Nos anos em que Stan Lee desenvolvia novos personagens para o Universo Marvel, uma vasta gama de novos heróis e vilões foram criados, oriundos de uma forma inédita de criação que explorava estilos, arquétipos e representações diferentes para produzir um universo próprio. Em anos posteriores, após o roteirista, ainda havia a produção de personagens diversos, hoje populares e reconhecidos pelo público.
A criação do anti-herói vigilante Justiceiro teve inspiração em outros personagens vigilantes, representando uma voz contra o sistema. A intenção original era que Frank Castle aparecesse somente uma vez como vilão, em sua estreia na revista The Amazing Spiderman #129, quando foi contratado pelo Chacal como atirador para matar o aracnídeo amigão da vizinhança. Mesmo ainda voltado a uma faceta plana, havia uma base semelhante ao personagem atual. Um homem com alto treinamento de planos de ataque e que não gostava de ser enganado por ninguém. Diferente do estilo contemporâneo, ainda assim a história é significativa como uma primeira aparição.
Um ano depois desta estreia, a personagem ganhou um contexto definitivo. Em One Shot Marvel Preview nº2,: Marvel Presents The Punisher a base para a transformação de Castle para Justiceiro é apresentada com a morte de sua família. A história de Gerry Conway desenvolvia a sólida origem e a motivação primordial da personagem. Dez anos se passaram com Justiceiro em breves aparições em outras revistas, quando uma nova minissérie foi lançada destacando-o. Justiceiro: Círculo de Sangue, também assinado pelo roteirista do especial anterior, retorna às bancas dentro da coleção Os Heróis Mais Poderosos da Marvel, da Salvat, apresentando também sua estreia na Marvel.
No prefácio assinado pelo editor britânico da Marvel Panini Comics, Ed Hammond, é mencionado que o lançamento desta revista explorava ao máximo os limites da Comics Code Authority na exploração da violência para a época. A história tem início com o vigilante preso na Ilha Ryker, convidado para participar de uma fuga organizada por um mafioso. Ajudado a sair da prisão por um grupo denominado Cartel, um grupo secreto formado por membros da sociedade estabelecendo uma justiça paralela, o Justiceiro volta às ruas para executar um plano definitivo de destruir a máfia.
Se contrapormos o Castle atual, considerando a partir do início de Garth Ennis até sua nova série na fase Totalmente Nova Marvel por Nathan Edmonston, vemos um personagem decidido mas ainda imaturo em seu plano de guerra, ainda que a filosofia de acabar com o crime esteja presente. Acompanhando diretamente os pensamentos do vigilante, suas dúvidas e a culpa são maiores do que atualmente, principalmente, quando o plano se transforma em uma guerra entre gangues, gerando mais violência e danos colaterais. Mesmo com a agressiva fama de assassino, sua humanidade é desenvolvida pelo erro, diferente da violência perfeita e centrada de alguém descrito hoje como invencível, tanto na batalha como na capacidade de se curar de qualquer luta corporal.
Semelhante com a filosofia da personagem, o Cartel representa um grupo de homens apoiados no amplo conceito de desejar uma sociedade melhor, desenvolvendo um grupo de elite de exterminadores. Revelando suas intenções além daquelas apresentadas ao Justiceiro, Castle trata o grupo como inimigo e chega a sofrer lavagem cerebral para se tornar uma eficiente máquina mortal. Ainda que o vigilante nunca negue sua concepção e a maneira delicada como faz justiça, sempre assumiu o fardo somente para si próprio, aceitando sua condição diante das fatalidades da vida, mas ideologicamente o único capaz de realizar esta guerra contra o crime sem nenhuma traição.
A violência extrema transborda na trama, ainda que não seja explícita e gráfica como a de edições atuais. Os traços de Ross Andru se mantêm coerentes com a época, ainda em cores claras sem tonalidades e uma visão mimética realista. De qualquer maneira, a ausência de uma ambientação carregada de cores escuras não retira o peso desta narrativa definitiva para marcar o modus operandi da personagem e elevá-la ao panteão de grandes personagens da Marvel. A partir dessa história, Justiceiro ganhou três revistas mensais que perderiam o fôlego somente na década de 90, histórias que foram além do escopo permitido por sua composição básica.
Compre: Justiceiro (Coleção Heróis Mais Poderosos da Marvel – nº 24)