Mulher-Maravilha: Símbolo Feminino do Séc. XX? – Parte 3
Capítulo 1 – Contexto Histórico
Capítulo 2 – Origens da Mulher Maravilha
Capítulo 3 – Queda e Ascensão
Em 1954, o Dr. Frederic Wertham escreveu o seu livro Sedução dos Inocentes que expôs suas ideias sobre os quadrinhos e como eles afetam a marginalidade e a sexualidade da juventude. É visto por muitos historiadores de quadrinhos como a morte da Era de Ouro, e do início do Code Authority. A indústria de quadrinhos foi voluntariamente censurada e alguns temas foram estritamente removidos. Na era do Código, a Mulher Maravilha foi totalmente neutralizada. Ela não falava mais como uma feminista e foi deixado para os braços Steve Trevor, e com o tempo desgastou na Era de Prata. HG Peter, o artista original morreu ao completar a edição # 97. Sua origem logo foi reformulada.
Seus poderes foram retirados e se tornou uma mulher comum, basicamente o que era esperado das mulheres no período pós-guerra, que retornassem ao trabalho doméstico, e sempre submissas ao sexo masculino. Nos anos 60, ela foi despida de seus superpoderes para se tornar uma mulher mortal. Estava preocupada puramente com o “feminino”, usava roupas da moda. Suas botas foram substituídas por sapatos de salto alto com tiras no tornozelo, e seu penteado era totalmente estilizado em um olhar Jackie Kennedy. Ela já não tinha seu avião invisível ou sua cura e poderes especiais telepáticos. Era mais vulnerável agora, mais facilmente enganada e seduzida pelo sexo masculino. Ela parecia ter ficado mais jovem ao invés de mais velha. Tornou-se menos poderosa, quase um espelho do papel da mulher no período pós-guerra. Esperava-se que as mulheres voltassem para casa das fábricas – e da independência para cozinhar, limpar e ter filhos.
Nos anos 70, ela começou uma butique de roupas!
Mas esta mudança radical, apesar de alardeada e bastante incentivada pela DC não duraria muito tempo. Pode ter surpreendido até a Mulher Maravilha ter sido escolhida como um símbolo do crescente movimento de Libertação da Mulher no início dos anos 1970.
Em 1973, a personagem estava de volta ás suas origens, em grande parte graças à Gloria Steinem, famosa jornalista americana que, revoltada por ver a personagem com a qual cresceu lendo descaracterizada, colocou a heroína com seu uniforme original na capa da revista feminista Ms., uma revista de grande circulação nacional. Na verdade, não era exatamente o uniforme original, pois possuía algumas sutis diferenças, mas a essência do uniforme estava ali. Diana Prince voltou então a ser a Mulher Maravilha que os fãs conheciam.
“William Moulton Marston tinha visto direto no meu coração e compreendi os meus medos mais secretos.”
STEINEM, Gloria. Revista Ms. 1972
“Quando eu era jovem, a Mulher Maravilha me encorajou a acreditar que não só eu posso fazer o que um garoto poderia fazer, mas eu também poderia superá-lo. Como Mulher-Maravilha diria a seus inimigos do sexo masculino: “Eu ainda vou rir por último”! Qualquer coisa que você pode fazer, eu posso fazer melhor! “Agora, como adulta, ela continua a inspirar-me a ser um modelo positivo para as meninas”. Algum dia, eu vou ser uma super-heróina também”.
STEINEM, Gloria. Revista Ms. 1972
“Aqui era uma pessoa heroica que poderia conquistar com força. Mas só uma força que foi temperada com amor e justiça.” De alguma forma ela conseguiu fazer o impossível: ela é um exemplo brilhante de militantes feministas. Eles entenderam que, juntamente com a igualdade de remuneração e de cultura e o direito de possuir crédito em seu próprio nome, as mulheres jovens precisam ser capazes de ver-se em um forte modelo de cultura pop e de formar-se nas versões da vida real.”
