Resenha | Flash: Seguindo em Frente

A nova fase da Dc Comics, Renascimento, promoveu o natural distanciamento dos Novos 52, e aprofundou a opinião de alguns leitores que hoje afirmam que os Novos 52 foram uma pequena distorçam que a nova fase intenta corrigir. Afinal, a linha dos N52 foi um reboot agressivo e todos sabiam que, em algum momento, tudo iria mudar novamente.

Críticas e discussões à parte, os Novos 52 se tornou passado mas ainda estão em alta, principalmente devido a popularidade dos encadernados, naturalmente, selecionando as histórias mais renomadas das diversas revistas descartáveis lançadas mensalmente. A Panini Comics vem tentando seguir a lógica americana de transformar títulos populares e elogiados em edições encadernadas (especificamente, nos Estados Unidos, quase tudo sai em compilados, a diferença é que somente os mais rentáveis ganham versão em capa dura). Um novo formato que sempre conquista uma nova parcela de público, além daqueles que, mesmo com a revista mensal, compram novamente o material em uma qualidade melhor.

O fato é que a quantidade de títulos lançados pela casa, ao todo 52 mensais em sua primeira fase, era incompatível com a quantidade de bons roteiristas disponíveis. Dessa maneira, há histórias difíceis de serem lidas, principalmente em personagens menores, afinal, os medalhões sempre são destinados a grandes personagens. Nesse caso, coube a Francis Manapul assumir a releitura de Flash. O autor já havia trabalhado com a personagem na fase de Geoff Johns e assumiu tanto roteiro quanto desenhos durante as 25 primeiras edições do título.

Lançado em formato encadernado pela Panini em 2015, a primeira edição de Flash, Seguindo em Frente, compila os oito primeiros números da revista homônima americana, apresentando duas histórias. Considerando o distanciamento temporal entre a publicação e a nova fase da DC, é possível observar como o roteirista inseriu sua versão de Flash neste novo universo em que os personagens foram rejuvenescidos, com muitas tramas inseridas logo após sua origem como heróis. Dessa forma, como outros medalhões da casa, Flash está iniciando uma carreira como herói logo após descobrir seus poderes e ainda superando suas limitações.

Como todo arco inicial de uma história, pressupõe-se que um novo público lerá a história. Dessa maneira, algumas bases da personagem são apresentadas de maneira didática. Nos quadros, Barry Allen mantém as características básicas de sua versão pré-reboot, porém, ainda é um herói novato tentando descobrir o significado da força de aceleração. Nas histórias, o Flash é visto de maneira contrastante entre herói e vilão, em parte porque, ao desconhecer a própria força, promove a destruição da cidade em um apagão generalizado em Keystone City.

Conforme o personagem evolui sua compreensão sobre seus poderes, com a ajuda de um cientista, também vai adquirindo maior personalidade. Neste início, Manupau alterna bons e maus momentos em sua histórias. Como trata-se de uma trama inicial, o roteirista desenvolve com qualidade o herói central, mas a trama fica em segundo plano, principalmente ao deixar qualquer linearidade de lado para focar em grandes cenas de ação.

Contudo, é possível observar a potência da personagem dentro do universo, potência tanto como personagem solo como herói poderoso. Afinal, em todo o universo DC, Flash sempre foi capaz de resolver diversas crises, tanto as clássicas como a mais recente, Ponto de Ignição, parte da justificativa para as alterações dos Novos 52. Se o roteiro é um pouco desestruturado na primeira história, ele cresce na segunda, destacando o Capitão Frio, um dos clássicos vilões da galeria do herói. Uma história equilibrada em que o didatismo não exagera em cena. Os atos do vilão servem como contraponto natural ao heroísmo de Barry, sem nenhuma explicação desnecessária.

Manupul também merece destaque na composição dos quadros, muitas vezes, feitos a partir de um close de um personagem e dividindo os demais de maneira não-usual. Há, por exemplo, uma bonita página dupla com um personagem chorando e as lágrimas dividindo os quadros. Uma cena dinâmica que causa forte impacto. As cores de Brian Bucelato também estão em sincronia com a história sem exagerar nas cores escuras como certas vertentes da editora ao forçar um realismo. Os tons pasteis casam com a leveza do roteiro e demonstra que o roteirista compreendeu bem a sua missão em apresentar a personagem a uma nova versão de si mesma.

Flash – Seguindo em Frente é um inicio promissor que, apesar do didatismo, transformou-se em um dos recomeços mais elogiados dessa fase, provando que nem tudo foi perdido nessa longa empreitada da Dc Comics.

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