Depois do fatídico término da terceira temporada, The Walking Dead volta para tentar apagar a péssima impressão que deixara. O primeiro episodio é dirigido por Greg Nicotero, o que explica a forma competente e repleta de violência plástica ao filmar os zumbis. A cena em que chove mortos vivos dentro do armazém é muito goire, e faz lembrar o modo como formigas fazem para devorar um inseto maior.
Apesar do começo de qualidade razoável, a série não sustenta a boa pegada, e já no segundo capítulo o espectador é lembrado que o seriado é sentimentalóide, e isso só piora com o decorrer da história. A doença que acomete alguns faz com que os enfermos cuspam sangue, tornando-os em seres quase tão imundos quanto os mortos.
Em determinado momento Tyrese (Chad L. Coleman) finalmente age como o verdadeiro Tyrese, mesmo que isso dure pouco tempo, para logo depois ele voltar a ser o capacho que fora no resto dos episódios, inclusive levando uma sova de Rick (Andrew Lincoln), e não mostrando brio nenhum após isso – ao menos é demonstrado que os produtores preocupam-se em destransformar o personagem da figura de bucha que exerce.
Alguém – mais tarde fica evidente que é mais de um indivíduo – está matando as pessoas, alimentando os errantes e gerando o caos, semelhante ao que ocorreu nos quadrinhos, e essa até então é a única novidade interessante, a separação de Carol (Melissa McBride) do grupo também é um ponto interessante, por explorar o quão louca uma situação pode ficar com o decorrer do apocalipse.
Os que não se adequam tem de ser excluídos, pouco importa a sua trajetória até então. As passagens de tempo são bastante confusas, e a praga que acomete alguns dos personagens se mostra uma alternativa interessante de drama, mas que pouco acrescenta ao produto final, pois as mortes que acontecem só ocorrem com personagens feitos sob encomenda para morrer. Outro bom ponto no roteiro é a hesitação de Hershel (Scott Wilson), com relação aos “assassinatos” que é obrigado a cometer, mesmo sendo este um sujeito religioso, seu conflito moral-religioso é crível e muito bem construído.
Rick parece estar cada vez mais deslocado e menos afeito ao seu posto de lider. Demonstra insegurança e acusa o duro golpe que recebeu após a morte da sua esposa, Lincoln até convence em seu estado de depressão e nas decisões que seu personagem a obrigado a tomar
Do sexto episódio em diante, o foco muda, para o antigo Governador (David Morrisey). A câmera de Michael Upendahl tenta dar significância ao drama dele e também fodacidade, com vistas panorâmicas sobre a destruição que ele impôs aos lugares por onde passou, para depois tornar-se o cão arrependido. A depressão vai e volta, em alguns momentos o personagem mal se afasta dos zumbis e no seguinte ele morre de medo em entrar numa casa vazia, com receio de topar com um errante.
A redenção de Snake Plisken é bastante extensa, mas a violência do mundo retorna a si, quando ele pensa estar fora é puxado de volta. Toda a construção a respeito da figura paterna de “Brian” com Meghan (Meyrick Murphy) quase vai a ruína com a zumbificação do avô e sua morte na frente das mulheres da família. Seu personagem sofre uma mudança drástica, o modo como ele se agarra a vida de novo e luta ferozmente contra os errantes de mãos nuas é revigorante e até emocionante e mostra que ele tem novas motivações, pessoas por quem lutar. O novo núcleo se alista junto aos antigos aliados do personagem, apesar de “Brian” aceitar a condição de subalterno de Martinez(Jose Pablo Cantillo), quando eles estão em ação, é ele quem concentra a responsabilidade. Ele tenta sepultar o passado, mas sua natureza o assombra e o faz agir como antes, como o Governador agiria.
O Midseason finale é aterrador para o espectador que jamais tocou em uma hq de Robert Kirkman, mas para quem conhece a obra original nada é surpresa, na verdade tudo é suavizado. É óbvio que não há como pôr todo o torpor dos quadrinhos em tela, até por TWD ser uma série bastante popular, mas ainda assim faltou um pouco de coragem da parte dos produtores, toda a (boa) construção do novo background do Governador foi por terra em menos de um episódio, todo o arrependimento não serviu de nada, a prerrogativa de que a natureza sempre vem a tona é explorada de forma muito pobre. Ao menos as expectativas para o resto da temporada foram restauradas por parte do grande público, especialmente para saber para que lado irão cada um dos personagens do núcleo principal.
Enrolação pura. Daria pra ter feito tudo o que fizeram nesse meio final da 4a. no final da 3a., ao invés daquela invasão patética, onde foram afugentados por bombinhas e estalinhos.
Discordo quanto ao “sentimentalóide”. Acho que nessa 4a temporada a série acertou a mão como nunca fez antes, no sentido ao aproximar dos quadrinhos. A essência são os conflitos humanos, com algumas matanças de zumbis de vez em quando, como catarse. Claro que tudo é suavizado, simplificado, mas adaptação sempre é assim. MAS: a tensão no episódio em que os doentes zumbificam e a cerca cede foi do CARALHO. Sobre o Governador, não vi como tentativa de redenção, mas como construir de fato um personagem, coisa que a season 3 não fez muito bem. Ele não é um cara essencialmente bom levado a atos extremos (tipo o Rick), mas também não é um vilão mal porque sim e pronto. Fica no meio termo, no mundo normal seria talvez um cara meio canalha, babaca, e que naquele cenário infernal acabou indo “too far gone”.
Esses oito episódios, esse “arco”, ou “ATO” (¬¬), como queiram chamar, foi a primeira vez que o seriado me deixou satisfeito como um todo, e não apenas em momentos/episódios isolados, como foi com as 3 primeiras temporadas.
Jack, tu é um cara sensato e lê os quadrinhos, ambos sabemos como o Governador era interessante lá e o quanto ele é coxinha no seriado. Houve uma tentativa de resgate da imagem dele, mas que pouco durou – ou quase não durou.
Foi o ATO (haha) mas legal até agora, realmente foi, mas ainda assim deixou muito a desejar, deveria ter sido acoplado a terceira temporada, e não nesta. Os zumbis passando pela cerca é maneiro, mas tem uma hora que a maioria das coisas não faz sentido. O governador pensa em ceder aos apelos do Rick, pra logo depois decapitar o veio manco… a doença, antes avassaladora, deixa de ser um problemão graças a invasão, tem erros crassos de continuismo no oitavo episódio, parece ter sido metade escrito por um cara, metade por outro… Aí fica dificil defender!