STEINEM, Gloria. Revista Wonder Phyllis Chesler’s Woman, 1972
Em 1973, a DC Comics restaurou a Mulher Maravilha a sua antiga glória, devolvendo o antigo uniforme. Dois anos depois, a série de televisão estrelada por Lynda Carter (cuja beleza mais do que corresponde à imagem dos desenhos animados). Na TV, Batman já havia se tornado um sucesso com seu seriado estrelado por Burt Ward e Adam West e o Superman interpretado por George Reeves. A Mulher Maravilha apareceu originalmente em um episódio piloto na década de 60, estrelado por Ellie Wood Walker e Hope Summers, que foi criado pelos produtores do seriado Batman; Exagerado, estúpido, e um insulto para o caráter, o piloto felizmente nunca chegou à tela da televisão. Após o fiasco da primeira tentativa , a Mulher Maravilha apareceu pela primeira vez na televisão durante um episódio de 1972 do desenho Kids Brady intitulado ” Isso é tudo Grego”.
Em 1973, a Mulher Maravilha apareceu na manhã de sábado da ABC como uma das integrantes do desenho Super Amigos (Hanna Barbera produções, assim como Scooby-Doo, Jetsons e Super Gêmeos). Embora fosse maçante e sempre tinha uma desajeitada lição de moral no final de cada episódio, essa versão animada de Mulher Maravilha com o penteado Marilyn Quayle é uma das imagens mais duradouras.Em 1974, a Mulher-Maravilha nasceu como um medíocre filme pela ex-tenista Cathy Lee Crosby (mais lembrada por sua participação no reality Show That’s Incredible!) Como uma versão bizarra loira da Princesa Amazona, que em nada parecia com sua contraparte dos quadrinhos a não ser pelo titulo do filme “Mulher Maravilha”.
Sem super poderes, um traje modificado que foi um cruzamento entre uma aeromoça e ginasta, e um roteiro sem sentido, o projeto foi por água abaixo. Stanley Ralph Ross, escritor responsável por episódios da Mulher-Gato no seriado do Batman, surgiu com uma versão da Mulher Maravilha que restaurou conceitos criador William Moulton Marston, incluindo a definição da II Guerra Mundial e a origem da história. O roteiro de Ross, apropriadamente intitulado The New Original Wonder Woman, tornou-se um filme de TV em 1975. O produtor executivo Douglas S.Cramer insistiu que Lynda Carter conseguisse o papel principal, apesar dos escrúpulos sobre sua inexperiência.
O piloto foi um sucesso suficiente para gerar mais dois filmes de TV. Finalmente, em dezembro de 1976, a ABC lançou uma série de episódios semanais de uma hora. Fiel a temas de Marston, o episódio mostrou a abertura princesa amazona reabilitar seu inimigo, uma nazista do sexo feminino. Os quadrinhos foram reconhecidos nos créditos de abertura de animação, e por um dispositivo de cena em que as legendas escritas à mão aparecem no canto da tela. O filme piloto, exibido em 7 de novembro de 1975, foi um sucesso de audiência, e a ABC rapidamente autorizou a produção de dois especiais de uma hora que foi ao ar em abril de 1976.
Estes dois episódios adicionais foram autorizados pela ABC para ir ao ar a qualquer hora que quisesse e foram usados para preencher lacunas na programação. Estas três produções viriam a ser consideradas parte da primeira temporada da série. Todos os 3 marcaram avaliações fortes e Mulher-Maravilha tinha mostrado potencial comparável ao “The Mary Tyler Moore Show” (Sitcom avaliado pela revista TIME como um dos 17 shows que mudaram a TV), utilizando como propaganda para o seriado a venda de uma boneca da Mulher Maravilha com o rosto de Lynda Carter na caixa do produto. A ABC ordenou mais 11 episódios para a temporada 1976-1977 de televisão. Na TV, começou a ser exibido os episódios no início de outubro (Inicio das novas temporadas de TV nos EUA) de 1976 até meados de fevereiro de 1977. Depois de meados de Dezembro de 1976, o programa foi ao ar semanalmente. Sua habilidade de bloquear balas, os closes em câmera lenta nas cenas de ação e a explosão durante o rodopio de transformação da personagem tornavam os episódios imperdíveis para o público.
