De tempos em tempos, alguns artistas se sobressaem dentre os demais, entregando grandes histórias que certamente serão lembradas por muitos leitores. Vitória Sombria é um desses casos, recebendo um merecido Eisner Award de melhor álbum republicado em 2002.
Com texto de Jeph Loeb e arte de Tim Sale, Vitória Sombria foi lançada originalmente em treze edições como uma sequência direta de O Longo Dia das Bruxas, da mesma dupla de artistas. O lançamento nacional demorou a ocorrer, sendo anunciado pela Abril Comics por duas vezes, mas chegando ao Brasil apenas em 2003 nas mãos da Panini Comics. Quase dez anos depois, chega às livrarias uma edição reunindo a minissérie em um merecido encadernado de luxo.
A história se passa logo depois do fim de sua antecessora, e mostra um pouco do que a cidade de Gotham se tornou com a morte do chefão Carmine Falcone e a prisão de seu filho, Alberto, descoberto como o assassino Feriado em O Longo Dia das Bruxas. O crime organizado está desmantelado e todos os “vilões-aberração” do Morcego estão no Arkham.
O cenário parece promissor; no entanto, uma nova promotora chega à cidade e consegue a libertação de Feriado, alegando que a prisão teria sido ilegal, já que violou seus direitos civis com o uso excessivo de força por parte de Batman. Além disso, uma rebelião eclode dentro do Asilo Arkham, libertando seus principais internos. No meio disso tudo, o chefe de polícia aparece enforcado, trazendo um bizarro jogo da forca que será repetido em outras vítimas, todas policiais, ao longo da narrativa. Se isso já não fosse o bastante, Batman não aceita bem o fato de Harvey Dent ter se tornado o Duas-Caras e se isola cada vez mais na escuridão.
Estas tramas paralelas vão se encaixando umas nas outras a cada capítulo e dando forma ao quebra-cabeça proposto pelo autor. Loeb conduz um thriller policial com extrema competência, suscitando diversas dúvidas no leitor sobre quem está por trás dessas mortes. Os inúmeros personagens colocados na trama são bem desenvolvidos, tendo importância direta nela. As nuances contidas em cada personagem são extremamente bem desenvolvidas, deixando exposto o quão falíveis são cada um deles, como é o caso de Gordon, Dent e o próprio Batman. Algo que serviu de influência para o que veríamos em O Cavaleiro das Trevas, de Christopher Nolan, em 2008.
Assim como grandes obras do cinema que mostram o seio de uma organização mafiosa, como é o caso de O Poderoso Chefão, Vitória Sombria não deixa nada a desejar, trazendo várias semelhanças entre elas, nada propositais, de acordo com os autores. Loeb leva a decadência da cidade de Gotham às últimas consequências, assim como Coppola faz o mesmo em O Poderoso Chefão 2. A arte de Tim Sale expressa esse submundo como ninguém, com um apreço ao trabalho de sombras, e, claro, as cores de Gregory Wright.
Vitória Sombria está no rol de grandes histórias do Morcego. A construção narrativa e o desenvolvimento de personagens de Loeb, aliados ao traço de Tim Sale, tornam esta HQ imprescindível para os amantes de quadrinhos e de romances policiais.
E pensar que Jeph Loeb foi roteirista de Comando para Matar e acumulando a função de produtor e roteirista em Smallvile e Heroes e em seu retorno a Marvel ter cometido o Hulk Vermelho. Parabéns pela resenha.
otima resenha