Mike Flanagan é um dos principais nomes do cinema de terror nessa segunda metade da década. Porém, desde seu curta Lights Out, o diretor não conseguia entregar algo que faça brilharem os olhos para algo novo, que o destacasse técnica e artisticamente do restante de Hollywood. Agora ele conseguiu. A Maldição da Residência Hill que entrou recentemente na Netflix é o melhor trabalho de Flanagan e uma das visitas mais preciosas ao terror esse ano, se não dos últimos.
Alternando entre passado e presente, a série conta as influências que uma casa mal-assombrada tem sob a família Crain. O objetivo do casal é reformar a mansão durante as férias de verão dos 5 filhos para revendê-la em um valor maior, mas eventos peculiares levam a família a presenciar uma noite assustadora que reverbera anos, até algo no presente fazer com que todos, agora mais velhos, se reúnam para entender de uma vez por todas o que aconteceu naquela noite.
A produção lida muito bem com essas duas linhas temporais, e a responsabilidade disso cai sob um elenco afiado. De um lado, o elenco infantil dá um show de carisma e personalidade, e do outro os atores adultos transparecem sensibilidades e camadas muito interessantes, fazendo com que A Maldição da Residência Hill tenha coração, mais do que qualquer coisa. É uma série de terror, mas nas entrelinhas de jump scares nem sempre eficazes, ela bombeia delicadeza e emoção.
De fato, Flanagan encontra soluções genuinamente criativas para lidar com sua atmosfera de horror, mesmo que ainda falha e às vezes pontualmente reciclada, mas é nos momentos dramáticos que a série sobe níveis mais altos, quando se mergulha em complexos dramas familiares e se assume como uma história sobre traumas e perdão.
Por isso, é preciso enfatizar o episódio 6. Sem estragar experiências, deve-se dizer o quão magnífico é o trabalho de elenco, roteiro, direção e produção nesse capítulo chave da narrativa. É exemplo dos mais belos de consciência de mise-en-scène, controle absoluto da narrativa e seus conflitos e afinamento técnico e artístico de toda a equipe de trás das câmeras. É um episódio de 4 planos sequência que se unem como uma grande cena de 1 hora. Há momentos de se arrepiar, de medo e de encantamento.
Com uma abordagem cinematográfica, um roteiro brilhante e o mérito de fazer uma história de terror com puro coração, Mike Flanagan e cia. entregam uma produção ousada e especial, e não por isso livre de vícios do próprio gênero.
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Texto de autoria de Felipe Freitas.