Após vencerem Ikki, são revelados novos inimigos, seres esquisitos que atendem ao Mestre Ares, o novo regente do Santuário da Grécia. Petroleiros são atacados, a economia é completamente mudada – o porquê jamais é dito – e em meio ao lugar onde Seiya treinou tudo mudou: torturas são feitas a quem não obedece as ordens do novo mandatário, e até Marin é subjugada, motivada pela morte do antigo mestre.
É neste elemento que há uma das principais e mais irritantes diferenciações entre o texto original e a produção da Toei, pois Shion, o antigo mestre do santuário só teria morrido alguns dias depois que o cavaleiro de Pégaso voltou para sua terra. A partir daí, um freak show começa, organizado por dois toscos personagens, Gigas e Piton, que mobilizam um sem número de personagens que sequer têm constelação – que dirá cosmo! – para enfrentar o quarteto.
Finalmente a identidade real de Saori é declarada, como a reencarnação da Deusa Atena, mas isto é aplacado por momentos de qualidade duvidosa com Seiya, Hyoga, Shun e Shiryu aguardando um ataque de seu “forte” inimigo, Dócrates, protagonizando cenas de vergonha infinita, com Kiki dormindo com o cavaleiro de Dragão enquanto Andrômeda se banha, e é flagrado nu no chuveiro, enquanto Saori monitora TODAS as anomalias de poder pelo passar da história, somente para provar que os cavaleiros tiveram ingerência nisso.
Após vencer o gigante embevecido, Atena percebe que tinha alguém pelas sombras, uma entidade maligna que visava destruir a humanidade, e mais capangas genéricos são levados a enfrentar Seiya e os outros. O primeiro dos adversários é Jisty e seus cavaleiros fantasmas que “audaciosamente” raptam um navio petroleiro, numa atitude ecoterrorista. Os cavaleiros de bronze se rendem como negociadores de raptos e sequestros, se deparando com piratas. O dramalhão é na verdade uma ilusão de Jisty, que logo é vencida, numa batalha mequetrefe com Seiya.
A ira de Ares prossegue, até que um “bravo” guerreiro o impele, perguntando o motivo de tudo o que estava assolando os saints de bronze. Seu nome é Cavaleiro de Cristal, um filler que seria mestre de Hyoga, tendo também no gelo a base do seu poder. Paralelo a isto, um ar de conspiração prossegue no Santuário. Enquanto isso, na Sibéria, o antigo mestre, com um visual bastante carnavalesco e extravagante como Tina Turner em Mad Max 3, e ainda mais mortal que o da titia. O conceito é péssimo por contradizer alguns dos bons plots, explorados na parte das 12 casas e Poseidon. Pior que isto é a construção de uma pirâmide de Gelo, pensada por Gigas, que tencionava homenagear o novo mestre do santuário numa demonstração de puxa-saquismo das mais esdrúxulas, que em torno de si produziu inúmeras cenas constrangedoras; de escravização moderna de moradores do local, todos brancos, evidentemente, pondo até Hyoga de Cisne para enfrentar homens com metralhadoras AK-47, mas que nada fazem diante do poder do sujeito. Após uma piegas batalha, Cristal volta a si, e pede perdão ao seu pupilo.
Mais um guerreiro genérico é convocado por Gigas, dessa vez o capanga tem uma intensa relação com o pequenino vilão. O Cavaleiro do Fogo – também sem constelação – foi salvo ainda criança por Gigas, e resolve atacar a mansão da Fundação Kido, raptar Tatsumi e buscar o capacete da armadura de Sagitário. A batalha serve para pouca coisa; basicamente faz com que Gigas se defronte com Saori, e é a primeira desculpa no desenho para que Ikki renasça, na mais açucarada e cafona de suas encarnações.
Com o desaparecimento de Gigas, Piton toma seu lugar e ordena Marin para matar Seiya, seu antigo pupilo. Receosa, ela deveria acompanhar O Cavaleiro de Prata, que iria ao Japão acabar com os meninões. Com o retorno de Ikki e com as informações que Shiryu conseguiu na China e as de Seiya obtidas na Grécia, finalmente os moços descobriram que o inimigo vinha de cima.
