Review | A História Não Contada dos Estados Unidos

a-historia-nao-contada-dos-estados-unidosNão é de hoje que o diretor Oliver Stone, famoso por filmes como Platoon, Nascido em Quatro de Julho e Wall Street, obtém mais notoriedade por sua militância política do que suas últimas produções cinematográficas. O diretor nova-iorquino sempre teve uma forte veia questionadora ao establishment norte-americano, porém, funcionava em prol de uma narrativa, para mostrar situações, geralmente em um protagonista, e as contradições dos EUA frente ao mundo. Porém, ultimamente, as bandeiras políticas se tornaram prioridade, o que não seria nenhum problema, caso isso não estivesse ligado a uma queda vertiginosa na qualidade de seus filmes, que se não chegam ao extremo fracasso de Alexandre, mantém uma mediocridade silenciosa, como em W. e Selvagens.

A vontade do diretor em atuar diretamente com a política deixando a ficção de lado trouxe às telas uma série produzida para o canal Showtime, em dez episódios, chamada A história não contada dos Estados Unidos, onde o objetivo seria mostrar para o grande público a formação dos mitos tão difundidos entre os americanos que nunca foram questionados, e desconstruí-los através de uma grande busca por fontes e especialistas em cada época tratada. Cada episódio aborda mais ou menos um ou dois presidentes, geralmente com algum tema específico do momento, seja a 2ª Guerra Mundial, a Guerra da Coreia, do Vietnã e do Golfo, ou simplesmente algum conceito que marcou determinado período.

Iniciando com o presidente Franklin D. Roosevelt, pai do New Deal e expoente da chamada “esquerda democrata” (a qual o diretor faz uma clara defesa), Stone mostra como Roosevelt, com sua habilidade política, conseguiu não só reconstruir a economia dos EUA arrasada pela crise de 1929 como também forjar uma aliança tão heterogênea quanto impensável nos dias de hoje, com Churchill e Stalin, contra o nazi-fascismo europeu. Outro grande personagem, esquecido pela história (o que Stone faz questão de dizer várias e várias vezes) é Alfred Wallace, amigo e também um radical democrata, que pregava liberdades individuais, democracia, distribuição de renda, felicidade, e outras ideias para serem o guia moral dos EUA ao invés do medo e da paranoia armamentista, em uma incômoda previsão do que seria o futuro dos EUA no século XX.

Passando também por Harry Truman, a série desfaz eficientemente o mito da dúvida e da angústia do presidente ao decidir usar a bomba nuclear contra o Japão, mostrando que ele estava decidido a fazê-lo desde sempre para intimidar a URSS e o mundo, contra o argumento falacioso de salvar vidas americanas em uma invasão, mostrando que o Japão em breve se renderia, pois já estava em seus últimos esforços de guerra.

Outros grandes momentos da série são o crescimento e aprendizado de Kennedy e sua habilidade ao lidar com a crise dos mísseis em Cuba e mostrar que, caso não tivesse sido morto, a história dos EUA (e da América Latina) fatalmente seria diferente, pois seu vice, Lyndon Johnson, não tinha a mesma sensibilidade política e social de JFK; a importância da URSS na vitória da 2ª Guerra e como os EUA e sua direita radical foram os responsáveis pelo recrudescimento da guerra fria, que não interessava muito aos soviéticos; o papel importante também de Kruschev na manutenção da paz em um período conturbado; a ascensão de uma direita cada vez mais radical e intransigente, que optava pelo discurso do medo do comunismo, do belicismo e do investimento maciço em armamentos e que contaminava cada vez mais a política, tornando o debate político algo quase ultrapassado e dispensável, senão antiamericano, frente a tamanha histeria, usada conscientemente como tática de controle.

Por fim, a série faz um retrato fiel do que foi a administração Reagan: desastrosa para os trabalhadores, ao remover direitos, aumentar impostos para os ricos e financiar ditaduras cruéis a fim de sabotar revoluções ou movimentos nacionalistas em vários locais no mundo, o que contribuiu para o surgimento de movimentos ainda piores, como o caso de Osama Bin Laden no Afeganistão. Não poupa também críticas a Bush pai, a Clinton (que seria a nova face do partido Democrata, não mais um questionador, e sim um fiel seguidor da agenda republicana, com intervenções militares questionáveis pelo mundo), George W. Bush, criador da atual “guerra ao terror” e ainda mais desastroso para o mundo, para a democracia, para as liberdades individuais, para a diversidade e para todos em geral, até chegar em Obama, também retratado de forma crua, como outro agente dos EUA bélico e intervencionista, refém de Wall Street e do Tea Party.

Em épocas de pouco debate, de congelamento político e muitas mudanças, questionamentos como os da série são extremamente importantes para tentar mobilizar as pessoas e mostrar como as mais profundas crenças são frutos de criações de determinadas pessoas em determinadas épocas (já que Stone não poupa a participação da mídia em nenhum momento), e da mesma forma que são criadas, podem ser mudadas.

A série utilizou um grande acervo de documentos, imagens, vídeos e consultou diversos especialistas para fundamentar bem os conceitos ali mostrados. Para um espectador não muito familiarizado com o tema, muita coisa pode parecer nova ou até mesmo absurda, mas é justamente esse espectador, o indeciso e menos informado, que deve ser o público-alvo desse programa, cujo objetivo é claramente conscientizar o cidadão comum, o alvo preferencial dos poderosos de todo o mundo.

Claro que a história é também um pouco mais complicada do que Stone parece mostrar, mas ela também se constrói com a diversidade de fontes e narrativas. Dessa forma, A história não contada dos Estados Unidos colabora para trazer uma voz dissonante e ser aquela voz que ninguém quer falar, mas que é necessário ouvirmos. Stone não costuma ser sutil, mas aqui talvez nem devesse ser. O importante é lembrar que os EUA surgiram como país com uma base de ideias bem diferente deste monstro que hoje existe. Surgiu defendendo ideias de liberdade, igualdade, justiça e solidariedade, que mesmo com suas limitações, foi um avanço para a época, e é um retorno a esses ideais que Stone, a seu jeito característico, defende.

Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.

Comentários

3 respostas para “Review | A História Não Contada dos Estados Unidos”

  1. Avatar de The Nindja
    The Nindja

    Os comunistas de faculdade pira!

  2. Avatar de josé
    josé

    Seria muito bom, se pudêssemos ler um livro sem viés politico comunista, pois ai sim, conheceríamos a verdadeira história. Esse livro tem por objetivo, criticar somente o capitalismo, como se fosse a desgraça da humanidade, e o comunismo a salvação. Um livro que não fala a verdade sobre Fidel Castro assassino, Stalin estuprador e mao tsé tung estuprador e pedófilo, um livro que fala do imperialismo americano e seu lado perverso, mas em nenhum momento fala sobre o lado psicopata e utópico do comunismo e de seus adoradores como o próprio autor Oliver Stone, amigo de Castro e Lula.
    Se não fosse pela bela capa e a propaganda que exala bajulação e puxação de saco, o livro não teria 10 cópias vendidas, ingênuo e coitado é aquele leitor que acredita em tudo que lê.

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