Atenção: este review contém spoilers de toda a série. Siga por sua conta e risco.
Figurando entre as cinco séries consideradas revolucionárias, ao lado de The Sopranos, The Wire, Breaking Bad e Mad Men, a série criada por Alan Ball conseguiu atingir um alto nível de roteiro e direção, colocando Six Feet Under em um patamar acima das séries comuns.
Ao longo de cinco temporadas, acompanhamos as vidas de Ruth, Claire, David e Nate Fisher, donos da funerária Fisher & Sons (depois Fisher & Diaz). Entre os seus desentendimentos, familiares e amorosos, e a luta contra a compra de uma multinacional, vemos como uma rotina cercada de morte pode significar tanto.
As cinco temporadas conseguem ser divididas por temas sempre gerados pela morte. Por se tratar da rotina dos mesmos personagens, o diferencial é pautado pelas situações das mais absurdas que ocorrem com os protagonistas.
O elenco principal da série: Freedy Rodriguez como Rico, Rachel Griffith como Brenda, Lauren Ambrose como Claire Fisher, Peter Krause como Nate Fisher, Frances Convoy como Ruth Fisher, Michael C. Hall como David Fisher e Matthew Patrick como Keith
O seriado começa com a morte do patriarca Nathaniel Fisher. A partir daí, todos os personagens acabam se livrando de diversas amarras sociais: Ruth se liberta sexualmente, assumindo o caso que tinha com o seu cabeleireiro; Claire passa a ser uma pessoa menos rebelde; David se revela gay e assume seu namoro com Keith; e Nate deixa a cidade onde morava e volta para a casa. O tema é claro na primeira temporada: a libertação.
É através da rotina da funerária que sabemos como o negócio funciona. Por conta disso, os Fishers passam a ser assediados pela Kroehner, gigante do ramo. O dilema de vender ou não o negócio da família permeia esta primeira temporada, ainda mais utilizando a estrutura do filho renegado, Nate, que não quis assumir o empreendimento familiar.
Toda a série tem personagens que se destacam dos demais de alguma forma, seja pela condução do roteiro, seja pela atuação. Em Deadwood, é Al Swarengen e em The Wire, é Omar Little. No caso de Six Feet Under é Brenda Chenowith, a namorada e segunda esposa de Nate. Ser criada por pais psicanalistas e que a usaram como tema de um livro, além de ter um irmão psicopata, transformou-a na melhor personagem da série.
Uma das muitas cenas da série em que os protagonistas conversam com os mortos do começo dos episódios
A segunda temporada tem como tema a decisão. Ruth começa a ficar na dúvida do que fazer da vida e se fica ou não com Nikolai; Nate e David são assediados novamente pela Kroehner; David ainda tem incertezas sobre se assumir gay publicamente; e Claire não sabe o que fazer quando se formar na escola; e Brenda passa a trair Nate com várias pessoas assim que fica noiva. Porém, as maiores indecisões da temporada recaem sobre Nate: a partir de uma ida a sua antiga cidade, Seattle, ele revê uma antiga amiga. Meses depois, ela o procura com barriga grande, e ele reflete se vai assumir a filha ou não. Outra grande indecisão de Nate ocorre ao descobrir que sofre uma espécie de AVC, que resolve operar mesmo correndo o risco de ficar em coma.
É aqui também que vemos que Rico, o ajudante embalsamador de Nathaniel, se torna sócio da empresa, fazendo com que a funerária passe a se chamar Fisher & Diaz. Ao mesmo tempo, ocorre um processo, esquecido pela série, que iria levá-los à falência. A Kroehner também não é mais mencionada daqui em diante.
Na terceira temporada, temos a própria vida como tema. Nate cria a sua filha, Maya, e aceita se casar com a mãe dela; David começa a ter desejos de adoção, junto a Keith, após tomar conta da sua sobrinha; Claire entra na faculdade de arte e deseja iniciar um relacionamento adulto; e Ruth acaba se envolvendo com Arthur, o novo empregado da funerária. Brenda se mantém fora da maior parte dessa temporada, voltando, no final, após a morte do seu pai, enquanto Ruth acaba se casando com George.
É também aqui que temos um dos momentos mais tensos da série em relação à morte. Lisa, a esposa de Nate, desaparece nos episódios finais, o que faz com que Nate se altere de uma forma nunca vista. E a forma como o roteiro e a direção trata o tema faz com que os episódios finais tenham uma carga muito pesada.
