Crítica | A Fotografia Oculta de Vivian Maier

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A Fotografia Oculta de Vivian Maier (Finding Vivian Maier, EUA, 2013, Dir: John Maloof & Charlie Siskel) apresenta uma personagem peculiar e até então desconhecida do público: uma babá e empregada doméstica que está redefinindo todo o conceito de fotografia urbana do século XX.

John Maloof acabou descobrindo o trabalho fotográfico de Vivian Maier por acaso em um leilão e passou a promover um resgate artístico, por meio de galerias e museus, e pessoal, através de depoimentos de uma amiga e dos adultos que eram as crianças que ela cuidou.

A narrativa do filme escolheu apresentar o resgate do diretor pelas suas fotos: desde os negativos não revelados no leilão, disponibilizá-las na internet, contactar museus e galerias, até começar a vendê-las em mostras. Isso dá a chance ao espectador entender o impacto que o trabalho de Vivian Maier teve no final dos anos 2000. Porém, ao ser o narrador e apresentador do filme, e enfatizar a sua importância no processo, John Maloof cai no erro de tentar virar um personagem tão relevante quanto o seu objeto de pesquisa.

Uma das partes mais interessantes é quando outros fotógrafos de renome começam a analisar as fotografias, e a partir daí que vemos a importância do trabalho de Vivian Maier como registro urbano do séc XX. A fotógrafa é praticamente uma jornalista de imagens, em especial das classes média e média baixa e principalmente dos mais pobres. É ali que vemos a moda, os costumes, o jeito de agir das pessoas durante as décadas que se passavam.

Outro acerto do filme é quando o diretor passa a procurar pela pessoa. Quem é Vivian Maier? Como ela conseguiu tirar essas fotos? Como uma babá e empregada doméstica conseguia tirar fotos na sua Rolleiflex, a máquina fotográfica alemã que não precisava ficar na altura dos olhos. Com isso, Vivian teve a possibilidade de registrar as pessoas e situações urbanas sem que estas percebessem.

No entanto, a maior falha do documentário é não informar ao espectador como as fotografias se tornaram um objeto complexo, e que esta questão está gerando um processo de direitos autorais dos mais complexos dentro dos Estados Unidos. O filme narra a ida do diretor até uma cidade francesa para encontrar o parente mais próximo de Maier, mas não é suficiente. Um advogado e fotógrafo amador de Chicago entrou com um processo contra o diretor justamente para impedi-lo de lucrar com os direitos autorais de outra pessoa e rebate a sua versão; ele acabou encontrando outro parente próximo de Vivian em outra cidade francesa.

A Fotografia Oculta de Vivian Maier é um filme com alguns problemas em sua concepção, mas merece ser visto por quem se interessa pela fotografia não só como registro de época, mas também como obra de arte.

Texto de autoria de Pablo Grilo.

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