Primeiro longa metragem de Felipe Sholl, diretor que já excursionou com seus curta Tá e Gisela por festivais do Brasil e do exterior, além de ter sido roteirista dos interessantes Hoje, de Tata Amaral, Campo Grande de Sandra Kogut e Histórias Que Só Existem Quando Lembradas de Julia Murat, Fala Comigo mira uma discussão sobre os costumes da classe média e um humor que tenciona ser ácido e ágil mas que jamais atinge o tento.
O filme começa a partir da rotina de Diogo (Tom Karabachian), um menino de 17 anos que de vale dos relatórios psicanalíticos de sua mãe Clarice (Denise Fraga) para ligar para as pacientes, se masturbando ao ouvir as vozes femininas. O quadro muda da tara e abuso platônico por parte do ente masculino quando Ângela (Karine Teles) percebe a trama e responde ao garoto, convidando- o para adentrar a sua intimidade agora de uma maneira física e oficial. A partir dali uma relação carnal se estabelece, com direito a juras de amor, polêmicas sexuais bem baixas e claro, um tabu social encontrado na distância de idade entre o novo casal.
A ideia de mostrar uma família em frangalhos é muito boa e a tentativa de naturalizar isso poderia soar genuíno, mas não é o caso. A consumação das fantasias do personagem principal soam bobas e fantasiosas, típica das conversas de homens feitos entre uma bebida e outra, quando esses mentem a respeito de seus tentos sexuais do passado. Essa irrealidade não só é levada a sério como é regada por uma tentativa de humor fraca e que banaliza os arquétipos psicológicos estabelecidos tradicionalmente, além de abrir um precedente ético que a priori, não devia ter lado cômico.
É curioso como houve um costume por festivais, sessões especiais e claro por quem estava envolvido no longa de se elogiar o roteiro. O começo da trama tem um folego interessante, bem como um potencial para crescimento que logo é deixado de lado para se estabelecer uma pueril tentativa de fuga dos personagens emocionalmente envolvidos. Há um descarte desnecessário das boas tramas e das personalidades interessantes dentro do filme. A disposição dos atores é bastante grande, ainda que não haja material sólido para que Teles, Fraga e Emílio de Mello possam trabalhar. Fala Comigo perde muito tempo tentando chocar via polêmica e trata pouco dos dramas universais ali retratados, deixando muito a desejar se comparado premissa e execução.