elliot (Irene Miracle), que mora em um misterioso prédio na cidade de Nova York, compra o livro de um arquiteto que diz ter construído um lar para cada uma das bruxas intituladas Três Mães, desconfiada que está morando em uma dessas construções ela pede a ajuda de seu irmão Mark (Leigh McCloskey).

    É interessante perceber que o longa acaba repetindo os erros e acertos do teu antecessor, o apreço visual é ainda mais presente e refinado, enquanto o roteiro parece não se resolver nunca.  Cores invadem os cenários e fazem com que tudo pareça um pesadelo sedutor que se materializa em ambientes muito bem projetados para criar uma Nova York diferente, um pouco envelhecida e fantasmagórica. Os efeitos práticos nesse novo capítulo também se destacam, um belo trabalho de maquiagem deixa as cenas de violência mais trabalhadas e detalhadas, acabam satisfazendo os mais loucos por sangue.

    Já a trama não sabe para onde ir, é possível ter o longa em uma perspectiva que a narrativa não seja o real objetivo, e sim a megalomania da violência e as matanças dessas bruxas, como um bom filme trash, mas se o longa se inicia aprofundando na mitologia dessa história é impossível não esperar um roteiro no mínimo coerente. As ações das personagens são duvidosas, as histórias entrelaçadas não fazem sentido e no fim parecem um desperdício de tempo, além do final apressado, tal qual Suspiria.

    Ao desfecho de A Mansão do Inferno a sensação que fica, felizmente, não é negativa, pelo contrário, mesmo tendo esses tropeços de roteiro o filme ainda é bastante divertido. Sendo visualmente bem acabado e tendo uma trilha-sonora eficaz em criar uma atmosfera singular, o segundo capítulo da trilogia das bruxas de Argento pode acabar se tornando o preferido de alguns e respeitado por muitos, acaba sendo uma pena perceber que ele carrega um potencial não alcançado.

    Texto de autoria de Felipe Freitas.

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  • Crítica | Suspiria (1977)

    Crítica | Suspiria (1977)

    Um dos mestres do horror no cinema, o italiano Dario Argento é responsável por um dos filmes mais importantes e cultuados do gênero, Suspiria de 1977, clássico que influenciou décadas e ganhou remake pelas mãos de Luca Guadagnino em 2018. Argento baseou-se no livro Suspiria de Profundis de Thomas De Quincey para criar a mitologia iniciada timidamente no longa, na qual três bruxas milenares espalham dor e morte sob o mundo, a Mãe das Trevas que reside em Nova York, a Mãe das Lágrimas em Roma e por fim, a Mãe dos Suspirios na Alemanha, esta última presente nesse primeiro capítulo da Trilogia das Três Mães, composta também por Inferno (1980) e Mother of Tears (2007).

    No longa, a dançarina americana Suzy Bannion viaja até Fribourg na Alemanha para começar seus estudos de especialização em uma renomada academia de dança, mas sua chegada é conturbada ao ver uma aluna fora de si correndo do lugar durante uma tempestade. No dia seguinte, a notícia do destino da moça recai sobre a academia enquanto Suzy conhece as misteriosas mulheres que coordenam a instituição, aos poucos mais pessoas vão sumindo e a protagonista passa a desconfiar que o lugar possa ser morada para uma antiga irmandade de bruxas.

    Uma coisa interessante revendo o longa é perceber o quanto a atmosfera criada por Argento é marcante, gostando ou não, é uma produção que permanece por muito tempo no espectador. De fato, o maior acerto do filme é o seu visual surrealista baseado em cores fortes e brilhantes, presente em iluminações com o pé no fantástico e em cenários perfeitamente realizados, em linhas e formas. Forma-se uma imagem tão original e hipnotizante que assistir ao filme é como assistir a um pesadelo tão belo quanto sinistro, uma experiência imersa em paisagens sonoras incríveis, são sequências inteiras acompanhadas de murmúrios, gemidos e suspiros, com uma música poderosa criada pela banda de rock progressivo “Goblin”.

    Da parte do elenco, as mulheres que cuidam da escola são responsáveis por uma boa estranheza, algumas não tiram sorrisos assustadores dos rostos e
    outras assustam pelas palavras mansas e mascaradas, já as alunas da academia entregam ótimas cenas de perseguição quando Argento brinca de slasher, brincadeira essa que resulta em sequências memoráveis do longa, seja pelos gritos estridentes, o sangue estilizado ou pela violência gráfica que chega a arrancar risadas nervosas. A protagonista Suzy tem uma interpretação esforçada de Jessica Harper, é nela que o roteiro chega a funcionar pontualmente ás vezes, expondo sua personalidade quase sagaz e sua coragem.

    Porém o roteiro não volta a agradar em outras situações, é um argumento interessante que não sabe se desenrolar, os dois primeiros atos soam rasos
    narrativamente, e o final se apressa e não entrega o clímax que Argento parece ter a intenção de construir nos minutos finais, mas além desses últimos momentos o longa não perde em ritmo e nem em suspense. Mesmo expondo pouco do universo que se passa essa história, Argento sabe implantar doses de mistério que fazem o engajamento ir até o fim. E quando aparecem os créditos é muito fácil entender porque Suspiria é o que é, um suspiro refrescante num gênero que Argento tanto contribuiu.

    Texto de autoria de Felipe Freitas.

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