Muito tempo decorrido desde o ultimo episódio, His Last Vow – exibido em janeiro de 2014 – e após um especial que retornava as origens de Arthur Conan Doyle – A Noiva Abominável – finalmente o programa de Mark Gatiss e Steven Moffat é retomado, com o protagonista sofrendo um julgamento, a respeito dos crimes que ele teria testemunhado no último capitulo, ao lado claro de Mycroft (Gatiss), para enfim entender o perigo que ele sofreu, já que poderia ter sido ele a perecer e não seu opositor. A questão é que essa urgência é deixada de lado, para dar vazão a uma trama mais medíocre que o usual em se tratando de Sherlock.
Após algumas soluções fáceis, o personagem se concentra em tentar entender seu misterioso adversário já morto. Sherlock (Benedict Cumberbath) então se refugia junto a seu amigo John Watson (Martin Freeman) e sua esposa Marry (Amanda Abbington), ainda na Baker Street. O detetive aparece ligeiramente mudado, uma vez que não reclama sequer de acompanhar o casal rumo a maternidade, para ter o bebê de Watson, recebendo inclusive um convite diferente da expectativa em torno de si, tendo de aceitar o apadrinhamento do rebento por uma convenção social implícita.
A fotografia do episódio começa bastante escurecida, e vai mudando de tom com o passar do tempo, se tornando mais clara enquanto as investigações prosseguem. A mostra a Holmes de qual seria a ligação de Moriarty com o caso averiguado é feita de modo muito ligeiro e atrapalhado. Apesar disso há bons aspectos, como as referências a Margaret Thatcher, inclusive no nome do capitulo, fazem um belo diálogo com a Guerra Fria. Junto a esse momento, há outra boa referência, como a sequência de ação que faz o seriado se assemelhar e muit aos produtos recentes como A Identidade Bourne, Cassino Royale e o televisivo Nikita.
A essência de Sherlock está lá, com o herói seguindo como um estrategista formidável, que consegue estar à frente até de seus aliados. A ação nesse segmento também é mais enérgica, e os cenários variados dão um charme à mais para a história de perseguição. Os pontos altos moram nas referências ao cânone, como a ignorância de Sherlock em relação ao nome de Lestrade ou da identidade de Dama de Ferro (essa na verdade, uma piada) e claro, os mesmos elementos visuais que deram certo na primeira, segunda e terceira temporada. Ainda assim, falta ineditismo a trama e feitoria, uma vez que os acertos se resumem quase somente aos tentos corretos das outras três temporadas.
Até então os roteiros do programa não continham tantos defeitos capitais como há nesse. Talvez o hiato entre os anos tenha causado no espectador – em especial o mais crítico – uma expectativa alta em relação a qualidade dramatúrgica, agravada é claro pelo especial de natal que foi muito bem recebido. Há elementos diversos para enxergar preciosismo por parte do texto de Mark Gatiss, desde o flerte gratuito entre Watson e uma moça, até os momentos excessivamente melodramáticos. Um dos pontos centrais do roteiro é de qualidade bastante discutível, relativa ao destino de Mary. O desfecho do arco soa um bocado cafona e demasiado sentimental, em especial pelas músicas empregadas para causar uma comoção nada natural. Nesse interím, somente é positivo a base canônica, que reverencia Conan Doyle, mas a opção por tentar emular as tragédias shakesperianas é forçada, e irrita ainda mais por ser esta a base para o cliffhanger mais preguiçoso exibido no programa, ao menos até aqui.
Todo as manobras de roteiro são muito convenientes, desde o tiro ocorrido, até os momentos posteriores, onde os figurantes deixam o espaço vazio para que somente os personagens mais próximos do sujeito vitimado possam lamentar a perda ocorrida, em uma mostra de extrema rapidez desses citados, a fim de manter a privacidade de alguém que ainda poderia ser socorrido. Até a questão de se resolver o conflito em um aquário soa acintoso, uma vez que não havia motivo aparente para ser ali, além de gerar a possibilidade do público associar aquele cenário ao esconderijo do Doutor Evil, vilão de Austin Powers que também tinha obsessão por tubarões, assim como a antagonista desse segmento.
Os animais em CGI são pessimamente mal construídos, por pouco não soaria natural até a armamentação deles com raios lasers acima da cabeça. A escolha por esse efeito especial é tão errônea que serve de símbolo para quase todas as escolhas narrativas ruins, e fora a cisão da amizade de John e Sherlock, há pouco de maturidade na trama. Este início certamente foi o de qualidade mais discutível, e onde os defeitos mais saltaram aos olhos, driblando inclusive o paradigma de que o episódio dois das temporadas é o mais execrável, resultando em um capítulo de quase absoluta frustração e de expectativa aquém da qualidade do próprio seriado, que normalmente não se valia dos clichês da tv aberta.