O poderoso cavaleiro que jamais sangrou ou sentiu dor, Misty de Lagarto, vai até o Japão com Marin para humilhar o Pégaso. A mestra tenta ludibriar seu companheiro, permitindo que Seiya viva, escondendo-o embaixo da areia da praia. O formidável guerreiro descobre o ardil, e depois demonstra todo o seu magnânimo poder em uma das batalhas mais bem urdidas até então. A saga finalmente começa a ficar séria com embates de verdade, retornando aos personagens antagonistas pensados por Kurumada, deixando de lado os tapa-buracos toscos. Talvez seja Misty, o mais poderoso dos cavaleiros de prata, apesar de toda a sua afetação e clara alusão a homossexualidade – talvez um modo eufemístico que o autor buscou para tentar fazer valer ainda durante os anos 80 um discurso de igualdade e aceitação dos diferentes gêneros sexuais, além da “orgulhosa” heterossexualidade. Fato é que outros personagens também teriam os mesmos trejeitos efeminados, quase todos poderosíssimos, quebrando a ideia de que seriam “estes” fracos. O narcisismo e a soberba fazem com que Lagarto fraqueje, mesmo diante de um adversário inferior. Por ter sido vencido, Misty aceita a própria morte, assumindo que sua entrega deveria ter sido maior.
A mentora de Pégaso sofre bastante ao ter seu estratagema evidenciado por dois outros cavaleiros de prata, Moses de Baleia e Asterion de Cães de Caça, que com seus poderes telepáticos, lê sua mente. Após a dupla machucar Marin, Asterion revela um dos motivos que poderia explicar a devoção da moça ao seu discípulo, já que ela teria ido ao Santuário atrás de seu irmão perdido, possivelmente o herói que dá nome a série. A amazona perdeu suas lembranças anteriores graças a máscara que usa, e ao saber de tudo isto, Seiya consegue enfim ter poder suficiente para vencer o cavaleiro de prata de Baleia, que não consegue revidar o ataque furioso do protagonista. Após isto, Asterion ataca Seiya, que está fraco e cansado, mas não consegue matá-lo graças a Marin, que se livra das correntes com a ajuda de Kiki (que se mostra útil, além do simples papel de amigo-íntimo), que também a põe em um invólucro de proteção mental, podendo assim vencer o telepata.
Após o triplo combate, finalmente é contada a real origem de Saori, além do sacrifício de Aiolos, antigo cavaleiro de Sagitário que, por isso, entregava Mitsumasa a pequena Atena e a armadura de ouro. O descanso é curto, já que Babel, cavaleiro de prata de Centauro é enviado para acabar com os espécimes de bronze. Ele leva uma vantagem enorme, até a chegada dos “portentosos” fillers dos Cavaleiros de Aço, figuras que não têm qualquer relação com Atena e que são pensadas pelo velho Kido como possíveis reforços para a proteção de sua neta, pelo viés tecnológico, algo que vai completamente contra a ideia original da saga. Interessante é que a primeira atitude deles é somente olhar a batalha ao longe, para somente tentar deter Babel após os outros caírem. Depois de quase estragarem a luta, Hyoga os vence, para depois o cavaleiro de Centauro perceber que Saori era Atena, morrendo perdoado em seguida.
Shina pede a Piton uma chance de finalmente enfrentar Seiya, e então recruta Algol, o cavaleiro de Perseu, que cruelmente transforma os desertores do Santuário em pedra. Junto a Spartan (exclusivo do desenho), um telecinético cavaleiro, atrai o avião de Pégaso, Andrômeda e Dragão para um local na Grécia, longe do destino inicial deles. A tripla batalha acontece, com Seiya vencendo Shina, para logo depois Algol transformar Pégaso e Andrômeda em pedra. Spartan tenta manipular Shiryu, mas é estúpido o suficiente para ser também feito de estátua. O sacrifício de Shiryu seria o primeiro de muitos momentos repetidos de todas as sagas, um dos clichês de CDZ, mais repetido na animação que no próprio mangá.
Após finalmente vencer Algol e não conseguir recuperar a visão de Shiryu, o baixo astral toma conta dos cavaleiros, que se veem como culpados pelo acontecido. Ikki se retira, visando enganar os vilões, e o stress faz com que os que sobraram fiquem desatentos. Saori é raptada pelo nada belo Jamian de Corvo, e após salvar Kido, Seiya finalmente tem um momento de constrangimento registrado, onde ele flerta com a deusa que deveria ser virgem. A atitude é condizente com o público infanto-juvenil do seriado, o que não aplaca em nada o seu caráter irritante.
