Documentário que celebra a memória e carreira do ator e diretor Hugo Carvana, além de evidentemente evocar a pessoa carismática e malandra que ele apresentava, o filme Carvana de Lulu Corrêa começa mostrando cenas em preto e branco. Não demora a aparecer a própria figura de Hugo Carvana, falando de suas memórias mais antigas, declarando o que fazia na época que a Tijuca era repleta de cinemas e onde algumas estrelas do cinema internacional por ali transitavam, em meio as ruas da zona norte. Nesse ponto, entram entrevistas dele bem mais novo, já com seu bigode grosso e cabelos grisalhos, falando de testes para figurante que fez quando jovem e como se apaixonou por aqueles cenários.
Carvana, mesmo já bem idoso fala de maneira lúcida, e lembra das peças que fez com Gianfrancesco Guarnieri e filmes com Ruy Guerra, lembrando como era salutar e educativo fazer arte dessa forma e como esses trabalhos moldaram seu caráter, ao mesmo tempo que não influíram tanto em sua vida pessoal, capaz sempre de gastar todo o dinheiro que ganhava em bebidas e muita farra.
Talvez até inconscientemente, Corrêa consegue fazer um filme que mesmo se valendo de um formato documental tradicional, consegue soar ensaístico, com algumas semelhanças com o belíssimo Todos Os Paulos do Mundo, que fala sobre Paulo José, velho companheiro de Hugo. Esse caráter do longa se dá principalmente por conseguir registrar bem a alma do biografado, em especial quando fala de seu modo de atuar.
A fala simples e cadenciada de Carvana contém um humor implícito e uma riqueza atroz que faz dele um belo contador de histórias. O documentário, apesar de bastante formulaico, sabe usar seu estilo para emular toda a tranquilidade e alma despreocupada do artista e do homem, que adorava conversar e que era amado por muitos. Por mais que não tente reinventar o formato, Corrêa consegue entreter e divertir, tal qual era o lema de Carvana como realizador e intérprete, e só por isso sua memória já é bem lembrada e relembrada.