Tag: Karine Teles

  • Crítica | Benzinho

    Crítica | Benzinho

    Benzinho é um filme brasileiro independente, de baixo custo  e bem simples, dirigido por Gustavo Pizzi e roteirizado por Pizzi e Karine Teles que trata da historia de uma família grande que tenta se organizar e viver com as mudanças comuns ao crescimento de cada um de seus membros. O modo com a historia se desenrola é emocional, mas não deixa a racionalidade de lado, ao contrário, é sobre o pilar da realidade e do saudosismo que o longa se mantem de pé.

    Irene (Karine Teles) é casada com Klaus (Otavio Muller), eles tem 4 filhos, sendo que o mais velho deles, Fernando (Konstantinos Sarris) é tão bom no que faz – ele joga handebol – que surge a oportunidade dele viajar e ir até a Alemanha. A família, que já tem dificuldades financeiras enormes pelo fato de seu pai não conseguir muito sucesso nos empreendimentos que tenta levantar, ainda tem que conviver com a presença de Sônia (Adriana Esteves), uma mulher que for agredida por seu marido e foi para a casa da irmã, com seu filho, aumentando ainda mais o tamanho do núcleo familiar.

    O lugar que eles chamam de lar é uma casa velha, com problemas sérios de encanamento, eletricidade e até com a porta. Todos tem que entrar por uma janela que dá para um dos quarto, com um escada improvisada, e tal qual acontece com essa escada, as soluções dentro do filme são igualmente paliativas, as pessoas vão simplesmente vivendo remendo atrás de remendo, achando soluções provisórios para problemas recorrentes, e surpreendentemente essa jornada faz sentido, afinal é como a maioria das famílias brasileiras vivem, mesmo as que já tiveram algum poder aquisitivo como parece ser a focada pelas lentes de Pizzi.

    Há conflitos com pessoas externas, Mateus Solano faz um pequeno papel que ganha importância em um momento chave da trama, mas são as brigas, dissabores e perdoes familiares que mais evocam emoção. São explorados muitos medos comuns , o receio de ver os filhos crescerem e se tornarem independentes, de perder as crias que aliás é comum entre as duas mães Irene e Sônia, além é claro de já ter que se lidar com os problemas comuns e corriqueiros de se administrar uma casa praticamente sozinha.

    Benzinho é sobre Irene, até o nome do filme mostra isso, sendo a forma dela chamar quem lhe é querido, mas trata de tantos outros aspectos de sua mente e psique, como o modo de lidar com seu passado de possível escravidão infantil e a Sindrome de Estocolmo decorrente disso, onde ela ainda trata bem a patroa de seus pais, ou a perda da casa de praia em Araruama que ela tanto gostava, para enfim ter dinheiro para investir em mais uma nova empreitada aventureira de seu marido. Curioso é que o filme fala de maneira muito certeira sobre assunto pesados sem perder a emoção que lhe corre desde o inicio, compondo um quadro de belas imagens, atuações e entregas do elenco e demais membros da produção. É um filme de fato sobre medidas provisórias e sobre a dificuldade de seguir em frente, embora seja claramente preciso, e que estabelece muito bem um retrato das famílias cariocas e fluminense, especialmente quando a câmera enquadra Teles e Muller, um casal cheio de falhas, afetos e que se derramam em alma e talento aqui.

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  • Crítica | Fala Comigo

    Crítica | Fala Comigo

    fala-comigo

    Primeiro longa metragem de Felipe Sholl, diretor que já excursionou com seus curta Gisela por festivais do Brasil e do exterior, além de ter sido roteirista dos interessantes Hoje, de Tata Amaral, Campo Grande de Sandra Kogut e Histórias Que Só Existem Quando Lembradas de Julia Murat,  Fala Comigo mira uma discussão sobre os costumes da classe média e um humor que tenciona ser ácido e ágil mas que jamais atinge o tento.

    O filme começa a partir da rotina de Diogo (Tom Karabachian), um menino de 17 anos que de vale dos relatórios psicanalíticos de sua mãe Clarice (Denise Fraga) para ligar para as pacientes, se masturbando ao ouvir as vozes femininas. O quadro muda da tara e abuso platônico por parte do ente masculino quando Ângela (Karine Teles) percebe a trama e responde ao garoto, convidando- o para adentrar a sua intimidade agora de uma maneira física e oficial. A partir dali uma relação carnal se estabelece, com direito a juras de amor, polêmicas sexuais bem baixas e claro, um tabu social encontrado na distância de idade entre o novo casal.

