Crítica | Brazil

Só tive conhecimento da existência de Brazil, de 1985, em 2012, foi-me indicado como mais uma sociedade distópica, no melhor estilo 1984. Portanto, era uma obra de ficção científica obrigatória. E assim fui, com todas as expectativas. Não sabia nada, do diretor, roteirista, nada, a única pista que eu tinha era que Robert de Niro participava do elenco.

Aos 30 minutos do filme, confesso que tive que fazer uma pausa, para obter mais informações, quem era o diretor, roteirista, alguma pista que eu conseguisse para saber se aquelas 2:20 iriam valer a pena, pois a premissa do filme era muito oposta do que eu esperava, e qual não foi minha surpresa ao ver que era Terry Gilliam, diretor de Monty Python e o Cálice Sagrado e roteirista de A vida de Brian. Agora, tudo fazia sentido.

Esperamos em geral de filmes desse tipo, mundos tecnocratas, frios e sombrios. Em que a narrativa, incita aquele que a acompanha a sentir a mesma tensão que aquele mundo exige. Brazil vai além, contendo todos os elementos clássicos desse tipo de história, mas somando uma pitada de humor nonsense, beirando ao pastiche. E também com muitas viagens oníricas do personagem principal, que nos deixa totalmente confusos sobre o que é realidade e o que é sonho.

A história, é de um funcionário do ministério da informação Sam Lorry (Jonathan Price), que percebe que o sistema do governo errou, e esse erro, o une a Tuttle (Robert de Niro), um procurado terrorista. E Jill Layton (E aí… comeu?), sua amada. Ao tentar corrigir esse erro do Estado, Sam, acaba por se tornar um inimigo público também.

A própria trama, como o mundo proposto pelo filme, tem claras inspirações em 1984 de George Orwell. Chegando a dar uma impressão de ser uma sátira à própria obra (o  diretor é um especialista nisso). Repleta de críticas à nossa sociedade. Como a indiferença dos indivíduos, às situações de horror e morte. O culto a beleza física, e cirurgias plásticas. A governos e instituições autoritárias, em que a única função é a manutenção do status-quo. Enfim, tudo que se espera em uma boa obra de ficção, em conjunto com uma sátira.

A trilha sonora, é composta praticamente, com apenas uma música, Aquarela do Brasil, que faz um ótimo contraponto ao clima da trama em seus momentos mais tensos. E colabora com as viagens oníricas do personagem principal, na estranheza sobre o que é um fato real, e um sonho. Claro, que é um tipo de obra que leva a uma reflexão, algumas mais óbvias e explicitas na obra, como as críticas sociais. Outras talvez mais pessoais do que realmente implícitas. Como, que em uma sociedade, apesar de distópica. Mas não tão distante da nossa, no tocante à manutenção do status quo presente, qualquer que seja o custo disso. Qual a real possibilidade de uma reversão desse estado? Ou ainda mais, ao chegar em tal estado de organização, e anestesia social. Qual a diferença entre sonho, realidade e alucinação. Ao se buscar um ideal melhor.

Brazil, é um ótimo filme, obrigatório para os fãs de ficção científica, ou até ficção política, como alguns gostam de caracterizar, Admirável Mundo Novo, Fahrenheit 451, e o já citado 1984.

PS. Você, brasileiro, por favor, não me envergonhe ao falar o nome desse filme como Brrrezil. Só porque está escrito com Z. Sério, além de pedante, é patético.

Comentários

3 respostas para “Crítica | Brazil”

  1. Avatar de FrankCastle

    Muito boa a resenha Rafael! Conseguiu falar muito do filme em poucas linhas!
    Estou com vontade de perguntar algo sobre o final e o que você achou, mas para não dar spoiler pra galera, pergunto apenas: gostou do final?

    A analogia (literal) que fazem com a computação no começo do filme é genial! Quando assisti pela primeira vez, foi por indicação de um site (http://www.cyberpunkreview.com/), mas ao saber que teria Robert De Niro, fiquei mega curioso.

    No mais, acho que é um filme que brinca muito com as expectativas do espectador. Ouvi falar que na TV editaram o final para agradar mais, doidera. É um ótimo filme, não é muito conhecido do grande público, mas vale muita a pena essa indicação.

    1. Avatar de Rafael Moreira

      Quem não viu o filme, recomendo que não leia esse comentário. Mas lá vai.
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      Sobre o final. Eu não gostei de primeira vista. Só que eu não gostei, daquele jeito que te incomoda e leva a pensar, o que ele quis fazer com isso? E isso me trouxe, junto com o todo do filme, é claro, à essa reflexão que eu faço no penultimo parágrafo, sobre a diferença entre realidade e sonho, em uma sociedade que só serve ao seu próprio estabelecimento.
      Claro que pode ter sido só uma brincadeira do Terry Gilliam, ainda assim, me levou à essa reflexão, por isso eu gosto do final.
      Tentei dar o mínimo de Spoiler possível. Por isso fica um pouco mais difícil de explicar.

      E realmente, a analogia da computação, é ótima, ironia mais fina, impossível.
      E mudar o final, pra mim é uma cagada, é bom até dizer, o que eu vi foi o director’s cut, e não sei se tem grandes mudanças pra versão de cinema e tv.

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