O selo Tordesilhas, da Editora Alaúde, tem sido interessante novidade no mercado editorial brasileiro. Tem resgatado grandes obras em belas edições, lançado nova traduções de clássicos e dado espaço para a literatura brasileira, tanto em relançamentos quanto novos escritores.
Empresário e músico, Antonio Cestaro aproveita a potência de sua editora para lançar no mercado uma primeira obra de ficção: Uma Porta Para Um Quarto Escuro.
Desde seu trabalho gráfico a composição do livro é diferenciada. A capa sem título tem apenas a imagem de uma porta envelhecida, tão detalhada que possui alto-relevo na superfície. Além de um marcador de páginas em cetim, a edição é composta em páginas pretas, com ilustrações de Amanda Rodrigues Cestaro, produzindo no leitor um sentimento maior do que a simples leitura de memórias.
Composto por trinta pequenos contos, o livro é construído pela memória sentimental. Em uma primeira observação, o título e a composição gráfica do livro podem remeter aos lugares escuros da memória. Mas a porta que se abre é a saudade de tempos imemoriais. Escuro pela falta de linearidade da memória, dos elementos sensitivos que mesmo quando lembrados guardam somente uma parcela da verdade.
Transitando entre a crônica e certo lirismo poético, o livro inicia-se com pequenas pontuações sobre a vida cotidiana. Os sentimentos internos que cada um de nós projetamos, mas que guardamos para si. São rememorações da infância, de outras percepções sobre as quais somente um homem maduro é capaz de ponderar. Enquanto reflete, Cestaro conta causos mediados pelo humor, mantendo uma linguagem coloquial como quem conversa com um amigo próximo. Cada narrativa é acompanhada por uma ilustração de Amanda Cestaro que, nos traços infantis, parece explicitar a máxima da memória afetiva, sempre lembrada mais pelo seu lado iluminado.
Diferentemente do que se pode inferir, a brevidade dos contos não significa uma leitura rápida – um erro em que muitos leitores incorrem pelo tamanho do texto. Os contos e suas ilustrações devem ser saboreados no tempo necessário, como exige uma literatura com mais páginas, compreendendo cada memória e misturando-as com as dos leitores.