    A ideia de mostrar uma família em frangalhos é muito boa e a tentativa de naturalizar isso poderia soar genuíno, mas não é o caso. A consumação das fantasias do personagem principal soam bobas e fantasiosas, típica das conversas de homens feitos entre uma bebida e outra, quando esses mentem a respeito de seus tentos sexuais do passado. Essa irrealidade não só é levada a sério como é regada por uma tentativa de humor fraca e que banaliza os arquétipos psicológicos estabelecidos tradicionalmente, além de abrir um precedente ético que a priori, não devia ter lado cômico.

    É curioso como houve um costume por festivais, sessões especiais e claro por quem estava envolvido no longa de se elogiar o roteiro. O começo da trama tem um folego interessante, bem como um potencial para crescimento que logo é deixado de lado para se estabelecer uma pueril tentativa de fuga dos personagens emocionalmente envolvidos. Há um descarte desnecessário das boas tramas e das personalidades interessantes dentro do filme. A disposição dos atores é bastante grande, ainda que não haja material sólido para que Teles, Fraga e Emílio de Mello possam trabalhar. Fala Comigo perde muito tempo tentando chocar via polêmica e trata pouco dos dramas universais ali retratados, deixando muito a desejar se comparado premissa e execução.

  • Crítica | Que Horas Ela Volta?

    Crítica | Que Horas Ela Volta?

    Que Horas Ela Volta 1

    Pensado em sua essência para estabelecer o diálogo com o público, que é representado por seus personagens principais, Que Horas Ela Volta? apresenta um drama real e comum, cuidadosamente orquestrado pela diretora Anna Muylaert, a mesma do surpreendente Durval Discos, e do simpático Obrigado Por Fumar. O filme, protagonizado por Regina Casé, representa um passo à frente na carreira de todos os envolvidos na produção do longa-metragem, resultando em um texto sólido e uma atuação assustadoramente sóbria da apresentadora global.

    Val é uma retirante que no início do filme é enquadrada em cenas turvas ou de costas, numa representação que une a impessoalidade de sua profissão, como cuidadora e babá, e um modo de fugir da dificuldade em maquiar Casé para simular uma drástica passagem de tempo. Já nos primeiros minutos é estabelecida uma profunda carência, tanto da protagonista quanto da criança da qual esta cuida, o jovem Fabinho – que na fase moderna seria representado por Michel Joelsas –, ambos sem as figuras de adulação que gostariam de ter por perto: a mulher sentindo falta de Jessica, sua filha que ficou no Nordeste, enquanto o rapaz pergunta a que horas sua mãe voltaria.

    Na fase atual, Val é tratada a priori com muito respeito por parte de seus dois patrões Barbara (Karine Teles) e Carlos (Lourenço Mutarelli), um casal de condições financeiras abastadas, que tem um ideário bastante diferente: a esposa histriônica e esnobe profissional de moda, e o marido um homem rico, depressivo e de gostos artísticos refinados. A construção das personagens é baseada em homens e mulheres comuns e seus arquétipos, algo que para o espectador mais ranzinza pode significar simplismo. No entanto, essa representação tenta atingir avatares universais para alcançar o maior denominador comum, uma ponte de fácil travessia para o público retratado, facilitando a compreensão para o espectador mais simples, mas sem subestimá-lo.

    A chegada de Jéssica (Camila Márdila) a São Paulo, para prestar vestibular para uma faculdade muito concorrida, mexe com a rotina de todos, especialmente com o ideário de Val. A herdeira é o exato oposto de sua matriarca, uma moça inteligente, contestadora, que não aceita a divisão de classes, algo que faz obviamente entrar em rota de colisão com o pensamento de Bárbara, estabelecendo uma relação que se deteriora a cada momento, de modo gradativo e fluído.

    Os temas discutidos são maduros, mas seu discurso não possui qualquer intenção de parecer panfletário ou gratuitamente culposo para as figuras da classe média alta brasileira. O estabelecimento da hierarquia é realizado com uma certa dose de crueldade, no entanto é pouco ácido, visto que não é necessário vilanizar ou demonizar as figuras que exploram o proletariado, para não desumanizar os que se valem do esforço alheio mal remunerado para ter seu conforto. Os abusos são muito mais emocionais e certeiros do que os dos folhetins mexicanos, com causas, brigas e efeitos bastante condizentes com a realidade.

    Que Horas Ela Volta? é um singelo conto de solidão, submissão e subversão de conceitos, onde o instinto de sobrevivência é louvado, mas ainda assim bastante discutido. A trajetória de Val, Jéssica e tantas outras mulheres é mostrada de um modo simples, tocante, emocional e realista, referenciando em tela o universo de tantos brasileiros da parte norte e produzindo alguns pequenos momentos de vingança. A obra apresenta uma trajetória edificante e de franca evolução, a despeito de um breve apelo à suspensão de descrença, o que evidentemente não compromete a ternura da história.