O início de The Long Nigtht é bem respeitoso com a expectativas dos aficionados pela obra de George R. R. Martin. A preparação para a balhata que Miguel Sapochnik conduzirá é lenta e gradual, quase sem falas, e a tensão dos personagens é facilmente transmitida ao público. Há dois momentos cruciais: a respiração desesperada e cadenciada de Sam, que reflete em quem está vendo; e a puxada de ar de Sir Jorah (Iain Glen), com a sensação de que ele e tantos outros podem perecer.
A misteriosa feiticeira Melissandre (Carice van Houten) tem seu último ato dentro de sua igualmente misteriosa jornada. Cabe a ela dois papéis fundamentais constituídos pela “unção” ao aço e as espadas dos guerreiros, que pegam fogo e iluminam o caminho, rumo a morte. A bruxa também faz uma profecia sobre Arya Stark, que a tornaria o ponto chave para a resolução dos conflitos mais esperados da temporada, pois mesmo a disputa pelo trono de ferro não é tão aguardada quanto a batalha contra o rei da noite. Seu fim já era esperado, e só acontece mesmo nos minutos finais, deixando boa parte de suas origens desconhecidas.
A fotografia de Fabian Wagner dá um destaque absurdo não só as batalhas campais, mas também às inserções de efeitos digitais. Sapochnik sabe como ninguém lidar com muitos personagens em espaços curtos. O aglomerado de guerreiros se vê cercado muito facilmente, e mesmo quando os heróis apelam para os dragões, não há muita esperança.
Uma coisa há de se admitir, os dois episódios preparativos, Winterfell e Knight of Seven Kingdoms, por mais anticlímax que fossem, prepararam o terreno para a chegada da grande batalha. O grande problema – meu inclusive – foi a péssima transmissão que o canal fez, com imagens ou saturadas ou pixeladas que desabonam aspectos visuais da série, além é claro do fato de o aplicativo HBO Go após um ano de hiato de Game of Thrones ainda apresentar problemas com excesso de acessos, dando erro ou simplesmente não funcionando.
O inverno finalmente chegou e a expectativa de que a imensidão branca tomaria todos os espaços deu lugar ao predomínio das trevas. O nome do Rei da Noite nunca fez tanto sentido, e as especulações de teorias também se concretizaram com o exército do inimigo universal dos sete reinos. É preciso que o general adversário mande seu pelotão avançar sobre um muro que aparentemente de fogo para que eles encurralem os heróis, e esse momento é muito bem escolhido, pois ocorre logo após um dos poucos momentos de fôlego e respiro. Apesar da resistência, a turba é praticamente inútil sem seu invocador, são mais inteligentes em combate do que zumbis simples, mas não são exatamente racionais. É como se o Rei da Noite fosse um Sistema Nervoso Central.
Isso abre possibilidade para uma série de perguntas. Se o Rei da Noite tivesse estado nos outros ataques, será que Jon Snow, Cão e companhia sobreviveriam? Dificilmente, e é um pouco frustrante notar isso, embora esse aspecto seja bem comum tanto em exploração de dramas históricos de época, quanto em clássicos de fantasia. Batalhas grandes também são decididas em detalhes bem pequenos.
Quando a batalha se torna franca, e o desalento e desesperança ocorrem, há alguns momentos onde o fan service impera – há de se lembrar que o único lobo vivo aparece brevemente antes da batalha e onde Sapochnik faz uma mistura de gêneros. Com Arya (Maisie Williams) há um sem números de cenas típicas de filmes de horror que são bem conduzidas, mas que tem boa parte do seu impacto reduzidas pela escuridão onde ocorrem. Sabe-se obviamente que isso é feito para reduzir orçamento, mas a maioria das vezes são saídas covardes. De positivo há o aceno ao público dela junto ao Cão, mas é só isso.
Em contrapartida, ao mesmo tempo em que a direção acerta nas batalhas, o roteiro desabona a sobrevivência dos que estão ao Norte do Mapa. Há muito desespero quando os mortos voltam a caminhar, mas não há certezas sobre os destinos da maiorias dos personagens. Há um bocado de covardia, exceção feita obviamente à Jorah Mormont, que fecha seu ciclo de lutas honrando sua amada jamais correspondida, e claro, Theon (Alfie Allen) que após um caminho de sofrimento e dor, finalmente tem um momento épico, primeiro conseguindo proteger seu irmão de criação dos andadores, improvisando armas quando necessário, e depois perecendo diante do inimigo maior.
A escolha da trilha sonora instrumental é bem conduzida, ao passo que ganha força ao mostrar o sofrimento dos heróis, também perde por alguns dos momentos deus ex machina que ocorrem, embora nenhum deles seja tão forte, quanto o que cabe a Stark que foi refugiada e aguentou toda sorte de humilhação. O desfecho, por mais que existam mortes significativas é anticlímax, no mínimo. O fã que ainda não desagradou com essa temporada de Game Of Thrones é a prova viva de que basta que produtores e realizadores entreguem qualquer coisa que terá público cativo.
Mesmo que seja justo caber a Arya o último golpe no lendário inimigo, e mesmo tenham se dado sinais do golpe meio infantil que ela usa contra o opositor, ainda assim soa bobo e infantil. A defesa tola de que “a verdadeira guerra é contra Cersei” acaba entrando em contradições sérias se levar em conta que eventos simples, como toda a construção do passado dos White Walkers, as primeiras aparições do Rei da Noite, seus talentos como necromante ou o simples encontro dos poderosos na sétima temporada onde a própria Cersei treme diante de um pequeno morto vivo, todo o resto não faz sentido.
Para o futuro se espera que as mortes confirmadas não tenham sido em vão, e que o exército do Norte consiga se recompor, mesmo com as baixas, afinal, David Nutter volta à direção, possivelmente para mais um episódio epílogo, com Sapochnik outra vez conduzindo o quinto, cabendo o último aos showrunners, além de se esperar que a próxima batalha seja realmente grande, pois essa, que prometia ser a maior de todas, não foi sequer a melhor de Game of Thrones, ficando anos-luz atrás da Batalha dos Bastardos.