Figura 3 – Lynda Carter como Mulher Maravilha
Chegou-se a um consenso quanto a sua origem, que de forma controversa funcionou para a época em que foi criada; a personagem era unilateral, representava um ideal de força, autoconfiança e inspiração para as mulheres apesar do seu apelo sexual masculino. Todos os personagens de quadrinhos da época foram reciclados, sendo sua concepção feita durante a Segunda Guerra. Toda a geração que leu a concepção original da personagem cresceu coma ideia de que existia a chance de mudar as coisas na sociedade, o bom autor de ficção vai exatamente criticar ou discutir algo que permeia seu tempo. A pesquisa mostrou como de fato para a cultura americana os quadrinhos são pertinentes, pois são o primeiro contato de leitura na maioria das crianças, junto com os livros ilustrados, e é mostrado isso pela variedade de produtos que existiram e são comercializados até hoje com a mesma personagem.
A Mulher Maravilha representou o que seu autor pensou ser o correto para a nova geração, que seriam os adultos dos anos 60 e aplicou essa ideia no meio de comunicação que mais chamava a atenção de leitores de todas as idades, sendo eles homens, mulheres, garotos ou garotas. Nós temos esse conceito inserido no roteiro de pequenas histórias, mostrando a partir de um ideal de beleza, um ideal americano e um ideal feminino. Com a morte do autor temos seu conceito totalmente invertido para refletir o que foi a mulher no período pós-guerra, de fato o que afetou a imagem da personagem por mais de 10 anos, tempo esses em que a contracultura; revoluções sexuais aconteciam em território americano em pró de um ideal de paz e amor, surgido pela pressão que havia se instaurado na sociedade e pela guerra do Vietnã. Seu conceito se repagina de forma positiva a partir da década de 70, com o seriado e com os quadrinhos.
Alguns aspectos mesmo sendo reformulada tantas vezes se mantêm intactos na formação da personagem como sua fisionomia, beleza, altura, força e habilidades especiais. Se ela servia como um padrão, esse padrão fisicamente é inalcançável de diferentes formas, desde o fato de ser uma princesa para aproximar do imaginário da menina quanto a capacidade de fazer o que queria no momento em que queria. Esse modelo de inspiração assim como o de todos os outros super.
Heróis estão fisicamente num padrão de apreciação, porém o que de fato torna essa personagem ou qualquer outro tão perdurável ao tempo é sua essência, a capacidade de inspirar a uma nova geração com feitos diferentes em contextos diferentes; A Mulher Maravilha da década de 85 é a mais vulnerável psicologicamente o possível, que apesar de inspirar apresenta erros que qualquer ser humano pode cometer. Ela pode ser reutilizada em diferentes contextos para trazer uma inspiração, uma ideia que pode alcançar de forma relevante muito mais que uma pessoa só, não necessariamente como símbolo feminino como já foi, mas como uma representação do que o autor quiser refletir.
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Texto de autoria de Halan Everson.
FONTES CONSULTADAS
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8. DAVIDSON, Bill. From the pages of comic books, T.V Guide, jan.27 1977
9. EVANIER, MARK. Her Name is Lynda Carter, The amazing World of DC comics, Ago.15 1977
10. LEAPS and BOUNDS. Wonder Woman on TV, DC Comics – Sixty Years of the World’s Favorite Comic Book Heroes, 1980
11. DANIEL, LES. Wonder Woman: The Complete History. DC Comics, 2004 pg. 28–30. 130-190
12. GREENBERGER, Bob. PÉREZ, George. Wonder Woman, Amazon. Hero. Icon, Ed. Universe, Abr.6 2010