Na virada do século XIX para o século XX, o anarquismo era a ideologia revolucionária mais radical, com mais adeptos e consequentemente a mais perseguida, tanto na Europa quanto na América. A forma com que se organizavam e viviam a política, sempre apaixonados, serviu de fonte de inspiração para várias histórias românticas, que muitas vezes terminaram de forma trágica, ainda mais no período de refluxo das lutas operárias após a queda da Comuna de Paris e consolidação da Terceira República. É nesse contexto histórico que o diretor Elie Wajeman escolhe para nos contar a história de Os Anarquistas, com roteiro de sua autoria juntamente de Gaëlle Macé.
Situado na França de 1899, o filme conta a história do policial Jean Albertini (Tahar Rahim) quando é recrutado pelo chefe de polícia para se infiltrar e passar informações sobre um grupo local de anarquistas parisienses. Jean aceita imediatamente e logo é colocado para trabalhar em uma das tantas fábricas para fazer contato com os supostos líderes do movimento. Dotado de carisma, ele logo faz amizade com Elisée Mayer (Swann Arlaud), Biscuit (Karim Leklou), Marie-Louise (Sarah Le Picard) Eugène Levèque (Guillaume Gouix) e a bela e jovem Judith (Adèle Exarchopoulos), por quem logo se sente atraído.
Logo, Jean conquista todo o grupo, enquanto continua provendo informações vitais para a polícia a respeito das ideias e das ações do grupo, o que torna confuso para o espectador entender as suas motivações, pois ao mesmo tempo em que o mostra preocupado e suscetível às ideias anarquistas e acolhido pelos ativistas, Jean não hesita em momento algum em continuar a informar seus atos à polícia. Ele não tenta esconder ou mesmo dar informações falsas. Continua sem problema algum, mesmo estando apaixonado por Judith.
Filmes sobre política com casais apaixonados como protagonistas raramente resultam em algo positivo, e nesse caso não é diferente. Apesar de todo o rico contexto histórico da época, os anarquistas do grupo não fazem muita coisa além de reuniões e festas. Ao mesmo tempo, as investigações policiais não oferecem muito risco a eles, a não ser no desfecho da história. O que parece é que todo o contexto foi utilizado apenas para contar a história de Jean e Judith, dois apaixonados de lados diferentes que não poderiam ficar juntos. Se esse fosse o caso, chamar o filme de algo diferente de Os Anarquistas teria sido mais interessante. Porém, a força de tal título, mesmo sem embasamento na história, era mais sedutora.
Mesmo que visualmente o filme seja vislumbrante com a tonalidade opaca e azul, de tempos sombrios que o grupo e a França estavam vivendo, assim como a brutalidade da vida do pobre da época (que também poderia ser mais explorada), Os Anarquistas falha até mesmo em nos fazer sentir cativados pelo grupo, transformando o anarquismo numa série de bordões e frases bonitas que mais parecem desculpas de jovens para um estilo de vida alternativo do que realmente uma ideologia política. No final, sobra apenas um vazio que a história não conseguiu preencher.
Para quem procura uma história rica tanto no sentido político, ou no sentido romântico, ou mesmo na soma destes dois elementos, infelizmente Os Anarquistas deixa a desejar em todos eles.
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Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.