Embora o Superman seja um dos personagens mais populares da DC Comics (afinal, é o primeiro super-herói), existe uma dificuldade muito grande em encontrar autores que saibam trabalhar com o personagem sem torná-lo enfadonho para novos leitores – principalmente aos que já torcem o nariz para o herói naturalmente. Em sua série regular, geralmente temos o feijão-com-arroz que, se não traz nada de realmente progressista para o personagem, ao menos apresenta uma qualidade razoável de ação e aventura que mantém sua base de leitores fiéis até hoje, há 80 anos. Porém, sempre que alguém tenta inovar nos roteiros acaba correndo um risco muito grande de não agradar nem seus fãs, nem os não-fãs. Mesmo as obras mais aclamadas pela crítica, como Grandes Astros: Superman, de Grant Morrison e Frank Quitely, encontra certa resistência para o leitor que não aceita o lado mais fantasioso (e icônico) do herói. Por outro lado, algumas abordagens mais realistas como Lex Luthor: Homem de Aço, de Brian Azzarello e Lee Bermejo, pode parecer cínica e desesperançosa demais para quem quer apenas ler uma boa aventura do azulão, sem se preocupar com questões filosóficas.
Superman: Alienígena Americano, de Max Landis, abraça ambos os conceitos, criando sete histórias sobre Clark Kent, cada uma com um estilo diferente de arte e narrativa. Mesmo contemplando os superpoderes do personagem e todo o lado fantástico, Landis conta a história pela ótica do próprio Clark, em momentos diferentes de sua vida que vão da infância em Smallville até sua consagração como herói de Metrópolis. Embora não seja necessariamente uma nova história de origem, vemos o jovem Kent aprendendo a lidar com seus poderes, conhecendo suas limitações éticas e morais, cometendo erros que qualquer um de nós também cometeria se estivesse no lugar dele. Talvez seja por isso que é fácil se identificar com o Clark Kent nessa série, porque ele é muito mais que apenas um estranho visitante de outro planeta. Ele é um de nós que, por acaso, não é da Terra.
Se a princípio podemos nos lembrar da telessérie Smallville e suas cansativas dez temporadas, logo na segunda história vemos que este Clark é um tanto diferente do retratado por Tom Welling. Aqui, o Clark adolescente demonstra já ter usado seus poderes para proveito próprio (principalmente a visão de raios-x), bebe cerveja escondido com seus amigos Pete Ross e Kenny Braverman (que em nenhum momento demonstra traços de sua versão dos anos 90 que se tornou o vilão Conduíte), se passa por um famoso milionário em uma festa num iate e, já na vida adulta, tem um conturbado namoro com Lois Lane. Ainda assim, procura fazer o que é certo, mesmo tendo que lidar com as consequências (ou às vezes não). Vemos seu pai adotivo ajudando-o a usar seus poderes quando criança, seus vizinhos e autoridades locais ajudando a manter seu segredo – e a preocupação que eles têm com Clark quando ele assume o alter-ego de Superman. Temos uma explicação simples e tão genial sobre o disfarce dos óculos que me pergunto como nenhum autor pensou nisso em 80 anos! Os mais icônicos vilões do kryptoniano fazem parte da história, vemos um Lex Luthor muito próximo de algo que poderia ser sua versão definitiva, e a história de uma página do Sr. Mxyzptlk é, ironicamente, a mais realista de todas! Temos comédia, ação, drama, aventura, ficção… Tudo se encaixa e mostra que é possível contar histórias tão variadas com um mesmo personagem quanto a imaginação e competência do escritor puder permitir.
A edição nacional da Panini Books, em capa dura, traz o logo comemorativo de 80 anos do personagem na capa, além de cartões com as artes de algumas capas como brinde. Superman: alienígena americano é tudo que se propõe ser: uma história do homem por trás da capa vermelha. Já nasceu como a melhor história do Superman desta década, conseguindo cumprir a difícil tarefa de ser uma leitura interessante para quem já é fã do Superman e para quem ainda não é.
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