A versão da Netflix para Saint Seiya: Cavaleiros do Zodiaco finalmente retorna para uma parte 2 (ou, segunda temporada como agora é chamada no serviço no Brasil), contando com uma premissa estranha, de que a reencarnação de Atena em Saori Kido seria acompanhada de uma maldição que permitiria a vitoria de Poseidon e Hades, fato que prossegue tendo pouco sentido, já que os cavaleiros de prata e de ouro não deveriam se insurgir contra ela, mesmo que haja muito burburinho sobre isso.
O inicio do episodio sete (que vem a ser o início da temporada) tem uma versão muito boa para Pegasus Fantasy. Este trecho também é composto por seis capítulos, mostra Misty de Lagarto e Marin de Águia perseguindo os bronze boys, que supostamente morreram após o embate com Ikki de Fênix, ao menos é o que os vilões pensam. Tal qual foi visto no Mangá, que não possui todos os fillers de Dócrates ou dos Cavaleiros Fantasmas de Jisty.
O que realmente incomoda na animação é em como os personagens digitais parecem apenas bonecos de CGI são estáticos na maioria das vezes. O máximo de movimentos comuns neles são os olhos e pálpebras, alem dos membros inferiores e superiores. É uma pena que se imite de algum modo as regras de animações antigas que repetem muitos quadros e movimentam o mínimo dos personagens para baratear, embora isso não faça muito sentido em modelagem 3d. O exemplo mais evidente são os cabelos e Misty, que parecem bananas coladas na cabeça do sujeito. Para piorar os golpes dos guerreiros continuam com efeitos genéricos e com menos impacto até em comparação ao anime da saga dos Cavaleiros do Zodíaco – Saga dos Cavaleiros de Prata.
As teorias da conspiração e a divisão dos cavaleiros de ouro em dois grupos – contra e a favor da Atena reencarnada no bebê Saori – também não tem sentido algum. O combate de Capricórnio e Gêmeos (onde sequer aparece a face dos dois, como se ninguém soubesse que são eles Shura e Saga respectivamente) contra Aioros de Sagitário é genérico ao extremo, e outros aspectos do roteiro também ficam soltos, como a crença cega de Marin em Kido.
A questão dos cavaleiros de bronze como escolhidos é quase tão mal pensada quanto o maniqueísmo pesado a respeito das divindades Hades e Poseidon, sendo mais encaradas como malvadas que no anime original e no mangá. Quanto a versão nacional, a dublagem contem um número de gírias muito grande, numa imitação bem fraca do visto nos anos noventa com Yu Yu Hakusho. Há uso até de palavrões, fato que não faz qualquer sentido já que é um produto para crianças.
A questão das armaduras ficarem dentro de dogtags é um utilizada de um modo um bocado estranho, assim como o desenrolar da questão envolvendo a real identidade de Marin de Águia. Há ainda o problema dos heróis lutarem sem elmo, e a animação de encaixe ser extremamente porca e preguiçosa, com apenas algumas partes colando nas proteções maiores.
O retorno de Ikki é abrupto, apesar de triunfal, mas é mal encaixado, as lutas continuam fracas, sem clímax. O temor dos humanos contra os deuses, cujo avatar é Guraad também é mal explorado, mais preso em arquétipos rasos inclusive em comparação ao já infantilizado roteiro original de Masami Kurumada. Ele apela para a formula de 007, onde o antagonista conta todo o plano para o seu opositor, nesse caso, a deusa.
A crença de Seiya em Saori consegue ser mais mal encaixada até que em A Lenda do Santuário, pois ele a adora independente dele acreditar ou não que ela é a reencarnação da deusa protetora da Terra. A redução de valores sai de um anime que sempre valorizava sentimentos fraternos e de amizade para uma motivação puramente romântica e esse só não é o aspecto mais negativo desta segunda temporada graças a escolha de um vilão tão anti climático e batido para este trecho, reforçando uma ideia que já não foi boa na primeira parte e que piora aqui pela reutilização. O futuro de Cavaleiros do Zodíaco – Saint Seiya não parece promissor, nem sequer com a aproximação da saga das 12 casas zodiacais.