Este provavelmente será o último da franquia idealizado pelo criador Hideo Kojima que, de certa forma, conseguiu fechar o arco cronológico entre Peace Walker (PW) e o Metal Gear de 1987. Estamos diante de um excelente jogo, porém um Metal Gear fraco.
Ano passado tivemos uma prévia do que seria este jogo com o lançamento do polêmico Ground Zeroes (GZ). Ali já era possível notar uma melhoria absurda na jogabilidade e parte técnica em geral, dando liberdade quase total ao jogador. Isso foi consolidado em Metal Gear Solid V: The Phantom Pain (TPP), o jogo mais ousado e megalomaníaco da franquia.
Big Boss saindo da Mother Base de helicóptero para mais uma missão
A primeira mudança drástica foi a implementação do mundo aberto, algo pouco comum na série. Já haviam indícios dessa liberdade em Portable Ops (PO) e PW, mas aqui o negócio ficou sério. Existem dois mapas gigantescos a serem explorados, e serão o palco das missões principais e paralelas. Snake poderá extrair inimigos com o simpático balão fulton, roubar recursos, desenvolver armas e equipamentos, alocar os inimigos extraídos nos diversos departamentos da Mother Base, dentre outras inúmeras funções. Percebam que a essência de PW está aqui, na parte de administração da Mother Base, só que agora de uma forma mais complexa e completa.
Vale destacar alguns pontos da Mother Base. Primeiro, você pode andar por ela, visitar as diversas plataformas, ampliá-la e… andar mais um bocado. A Mother Base é enorme, muito impressionante. Vale a pena passear por ela de vez em quando, há coisinhas escondidas bem interessantes (vasculhe bem a plataforma médica). E que gráficos lindos!
O que dizer da jogabilidade? Está perfeita. Eficiente, fluida, funcional, divertida, viciante. As horas passarão, você só vai querer fazer mais uma missãozinha e, quando menos esperar, já serão 3 horas da madrugada. O aspecto casual de PW foi elevado à enésima potência, só que muito mais divertido que o jogo do PSP.
Aí começa o problema. Metal Gear nunca foi um jogo casual. Sempre priorizou a história densa e deixou a parte técnica em segundo plano. Agora é o contrário: criou-se um jogo primoroso com uma história mediana. Existem dezenas de fitas para se ouvir toneladas de diálogos, horas e horas de conteúdo. Mas no final das contas, não acrescenta muitas coisas relevantes à cronologia. É triste dizer isso, mas no quesito história, TPP é dispensável. O final é surpreendente, foi arquitetado de uma forma magistral, mas… não precisava existir. As informações adicionais sobre os Patriots são boas, entretanto não se mostraram tão necessárias. Vejam bem, a história nem de longe é ruim. O problema é a falta de aprofundamento dos personagens e o subaproveitamento do vilão Skull Face. A comparação inevitável com a narrativa dos jogos anteriores deixa TPP bem inferior neste quesito.
Preparação para as missões. O emblema pode ser personalizado
Sabe o final de 70 minutos do Metal Gear Solid 4? Pois é, pelo menos ali tínhamos uma cutscene esplêndida. No caso de TPP, o final possui uma cutscene bem mais curta (e excelente). Em contrapartida, ganhamos nada mais nada menos que CINQUENTA MINUTOS DE ÁUDIO para ser ouvido em fitas. Para a compreensão plena do final, é importante ouvir todas as fitas do jogo, especialmente estas adquiridas após finalizá-lo. Por melhor que sejam as atuações de voz e qualidade dos diálogos, áudio em excesso cansa muito mais que cutscenes em excesso. Se você é fluente em inglês ou japonês e quiser arriscar ouvi-las durante as missões, boa sorte, talvez não seja tão maçante. O problema é que são áudios que demandam atenção, e caso não seja fluente nos idiomas, a leitura das legendas é essencial.
