Feliz Natal foi a estreia de Selton Mello como diretor e um dos mais importantes filmes de 2008. O drama acompanha Caio – interpretado por Leonardo Medeiros – e sua família, que desmorona um pouco mais a cada dia. Ao deixar sua esposa cuidando de seu ferro-velho, a personagem vai passar o Natal com os familiares depois de anos sem vê-los. É partir desta noite que conhecemos e entendemos todas as problemáticas que circunda o passado dessas pessoas.
O filme é nada mais nada menos do que um grande palco, com um elenco de peso e em grande parte muito afiado. Mello que também montou o filme ao lado de Marilia Moraes faz com que cada personagem tenha um momento de destaque, e nesse caso, de estouro. É comum que atores e atrizes que embarcam no trabalho atrás das câmeras priorizem performances. Aqui elas funcionam bem demais em alguns momentos, sendo o principal deles a festa de Natal. Em uma montagem rápida e uma câmera nervosa, o personagem de Caio vai desencadeando conflitos por toda a casa e um plano sequência fenomenal protagonizado por Darlene Glória conclui o trecho.
A personagem dela e a festa, inclusive, são os maiores atrativos do longa. Depois disso, a produção entra numa monotonia desagradável. Os planos aproximando e distanciando dos personagens são belíssimos e a iluminação mínima cria uma estética interessante, mas a proposta do diretor em criar situações para todos seus astros brilharem soa como revezamento e nunca como continuidade. E tal impressão se mantém até o desfecho. A escolha de caminhar entre a culpa de seu personagem principal e os segredos e problemas de sua família sem grandes explicações ajuda a dar fôlego para a narrativa, porém em um ponto da jornada já sabe-se os motivos de alguns personagens serem como são e o longa perde o interesse.
O final, pelo menos, tem bons momentos. A história ganha uma justificativa e as consequências são tão bem filmadas quanto simbólicas, além de trazer de volta a aura de “tragédia familiar” que o filme devia ter seguido desde a festa de Natal. Por fim, Feliz Natal é uma grande estreia para Mello e deixa claro que o ator e diretor tem assinatura e estilo. Além de saber criar bons momentos para as performances de seu elenco, ele também não peca em seus temas, mas é uma pena que o filme se perca em sua própria estrutura e acabe falando muito sem falar quase nada.
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Texto de autoria de Felipe Freitas.
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