Crítica | Cosmopolis

Cosmopolis

“Nós precisamos de um corte de cabelo”, diz Eric Packer (interpretado por Robert Pattinson), um multimilionário de 28 anos, antes de entrar em sua limusine particular e altamente tecnológica. Um presidente está na cidade, um rapper morreu e anarquistas estão realizando manifestações nas ruas. Packer insiste em querer cortar o cabelo. Esse é o cenário que temos ao longo de toda a extensão de Cosmopolis.

Packer é a clara personificação do poder do dinheiro. Investe todo o seu dinheiro contra o crescimento da moeda chinesa – com o objetivo de inverter a sua valorização -, insiste em querer comprar uma capela e os quadros que estão dentro (mesmo quando não está à venda) e não se importa com o fato de um presidente estar na cidade. Está acima da política, da religião e de todo o resto. O interior altamente tecnológico de sua limusine serve como uma casca para o mundo exterior.

A contraposição à figura de poder de Packer vem com sua mulher Elise (Sarah Gadon) – com a qual acabou de casar e que é dona de uma enorme riqueza -, que não quer ter relações sexuais com ele. Em um ponto do filme, Elise diz não querer transar com seu marido porque sentiria dor. Não conseguiria fazer o sexo ser impessoal para ela. O dinheiro compra sexo – e Packer de fato tem relações sexuais com várias mulheres durante o filme -, mas não poderia comprar o sexo de sua esposa, que não o ama.

Aqui vemos uma clara crítica ao capitalismo, que reage contra o movimento natural e linear da história e contra sua queda, ignorando completamente as reações e reagindo contra a teoria marxista de ascensão/queda dos sistemas de produção. Visualmente esta crítica fica muito bem apresentada nas cenas em que Packer permanece calmo e indiferente dentro de sua limusine, enquanto o caos e a anarquia se encontram do lado de fora. Por outro lado, narrativamente, a crítica é fraca e se perde em diálogos que falam muito e dizem pouco.

A genialidade da direção de David Cronenberg é muito evidente no filme. Por mais de 70% do filme estamos junto de Packer dentro de sua limusine, mas em nenhum momento temos a impressão de que as cenas estão se repetindo. A escolha do elenco foi também um acerto. Considerando a fama dúbia que Robert Pattinson possui devido à sua carreira, ninguém melhor do que ele para representar o tão amado, mas ao mesmo tempo tão odiado, dinheiro. Pattinson foge de seu estereótipo vampiresco sentimental e dá lugar a um milionário excêntrico e de reações frias. Atinge seu ápice contracenando com Paul Giamatti, que rouba a cena com sua excelente atuação, nos últimos 15 minutos de filme, no melhor e mais profundo diálogo de todo o longa.

Cosmopolis se mostra uma obra complexa e extremamente verborrágica. A falta de linearidade de sua narrativa exige demais de um espectador que procura entender todos os diálogos que se sucedem, porém com pouco sucesso. A genialidade da direção é evidente, como também o é a fraqueza de seu roteiro.

Texto de autoria de Pedro Lobato.

Comments

9 respostas para “Crítica | Cosmopolis”

  1. Avatar de Rafael Moreira

    Filme fraquíssimo. Boa direção. Mas o resto, puta que me pariu.
    Discurso contra o capitalismo, digno da “esquerda divertida”. Verborragia ilimitada, no final você já ta absurdamente cansado de tanto falatório vazio.
    Um bolo de merda, com um glacê disfarçando o cheiro ruim do ambiente.

  2. Avatar de Rafael Moreira

    Voltei pra assinar os comentários e fazer mais um comentário sobre algo que me incomodou absurdamente.
    Se você se importar com algum tipo de SPOILER, não leia daqui pra baixo.
    De todo esse discurso e referência de queda do capitalismo e bla bla bla vazio do filme. O que mais me deixou com a pulga atras da orelha, foi esse incomodo e tensão sexual, entre ele e a mulher.
    Ok, ela não transa com ele, porque ela não o ama. E a única coisa que o dinheiro não compra é o amor. Nossa que original. Mas até ai tudo bem.
    O que realmente me deixou puto com isso, porque isso faz tanta diferença pro Decker? O lance dele não é só dinheiro? O dinheiro não está acima de tudo? Como representação até mesmo desse capitalismo cruel?
    A própria esposa dele, não diz que ela vai dar o dinheiro dela, pra salvar o rabo dele? Então porque ele tanto se incomoda com a falta de amor dela? E portanto sexo? Já que a única coisa que importa ele já tem, não só por ele mesmo, mas por ela também?

    1. Avatar de Pedro Lobato
      Pedro Lobato

      Concordo totalmente. Acho que isso tudo fica muito mal colocado no filme. Estou curioso pra conversar a respeito com a Isa na gravação da próxima Agenda Cultural e ela poder falar de como isso tudo funciona no livro.

      1. Avatar de Isadora Sinay
        Isadora Sinay

        Pode dar spoilers do livro? pode né, se vocês quiserem não leem.

        No livro tem uma cena ótima que foi cortada do filme em que ele finalmente transa com a mulher. Quando ele já perdeu todo o dinheiro, roubou o dinheiro dela e perdeu também ele finalmente é “ser humano” e finalmente eles fazem sexo.
        O diálogo que ela diz que não consegue “ser indiferente” é maior, na verdade ela não consegue lidar com esse marido que não é dela de verdade, quando ele perde tudo ele finalmente é e ela finalmente cede.

  3. Avatar de Isadora Sinay
    Isadora Sinay

    Livro excelente, filme médio justamente porque tenta ser fiel demais. Se o filme tomasse mais liberdades, adaptasse mais e andasse mais “sozinho” seria muito melhor.

    1. Avatar de Isadora Sinay
      Isadora Sinay

      Aliás, eu sendo hipster como sempre e dando uma de “o livro é melhor que o filme!”

  4. Avatar de Angry_Kid
    Angry_Kid

    Tenho o Orgulho de falar que: NUNCA VI E NUNCA VEREI FILME COM ESSE FILHO DA PUTA, Robert Pattinson. DIE!!!! DIEEEEEEEE!!!!

    1. Avatar de Rafael Moreira

      É muito amor pelo cara ein Angry hahahaha

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