Cyborg 009 foi um mangá iniciado nos anos 1960 que, de lá pra cá, deu origem a incontáveis produtos (séries animadas, longas metragens de animação, jogos etc). Um dos animes foi transmitido no Brasil há muito tempo, porém o ignorei totalmente por ser “coisa velha” (falou o moleque fissurado em Dragon Ball, Cavaleiros do Zodíaco e Yu Yu Hakusho). Recentemente, a Netflix disponibilizou uma nova série: Cyborg 009: Call of Justice. “Olha só, aqueles cyborgs malucos que ignorei há muito tempo. Vamos ver do que se trata”, e lá fui eu assistir essa série sem conhecimento prévio algum da obra original. E tive uma agradável surpresa.
Se você também não sabe absolutamente nada da obra original, eis um breve resumo: nove pessoas foram capturadas ao redor do mundo pela organização Black Ghost, que as transformou em ciborgues com habilidades sobre-humanas. Obviamente a Black Ghost tinha objetivos malignos. Porém, o professor Isaac Gilmore, diretamente envolvido no projeto, decide ajudar os nove a fugirem. A partir daí, os ciborgues, juntamente com o professor, se unem para acabar com a Black Ghost.
Sim, a ideia é simples, mas pode trazer desenvolvimentos interessantes. Após buscar a série que passou no Brasil e assistir alguns episódios, é possível notar um belo subtexto com temáticas bem delicadas e reflexões sobre diversos aspectos da vida. Inclusive momentos bastante melancólicos sobre a vida “pré-ciborgue” dos personagens, dando um bom adulto àquela estética um tanto infantil.
Call of Justice acontece em momento bem posterior da história, quando os Cyborgs 00 tentam viver em paz como humanos normais. Porém, um grupo de sobre-humanos chamado Blessed aparece para acabar trazer destruição à humanidade. Esses Blessed, aparentemente, são entidades milenares que tiveram influência nos rumos da humanidade. Daí temos outro elemento interessante: por mais que os protagonistas sejam ciborgues, flertando com a ficção científica, existem elementos sobrenaturais e mitológicos na trama. Este é um aspecto das séries anteriores, que resultaram até em um crossover inusitado com Devilman.
Desde já notamos algo diferente no estilo visual. Ao invés da tradicional animação, foi utilizada modelagens em 3D com cel shading, simulando desenhos em 2D, muito utilizado em jogos (Street Fighter IV, Dragon Quest VIII, dentre outros). O visual é bonito, os personagens e cenários são bem feitos e todos. Todos os ciborgues tiveram seus designs modernizados, por exemplo o 002 não possui mais aquele nariz de tucano. O ponto fraco está na animação em si. Os movimentos não são naturais, sendo o ponto mais negativo da série. Muita gente se incomodou bastante com a qualidade da animação, mas não é algo que comprometa tanto. Algumas cenas funcionam bem, há diversas batalhas muito legais, e a liberdade da câmera para girar e focar ângulos variados é um ponto positivo.
Ao longo da trama, os ciborgues vão descobrindo a verdadeira natureza dos Blessed e fazem o possível para evitar uma catástrofe. No geral, a narrativa é boa, com alguns momentos de quebra de ritmo que prejudicam um pouco. Não é necessário conhecer as séries antigas para aproveitar Call of Justice, este é um produto com autonomia suficiente, e que talvez lhe desperte o interesse em buscar a série antiga. Pelo menos veja a abertura logo abaixo, que tem uma música legal pra caramba!