Na quarta temporada, temos como tema o castigo. Nate enterra a esposa da forma como ela queria, e não como a família dela gostaria, e acaba descobrindo que talvez o próprio cunhado tenha matado Lisa; Claire se sente perdida e desiste da faculdade de arte; Brenda começa a se dar bem com o vizinho, até que Nate chega; Keith é demitido do emprego de guarda-costas após transar com a cantora; Arthur se demite; Rico se divorcia após ser infiel; e David sofre um sequestro que o deixa traumatizado.
É aqui também que temos uma guinada na vida de Brenda, que deseja ser psicanalista, finalmente seguindo a profissão dos pais. Nesta temporada, aparecem dois novos personagens, George, novo marido de Ruth apresentado na temporada passada, e sua filha Maggie, cuja função é ajudar o pai, que começa a apresentar sinais de demência.
As melhores mortes dos começos dos episódios
Na quinta e última temporada, o tema é o perdão, fechando o ciclo. Nate e Brenda finalmente se casam após os preparativos da temporada passada, e logo depois Brenda perde o bebê; David e Keith conseguem adotar dois meninos, depois de muitas tentativas, e acabam tendo dificuldades em criá-los; Claire desiste da faculdade de arte e começa a trabalhar em um emprego que odeia; Ruth se divorcia de George; Brenda engravida novamente; Rico volta para a esposa, mas sem ser como antes; Nate trai Brenda com Maggie, e Nate morre após um novo AVC.
Nos dois últimos episódios, os personagens acabam seguindo a cartilha padrão, e o que poderia ser um bom final se transformou no dramalhão apelativo nível novela das oito do Maneco. Nível este que já havia se instaurado na série desde meados da terceira temporada. O término da série foi fraco, piegas, e a última cena, desnecessária.
A estrutura dramática da série ainda se aproxima da tradicional, no entanto cada episódio começa com uma morte aleatória, algo que vai significar trabalho para a funerária. A partir daí, as circunstâncias que levaram a esse falecimento passam a dialogar com o tema de cada episódio. Literalmente os Fishers conversam com os mortos enquanto os preparam para o velório, dando, inclusive, mais tridimensionalidade aos protagonistas. Nathaniel sempre volta para conversar com sua viúva, Ruth, e seus três filhos, ao longo de toda a série.
Ao incorporar a morte como tema principal e trabalhá-la a partir de vários outros assuntos, a série mostra que a sua principal característica é a diversidade. A morte tem a função de sustentar aquela família, que por si oferece algum conforto para os parentes dos mortos. Dessa forma, a morte gerou vida, uniu, separou, perdoou, criou indecisões e, por fim, libertou, seja quem estivesse em vida ou em uma morte dolorosa. E essa diversidade também é mostrada através das minorias, a exemplo de latinos, negros, gays e mulheres como os protagonistas da série.
Uma das melhores cenas da série, com Nate chapado de ecstasy
A atuação é um dos pontos altos de Six Feet Under. Rachel Griffiths interpreta a melhor personagem da série, Brenda Chenowtiz; Frances Convoy dá vida à matriarca Ruth Fisher; Peter Krause é Nate Fisher; Michael C. Hall faz de David Fisher o melhor papel de sua carreira (colocando Dexter no bolso); Lauren Ambrose é Claire Fisher; Richard Jenkins faz as ótimas aparições momentâneas de Nathaniel Fisher; Matthew Patrick é Keith, o namorado e depois marido de David; Freddy Rodriguez dá voz a Frederico ‘Rico’ Diaz e Justina Machado, à sua esposa, Vanessa; Jeremy Sisto interpreta Billy, o irmão psicopata de Brenda; Tina Holmes como Maggie; Lili Taylor como Lisa, a mãe da filha do Nate. E ainda há espaço para a menção de três excelentes atores que emprestaram o seu talento para a série de Alan Ball: James Cromwell como George Sibley, o segundo marido de Ruth; Kathy Bates como a amiga de Ruth, Bettina; e Patricia Clarkson como Sarah, a irmã de Ruth.
Six Feet Under merece ser vista não só pelo tema diferencial de uma família que ganha a vida como agente funerária, mas também por atingir um nível de roteiro como poucas séries o fizeram, principalmente nos primeiros episódios. Quem quiser mais detalhes pode se aventurar pelo Wiki da série.
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Texto de autoria de Pablo Grilo.
Pablo, seu MERDA, você não tem gabarito nem vivencia para poder proferir uma palavra sequer sobre essa seria EXTRAORDINÁRIA, FODA-SE SEU VELHO GAGO GAGA.
ahahaha, agreed. Nem comentei o fato dele ficar implicando com o final da série por motivos de preguiça =P
#PabloSeuMerda