Após Agent Carter – 1ª temporada, série que cresceu muito desde o tímido curta-metragem de Louis D’Esposito, Agente Carter apresenta uma história de cunho feminino protagonizada por uma figura que contém elementos do paladino típico utilizando métodos pouco ortodoxos. Peggy Carter (Hailey Atwell) já começa o segundo ano frustrando os planos de Dorothy Underwood (Bridget Regan), sua rival do ano anterior, em uma batalha que envolve inteligência estratégica e truculência comum a tantos outros filmes da Marvel Studios, movimentando uma época que é normalmente associada à monotonia.
Já no primeiro dos dez episódios, comprova-se que este ano terá um conjunto maior de elementos fantásticos, apelando mais para a origem quadrinística das aventuras, mas sem deixar a seriedade de lado. Peggy não aparenta ser indestrutível, ao contrário, sofre com a solidão de não ter um par romântico, se sentindo desolada quando encontra um possível substituto amoroso para Steve Rogers, e desamparada após uma experiência traumática, falhando em manter a posição de ser inabalável por muito tempo. A complexidade desta configuração humaniza a personagem, tornando toda a história ainda mais plausível.
O plot passa a ter mais conexões com o escapismo das histórias em quadrinhos contemporâneas à época em que a serie se passa. A inserção da Matéria Zero faz alusão a um novo patamar das histórias da Marvel Studios, já que liga o universo convencional a um protótipo do que seria a Dimensão Negra, novidade a ser explorada futuramente no filme do Doutor Estranho. A inserção da sub-trama da Isodyne Energy se mostra um pouco confusa de início, em especial quando se trata das motivações dúbias de Whitney Frost (Wynn Everett), que basicamente transita entre a figura de vítima e de mal-intencionada.
Os criadores Stephen McFeely e Christopher Markus escolheram um viés de maior ambiguidade, emulando o início da Guerra Fria, valendo-se de muito desenrolar político escuso dentro do embrião da S.H.I.E.L.D – isso sem sequer tocar em toda questão da Hidra explorada em Capitão América: Soldado Invernal –, deixando o antagonismo para figuras de fora da organização que aos poucos se erguia, além de alguns conchavos com gente poderosa.
Mais uma vez o protagonismo é incontestavelmente de Peggy, ainda que haja muito mais espaço para os personagens masculinos nesse segundo ano, em especial para as tramoias envolvendo a estranha substância que o doutor Jason Wilkes (Reggie Austin) descobre, incluindo no decorrer dos fatos a mudança de sua consistência física. Ainda assim, tudo orbita as ações da agente estrangeira, que já tem todas as dificuldades inerentes à segurança de sua própria pátria, além de ter de lidar com um ambiente hostil e misógino.
Próximo do final do programa, há um mergulho na psiquê da personagem título, mostrando sua insegurança com os rumos que sua trajetória toma em um número musical mental. Quase todas as pessoas que passaram pelos dois anos de seu programa dançam e cantam, resumindo um momento emocional em uma atuação próxima do que a Broadway costuma fazer.
Talvez a figura mais controversa desta fase seja Vernon Masters, interpretado por Kurtwood Smith, que é um veterano do departamento de inteligência do exército durante a Segunda Guerra Mundial, tornando-se bastante influente na política do país pós-conflito. A ligação de Masters com Thompson ocasiona um caráter duplo no personagem mais moço, motivado pelo passado do ancião com o pai do atual agente. A ligação dos dois se faz perguntar se o oficial e Peggy já tinham conhecimento sobre a tentativa de tornar a substância gama em uma bomba, em mais um dos paralelos que Agente Carter faz com o resto do universo cinemático da Marvel.
O interessante nas relações entre os membros do pelotão que investigam as futuras ações de Frost e dos demais opositores, é que não há maniqueísmo nas relações. As colaborações de possíveis traidores são contínuas, indo na contramão da insistente paranoia que tomava a opinião pública de toda a população dos Estados Unidos.
Em alguns pontos, as piadas de Howard Stark (Dominic Cooper) destoam do momento de tensão que ocorre nos 15 minutos finais, banalizando o que deveria ser um momento de extrema tensão, fator jocoso que combina, em ausência de qualidade, com a interferência da máquina mágica em forma de carro pilotada por Jarvis, que consegue encerrar o imbróglio da Matéria Zero. Sexismo por parte de um dos financiadores é algo que desautoriza todo o drama: mesmo que isso esteja atrelado a sua personalidade, não havia momento mais inoportuno do que este para dar vazão.
O ciclo se fecha, com Peggy portando passagem marcada para Nova York, encerrando assim suas atividades no departamento ao qual se dedicou desde o fim de Capitão América: O Primeiro Vingador, e que está dissolvido graças aos últimos acontecimentos. Cada um dos personagens toma seu rumo, em final a princípio adocicado, com formação de casais como em telenovelas. Há um cliffhanger deixado pouco antes dos créditos finais.