Nas décadas de 80 e 90, a Marvel publicava algumas revistas com formato diferente do habitual, com mais páginas, e apresentando histórias completas de seus principais personagens. Abandonada nos últimos tempos, a iniciativa foi agora retomada com o nome Marvel OGN (Original Graphic Novels). E o primeiro lançamento não podia ser estrelar outros que não os atuais campeões de popularidade da editora. Vingadores – Guerra Sem Fim apresenta-se inovando em dois aspectos: o lançamento simultâneo nos EUA, na Europa e também no Brasil; além de um recurso chamado “realidade aumentada”, presente em algumas páginas e disponível através de um aplicativo gratuito para smartphones.
A história foca principalmente em Thor e Capitão América, ao apresentar um perigo que tem raízes no passado de ambos. Na Segunda Guerra Mundial, nazistas tentaram desenvolver uma arma usando criaturas da mitologia nórdica, experiência nesfasta que reaparece nas guerras modernas. Os dois heróis sentem-se responsáveis por suas respectivas missões incompletas, e ao lado dos outros Vingadores vão combater a ameaça. Mesmo que pra isso esbarrem em interesses internacionais, entrando em atrito com a SHIELD e o governo.
Os desenhos da edição são de Mike McKone, um artista regular. Ele foi ajudado, e muito, pela colorização de Jason Keith e Rain Beredo, um trabalho acima da média. O escritor é o britânico Warren Ellis, um dos mais amados pelos hipsters dos quadrinhos por conta de obras como Transmetropolitan e Planetary. Pela Marvel, seus diversos trabalhos costumam ser mais convencionais, burocráticos (até por serem em séries regulares, dentro da cronologia). É o que acontece mais uma vez. Ainda que faça algumas críticas ao eterno belicismo norte-americano, tocando em pontos bem atuais como o uso de drones, Guerra Sem Fim não traz nada de memorável. Uma aventura divertida, porém mais preocupada em ser rápida e acessível.
Talvez o problema maior de Guerra Sem Fim seja a necessidade de se adequar ao universo dos filmes, mesmo estando dentro do momento atual dos quadrinhos. Desafio que faz Ellis derrapar nas caracterizações dos personagens, acertando em alguns caos e falhando em outros. O Capitão América, por exemplo, é o líder experiente e respeitado de sempre. Mas há uma ênfase exagerada no aspecto “homem fora do seu tempo”, buscando um link com o cinema, sendo que na cronologia das hq’s ele já despertou há vários anos. Thor, por outro lado, está bem representado, solene e responsável. O Homem de Ferro fica um pouco à sombra, lembrando as histórias dos Vingadores pré-Downey Jr, quando ele era um coadjuvante que, apesar de competente, não é levado muito a sério pelos demais.
Como a equipe PRECISA ser a do filme, o Hulk é enfiado meio de qualquer jeito na história. Pelo menos Ellis lembrou que, nos quadrinhos, ele não é amigão de todo mundo. Existe muito mais bagagem, e todos olham Banner com desconfiança. Viúva Negra e Gavião Arqueiro já estavam lá meio que só pra constar; ela acertadamente profissional, ele exageradamente pateta. Além dos heróis do cinema, a trama envolve mais dois, por motivos distintos. Wolverine, sempre onipresente nas hq’s das Marvel pra ajudar as vendas, surge pra ser o contraponto ao escoteiro Steve Rogers. Logan é soldado “realista”, amoral, aquele que faz o que for preciso. Pena que ele martela tanto isso, repetindo praticamente em todo quadrinho que aparece, que fica cansativo. Por fim, Carol Danvers, a Capitã Marvel. Há anos e anos que a editora vem tentando valoriza-la, tentando construir uma personagem feminina de primeiro escalão. E nunca cola, nenhum autor até hoje conseguiu imprimir um mínimo de carisma na heroína.
Com capa dura, 120 páginas e custando R$ 24,90, Vingadores – Guerra Sem Fim é uma edição bonita e luxuosa. O conteúdo é um tanto sem sal, mas deve agradar aos fãs das histórias regulares do grupo. Em relação ao futuro do novo selo, fica a expectativa por trabalhos mais inspirados.
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Texto de autoria de Jackson Good.
Você realmente não sabe se haverá mais lançamentos?