Após um dos melhores episodio “filler” de Titans, chega finalmente o piloto de Doom Patrol, que promete traduzir em tela toda a lisergia dos quadrinhos da Patrulha do Destino, um grupo espacial, formado por desajustados, criados por Arnold Drake, Bruno Premiani e Bob Haney e que serviu de inspiração não oficial aos X-Men da Marvel, além de reunir grandes escritores em torno de seus runs, em especial, Grant Morrison.
O episódio vai introduzindo cada um dos seus personagens, com destaque ao personagem Robot-Man o Homem Robô, vivido por Brendan Fraser, que começa como um bon vivant, piloto de corridas que ludibria sua mulher e família sendo um cafajeste traidor e falso, sofrendo uma tragédia na pista, causada de maneira proposital pelas pessoas que ele enganou. Entre 1988, ano da colisão e 1995, ele é cuidado por um doutor em uma cadeira de rodas, chamado Niles Caulder, de codinome Chefe, vivido pelo eterno James Bond Timothy Dalton. Por mais pesada que seja a situação, o episódio de Glen Winter não é demasiado expositivo, ao contrário, causa curiosidade para ver mais momentos dessas pessoas, além de causa um saudosismo nos fãs dos dois atores, que não tem tido tantos trabalhos quanto seus carismas e antiga fama fariam merecer.
Dois outros personagens são introduzidos, o Homem Negativo, de Matt Bonner e Matthew Zukk um ex-piloto acidentado, que tem seu corpo queimado, e Rita Farr (April Bowlby), a Mulher Elástica, uma bela ex-atriz que após encontrar um estranho objeto, que a fez ficar com a pele enrugada, para dizer o mínimo. Num quesito esta produção supera e muito Titans, pois aparentemente ela já tem uma identidade formada, culpa de seu principal produtor, Jeremy Carver, e seus apelos emocionais são mais fortes e mais maduros que a rejeição que Ravena sente por ser o que é. Aqui, todos os personagens tentam entender o que são, e tem que lidar com um passado imperfeito e cheio de percalços.
Os personagens parecem de verdade, são imperfeitos, sobretudo Cliff, que descobre aos poucos o que aconteceu ao seu passado e como realmente morreu. Brendan Fraser jamais foi um ator conhecido por seu dotes dramáticos, sempre foi encarado como um sujeito carismático que um dia foi bonito e agora, após um bom tempo no ostracismo, ele tem chance de fazer um papel trágico, e com um desempenho invejável.
Incrivelmente este piloto consegue funcionar como um filme de origem típico da Marvel, mas de maneira resumida, apesar de não soar apressado, nos primeiros 30 minutos. Até o artifício de um narrrador em off é bem utilizado, e dá um tom engraçado a série. Os poucos minutos que se vêem de Diane Guerrero (de Orange is The New Black) atuando como Crazy Jane são fascinantes, não só pela personagem ter múltiplas personalidades, mas também pela complexidade com que a câmera lida com ela, sem atalhos narrativos, como Fragmentado de M Nigth Shyamalan fez, por exemplo. Há um cuidado especial com o roteiro, para que todo o seu conjunto dramático seja levado a sério, mesmo que a estética tenha um pouco do já utilizado nas outras séries de Greg Berlanti (um dos produtores executivos, responsável por Arrow, Flash e Cia). A ideia de expandir conceitos e falar de forma adulta do mundo fantástico dos super heróis é bem construída nesse episódio, e combina demais com os quadrinhos clássicos da Patrulha.
Próximo do final, ainda há uma sequência em que os personagens tem de lidar com uma situação limite, de stress e descontrole, que os obriga a agir de modo heroico, coisa que até então então eles não são, e cada um, da sua forma, tenta colocar em prática suas super habilidades, para tentar proteger os civis. Por mais calamitoso que fique o cenário após a aparição em público de Crazy Girl, Rita, Homem Negativo e Homem Robô, os fatos se encaminham de volta a normalidade, mesmo contra os pedidos do mentor, mas não sem antes chamar a atenção da mídia, assustada com as aberrações que ali apareceram.
A expectativa para Doom Patrol é a de um drama adulto ser tratado em tela, isso com o pouco que é mostrado do Senhor Ninguém (Alan Tudyk) e o que ainda nem é mostrado do Cyborg. Os efeitos especiais parecem caros, mesmo se tratando de uma produção para a televisão, não deixam nada a desejar ao cinema guardadas as devidas proporções e todos os ingredientes parecem estar ali prontos para serem misturados e para produzir uma experiência audiovisual tão viajandona quanto os gibis clássicos do grupo, e o que se assiste nesse episódio inaugural é bastante promissor.