Voltando à jogabilidade, há muitas coisas que merecem destaque. Os métodos de stealth são espetaculares, Snake pode andar abaixado, caminhar lentamente sem emitir sons, rastejar, se pendurar, escalar, correr, opções não faltam. As técnicas do CQC (traduzido para CCD, Combate à Curta Distância) estão aprimoradas, há possibilidade de interrogar os inimigos com uma faca na garganta deles para que eles lhe deem informações por livre e espontânea pressão. Depois você decide se irá mata-lo ou apenas tirar sua consciência. Snake poderá contar com o apoio de alguns parceiros, desde um cavalo ao simpático cachorro DD. É possível solicitar suprimentos, armas, munições, veículos e outros parceiros durante a missão, que serão trazidos por seu helicóptero de suporte.
Os cenários estão soberbos. Bonitos, bem construídos e lógicos. Nas missões principais, você terá uma área limitada para atuar, e mesmo assim é um baita espaço. Já nas missões paralelas, o jogador está solto no mundo e poderá andar pelo mapa executando inúmeras missões sem a necessidade de retornar ao helicóptero.
Os danos sofridos por Big Boss serão refletidos em sua aparência. Snake ficará todo ensanguentado e continuará assim até voltar à Mother Base e tomar um banho, mais um detalhe simples porém interessante.
Existem diversos tipos de missões, do resgate de prisioneiros à destruição de veículos e estruturas. Apesar da repetição do formato, cada missão tem suas particularidades. O cenário ajuda bastante a dar uma sensação de que o objetivo das missões não se repetem, tornando a jogatina bem agradável e viciante. O que realmente incomoda foi a solução preguiçosa de aumentar a vida útil do jogo: repetir algumas missões, ao final do jogo, com dificuldade mais elevada. Estas missões irão desafiar a paciência de alguns jogadores, pois demandam um cuidado muito maior. E tal como em PW, geralmente não há checkpoints, portanto deve-se realizá-las numa tacada só. E nem sempre são missões curtas.
A dublagem está ótima. Desde o GZ já sabíamos que David Hayter foi substituído por Kiefer Sutherland para ser a voz de Big Boss. Por mais que Hayter seja o dublador clássico, Sutherland fez um excelente trabalho. É até difícil imaginar a voz de Hayter no Snake de TPP. Além de Sutherland, temos o talentoso e onipresente Troy Baker fazendo a nova voz de Ocelot. Christopher Randolph continua sendo a voz de Huey, pai de Otacom, também dublado por Randolph. Os soldados inimigos falam diversos idiomas, e será necessário capturar intérpretes para compreendê-los, , o que é bem interessante. Todo o texto do jogo foi localizado para o Brasil, e a tradução está ótima, com pouquíssimos erros e boas adaptações. Desnecessário foi, em determinado diálogo, colocarem “Santos Dummont” ao invés de “Irmãos Wright”, mas tudo bem.
Por mais estranho que seja dizer isso, TPP é um jogo fantástico, porém um Metal Gear abaixo da média. O aumento drástico na violência foi uma provável tentativa de atrair o grande público. Vai agradar aos novos jogadores e, talvez, incentivá-los a procurar os títulos anteriores. É um jogo que me prendeu por 100 horas, e mesmo assim trouxe sentimentos divididos. É o Metal Gear mais gostoso de se jogar e o mais tranquilo de se entender. Ele te exige um mínimo de dedicação para ouvir, pelo menos, as fitas principais, destacadas em amarelo na sua lista, e no final das contas não acrescenta coisas muito relevantes. Vale a pena jogar? Com certeza, será uma das melhores coisas que você irá jogar na vida. Se quiser saber o que é um Metal Gear de verdade, se aventure nos títulos anteriores, em ordem de lançamento, e entenda por que esta franquia é tão glorificada. Disponível para XBox360, XBox One, Playstation 3, Playstation 4 e PC.
Compre: Metal Gear Solid V – The Phantom Pain (PS4 | XBox One | PS3 | XBox 360)
Muito bom review, já terminei e agora estou tentando fazer 100%