Halloween Kills: O Terror Continua segue os eventos imediatamente posteriores ao desfecho do Halloween. O ponto de partida é o exato momento após do confronto entre a família de Laurie Strode de Jamie Lee Curtis contra o assassino poderoso e quase imortal Michael Myers, com todos os resultados dramáticos do que seria a encarniçada briga de uma mulher traumatizada contra o causador desse trauma.
Esse segundo filme segue com a direção de David Gordon Green, e remonta a momentos clássicos de Halloween: A Noite do Terror, incluindo um prólogo que reconstrói bem a atmosfera da obra de John Carpenter, emulando perfeitamente o clima de terror do clássico, usando e abusando da trilha sonora original, inserindo junto mais camadas do passado do xerife Frank Hawkins (Will Patton), um dos poucos amigos de Laurie na obra anterior.
Green anunciou desde antes da estreia de Halloween que seu planejamento era fazer três filmes, então esta obra analisada seria o filme do meio de uma trilogia. Era até previsível que isso poderia resultar em problemas no roteiro, e de fato isso ocorreu. A fragilidade maior do roteiro reside na tentativa de criar uma milícia civil entre os habitantes de Haddonfield, fato um pouco forçado e que de certa forma contradiz boa parte dos eventos na versão de 3 anos atrás, pois não houve comoção em volta de Laurie, tampouco solidariedade por parte de outros sobreviventes dos ataques de Myers.
Se havia um grupo de apoio, que se reuni todo ano no Dia das Bruxas para comemorar a própria sobrevivência, Laurie simplesmente não deveria sentir um pária na cidade, nem deveria ser encarada como a única louca da cidade pequena. O eco de um passado trágico deveria ser um fardo dividido por todos esses que não perecerem, mas esses novos personagens parecem estar aqui apenas para desviar o foco do espectador enquanto Lee Curtis e sua personagem se recuperam dos ferimentos.
As críticas de que as vítimas que perecem pelas mãos de Myers e de que são personagens genéricos não estão erradas, no entanto, há um certo exagero e até rabugice nesse comentário, afinal se a intenção de diretor é homenagear o subgênero de cinema slasher, é natural que haja uma apelação a esses clichês, sem falar que as mortes são normalmente bem filmadas, criativas e bastante gráficas.
Michael é aterrorizante, causa temor e é imprevisível. Sua sede por sangue não inclui somente os adolescentes sexualmente ativos, mas todos que ousarem cruzar seu caminho. Ele não utiliza de um falso moralismo sexista, é apenas a encarnação do Bugman, o Bicho Papão mesmo, uma força da natureza que só busca destruição, um psicopata que evoluiu no cárcere ao ponto de transformar suas cenas de crime em arenas de exibição artística, dignas de observação do espectador e até de uma plateia imaginária. Nem monstros recentes conseguem capturar essa sensação como Michael consegue e só por isso esse resgate de Gordon Green já vale o esforço, fora evidentemente o gore, que se intensifica após uma hora de exibição.
O filme funciona quando não se leve a sério. Ao tentar tecer algumas críticas ao linchamento público, evento comum em território estadunidense, e a paranoia generalizante que parece tomar conta das mentes do povo, acaba esbarrando em pieguices. Falta sutileza ao argumento pensado por Green, Scott Teems e Danny McBride, chegando ao cúmulo de pôr em pé de igualdade o desejo ignorante do povo por justiça com as ações de um assassino serial. São eventos nada equivalentes, e se Myers não parece movido por uma moralidade conservadora, o filme em si é refém um pouco dessa condição.
O final de Halloween Kills: O Terror Continua é carente de força e entusiasmo. Mesmo a morte de personagens importantes não choca, soa bobo, pois fica a sensação dos verdadeiros combates envolvendo O Mal e Laurie ocorrerão no vindouro Halloween Ends. Gordon Green traz boas sequências de violência, mas traz também uma obra com fragilidades consideráveis, mas que nem de longe justifica toda a negatividade das análises em geral.