Criado por Lee Falk, o mágico Mandrake é uma daquelas figuras que quase todo mundo já ouviu falar, porém quase ninguém nos dias de hoje realmente conhece. Provavelmente nossos pais ou avós se depararam com revistas do ilusionista encartolado ou, puxando pela memória, podemos lembrar dele do desenho animado Os Defensores da Terra, da década de 1980, onde ele formava uma equipe com Flash Gordon e o Fantasma. Mas poucos com menos de 40 anos podem dizer que realmente acompanharam suas aventuras em quadrinhos quando criança.
Entre outubro de 2013 e junho de 2015, a editora Pixel Media publicou uma série de três encadernados com histórias do Mandrake, adaptando o formato de tiras de jornal para acomodá-lo à forma de revista. Publicado em capa cartão e papel do miolo de alta qualidade, Mandrake: O mundo do espelho e outras histórias é a primeira das três edições da Pixel a apresentar ao público de hoje as histórias da época.
O álbum apresenta quatro histórias do personagem, sendo as duas primeiras maiores, com 40 páginas e as duas últimas com cerca de 20 páginas cada. O mundo do espelho do título da edição é a primeira história, e nela Falk se vale de uma antiga lenda que diz que tudo refletido no espelho é, na verdade, parte de uma outra dimensão. Nessa dimensão, todas as noções de bem e mal, certo e errado, são invertidas. Entre um show de mágica e outro, Narda (noiva e assistente do mágico) percebe que há algo errado do outro lado espelho. Mandrake e seu fiel amigo Lothar acabam descobrindo um meio de visitar esse mundo invertido e frustrar os planos de dominação de suas contrapartes malignas. Como de praxe em uma história da época, fica impossível saber se a aventura realmente aconteceu ou “foi tudo um sonho” (spoiler: aconteceu mesmo, pois existe uma continuação).
Na história seguinte, O Colégio de Mágica, aprendemos um pouco sobre o passado de Mandrake quando ele faz uma viagem astral ao santuário místico tibetano onde aprendeu as artes do ocultismo. Devido a um ataque sofrido pelo Colégio, Mandrake se vê obrigado a viajar até o local para ajudar. É interessante notar algumas resoluções de roteiro da época que hoje soariam bastante estranhas, como o próprio Lothar que é um estereótipo ambulante, um homem negro que não só é servo do protagonista branco como também perambula por aí sem camisa e com “trajes tribais”. Além disso, estar armado em um avião comercial, saltar de paraquedas no meio da viagem e matar um exemplar de um dos grandes felinos em extinção não parecem ser atitudes condenáveis na história.
As outras duas histórias do especial não são movidas pelo protagonista, mas trazem esse ar de inovação que era necessário na época. As histórias do Mandrake dessa edição são praticamente todas baseadas em close-ups, o que pode facilitar a vida do desenhista, mas atrapalha em muito a compreensão da trama, que fica presa aos diálogos. É sempre bom lembrar que é um produto de sua época, mas mesmo assim não parece agradar aos mais jovens devido à trama fácil, rápida e, em alguns momentos, rocambolesca.
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