The Walking Dead talvez seja o produto televisivo recente mais discutido da cultura pop quanto a qualidade de seu texto. A adaptação seriada dos quadrinhos de Robert Kirkman conseguem reunir inúmeros “poréns” em qualquer discussão entre aficionados, mesmo sendo o maior expoente da recente zumbie xploitation que tomou a atenção do espectador comum nos últimos anos. Diante da qualidade discutível de seus motes, as temporadas funcionam como uma gangorra, começando mal em alguns pontos, como na quinta temporada, melhorando ligeiramente, até a season finale. Um conceito evidente em The Walking Dead – 5ª Temporada.
O ponto de partida do sexto ano é a comunidade pacífica onde o grupo de Rick Grimes (Andrew Lincoln) se instalou nos últimos episódios. O estado de paz logo foi cessado, no último capítulo, e o início da abordagem varia entre momentos presentes, onde as cores predomina, e outros pretéritos, registrados em preto e branco.
A exploração de dramas segue a cansativa fórmula de expor novos personagens (que sequer tiveram tempo para gerar empatia) sendo massacrados em situações que deveriam evocar emoção. Demora muito a se resolver questões relativas aos personagens realmente importantes, fazendo assemelhar ainda mais o seriado as piores novelas televisivas recentes. Os defeitos servem para ratificar a covardia dos produtores em não inserir os queridos pelo público em situações limite, deixando estes em suspenso, quase o tempo todo, deixando o “trabalho sujo” sempre para os novatos.
O terceiro episódio tenta romper com isso, deixando em suspenso a participação de um dos personagens mais carismáticos, que por acaso, havia falecido perto desse período na HQ. Até mesmo este destino, do asiático Glenn (Steven Yeun) é postergado em relação a sua resolução, não deixando claro o que houve com ele a fim de manter suspense e deixar a audiência nervosa com a situação.
O aspecto interessante, que demora a ser explorado, é a estranha incursão de Carol (Melissa McBride), e outros personagens desimportantes, a busca de novos recursos, deixando um rastro de sangue (humano) enorme, gerando também uma discussão a respeito da necessidade daqueles assassinatos. Ainda segue incongruente o fato de o ano terminar naquele vilarejo “pacífíco”, e este começar sem deixar claro o que houve lá.
Muitos episódios são executados unicamente para recontar origens de personagens, como em Here´s Not Here, a qual mostra a trajetória de Morgan (Lennie James) desde a ultima aparição até a reunião com o grupo, o que na verdade é um pretexto para mais uma história fraca de redenção onde ocorre um remake adulto do Karatê Kid de Jayden Smith.
Os quatro último episódios antes da mid season se focam em tentar gerar polêmicas instantâneas, desconstruindo as mortes bem pensadas anteriormente, compondo um quadro repleto de anti clímax, e de manobras dramatúrgicas baratas, que primam pelo sensacionalismo tosco, pautado em repetição e enrolação.
O oitavo e derradeiro episódio começa com a queda dos muros de Alexandria, o que interfere – mais uma vez – na zona de conforto dos sobreviventes. O paradigma se repete, exatamente como havia sido no primeiro acampamento, na prisão e em outros momentos do programa. A repetição segue até depois do retorno dos episódios, que revelam mais um argumento com interferência externa, como se já não houvesse deus ex machina o suficiente no seriado.
Já nesse episódio, ocorre a famigerada cena em que Carl (Chadler Riggs) é alvejado no olho, mas ao invés disso ocorrer por culpa de seu pai, terceirizam a responsabilidade que recai sobre um dos muitos personagens genéricos citados anteriormente na temporada. Após isso, ao invés de haver um enfoque nas emoções presentes no contexto traumático da cena, se dá vazão a mais violência, com um show de pirotecnias, onde praticamente todos os ainda humanos chacinam os zumbis, ignorando por completo a essência da hq, que primava pela questão de que eram os homens normais a quem se devia temer. A vontade de manter tudo inalterado é grande. No episódio seguinte é mostrado o rapaz, transitando normalmente, discutindo brevidades como uso de pasta de dente nestes tempos de racionamento, com um curativo no olho, lidando com seu pai e nova madrasta.
George Romero utilizava seus zumbis para evocar questões fortes como o consumismo e luta de classes em Despertar dos Mortos, dificuldades em lidar com a evolução, convívio entre pessoas de diferentes ideologia, em A Noite dos Mortos Vivos e Dia dos Mortos, principalmente. Com o exploitation recente, o tema se banalizou, como antes tinha ocorrido com os vampiros e com os livros de Stephenie Meyer. O que não era esperado é que um seriado baseado numa história em quadrinhos seria pretexto para mostrar casais shippados ao invés discutir a sobrevivência de todos.
As tentativas de fazer a ação são pífias, com cenas que emulam vídeo game e tiroteios em portas de plásticos que não deixam qualquer rombo, somente furos do tamanho de agulhas, coroadas por filmagens que emulam vídeo games, sobrando até sangue na lente das câmeras que registram os momentos risíveis de guerra.
A covardia segue como tônica, enrolando até o último minuto para finalmente revelar Negan, para explorá-lo o mais perto possível do começo da outra temporada. O ultimo episódio – décimo sexto – começa a partir do conveniente e tosco cliffhanger do anterior, onde um dos personagens principais principais é alvejado por um tiro. A ordem dos fatos é burocrática ao extremo, com uma demora imensa. Jeffrey Dean Morgan aparece nos 20 minutos finais, em um episódio duplo, o que demonstra a total insegurança dos produtores. Ainda assim, sua personificação é bem fiel aos quadrinhos.
O suspense produzido por escolher um personagem resulta em uma cena sem padrão, tosca e imbecil em tudo o que se propõe, covarde como havia sido o final da terceira temporada. A saída é tão oportunista que nos faz perguntar se os roteiristas sabiam como prosseguir com a história de tão patética as escolhas. Nem a recente melhora mínima da quinta e quarta temporadas foram respeitadas, ao contrário, o desfecho segue anti climático e vergonhoso, mesmo para os padrões que The Walking Dead estabeleceu com seu fiel e coitado público.