Após Jamian cair, mais dois cavaleiros de prata se apresentam, Dante de Cerbero e Capella de Auriga (Cocheiro). Os cavaleiros ainda acordados lutam contra a dupla de prata, com pressa, para salvar Seiya. Ambos sucumbem, até que Ikki retorna, para mais uma vez salvar o dia e deixar a luta mais fácil para que Shun e os outros acabem com seus inimigos.
O que deveria ser a parte mais enxuta e com combates mais francos de toda a saga do santuário é enfraquecida pelo excessivo número de fillers. Os últimos episódios guardam retornos de Ikki e Shiryu para seus lugares de origem, para enfrentar fracos oponentes, além da inclusão de um cavaleiro de prata sem constelação – Aracne de Tarântula – que basicamente só atrasa Seiya, que busca Mu em Jamiel, além da água milagrosa que curaria os olhos do Dragão. Sem armadura, Pégaso é atacado de modo covarde, e o combate é interrompido por Shô, Cavaleiro de Aço do Céu, o que faz da batalha algo ainda mais mequetrefe. Enquanto isso, a armadura de Sagitário simplesmente desaparece, parando no fundo do mar, deixando tanto Ares quanto todos na fundação Kido confusos.
E enfim o mistério dos cavaleiros de Ouro é quebrado. Miro de Escorpião é chamado ante o Mestre do Santuário, que após uma conversa fica perplexo com a queda dos cavaleiros de prata. O prenúncio da última parte da saga estaria ali, além da revelação de que os cavaleiros de ouro eram como uma sociedade secreta, onde até os membros do clã não sabem quem faz parte da classe. Aiolia se revela como cavaleiro de Leão, e se responsabiliza por encontrar Seiya e os outros, mas Miro é designado a vigiá-lo, para que não rume para a traição como seu irmão. Após lutar com Seiya, Aiolia quase mata Shina, mas ao discutir com Pégaso ele decide poupar a vida da amazona, ainda achando que os cavaleiros de bronze eram traidores da causa. Finalmente Dios de Mosca, Sirius de Cão Maior e Algethi de Hércules atacam o debilitado protagonista da série, ao mesmo tempo que questionam a fidelidade do Leão.
Em meio ao massacre, a armadura de ouro de Sagitário busca Seiya, e o protege do ataque de seus opositores, que com um único golpe, encerra o combate. A configuração da sagrada vestimenta é bem diferente da que foi mostrada em Guerra Galáctica, mas a explicação dada para isto, no mangá, simplesmente foi suprimida no desenho. Saori se revela ao irmão do pretenso traidor, revelando como Aiolos foi um homem bravo e como o “cavaleiro Ares” foi um traidor, até sugerindo sua real identidade. Aiolia assim se convence que ela é mesmo a reencarnação, mesmo negando para si, após Seiya reter o seu golpe da Cápsula do Poder. Pégaso consegue enxergar o poder na velocidade da luz, e logo após, Leão vê sobre seu adversário a imagem do fantasma de seu mentor injustiçado (figura abaixo).
Aos poucos mais e mais guerreiros dourados atacam os rapazes, com Máscara da Morte de Câncer e sua justiça condicionada ao poder, sendo encarregado de se livrar do cavaleiro de Libra, o Mestre Ancião. Ainda cego, o Dragão teima em enfrentar Câncer, mas é impedido pelo misterioso Um, que enfim se revela como o cavaleiro de ouro de Áries, e proíbe o confronto.
Hyoga, Shun e Seiya resolvem ir até o Santuário para ter um embate direto com Ares. O quadragésimo episódio serve para fechar o preâmbulo da luta das doze casas, rememorando a trajetória sangrenta que acometeu cada um dos moços, tendo em seu conteúdo até a súplica de Mino, que teme em não encontrar Seiya novamente.
A última luta é bastante sofrível, envolvendo dois fillers que teriam trabalhado com Shun na Ilha de Andrômeda, ao mesmo tempo que se descobre que Albion, cavaleiro de prata de Cefeus e mestre de Shun pereceu diante do poder de Miro de Escorpião, o que mostra o poder que essa elite carrega. O preâmbulo finalmente se encerra, e os jovens vão até a Grécia, junto a Atena, para finalmente realizar um embate entre Saori e a entidade que tentou assassiná-la. A parte clássica do anime se aproxima!
(Continua…)
Confira a Primeira Parte do Review da Saga do Santuário, correspondente a Guerra Galática.