“Quem não tem criatividade para criar tem que ter coragem para copiar”. Muitas obras seguem à risca esse pensamento e podemos notar isso muito bem nos últimos anos, já que a maioria dos grandes sucessos na literatura e no cinema não passam de re-contextualizações de temas e histórias clássicas. Jogos Vorazes, adaptação de uma série de livros de mesmo nome, está aí como mais novo representante desse fenômeno e o faz muito mal.
Em um mundo pós-apocalíptico, o governo da Capital realiza anualmente um doentio reality show em que 24 jovens devem se enfrentar até sobrar apenas um vivo. A história se foca em Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence), uma garota do Distrito 12, que se voluntaria a participar do programa substituindo sua irmã mais nova, que havia sido escolhida no sorteio.
Battle Royale (2000), filme do diretor Kinji Fukasaku baseado na obra homônima de Koushun Takami, não sai da minha cabeça em nenhum momento do filme. Muitos podem achar tendenciosa essa análise, mas todos os elementos principais daquela história estão presentes no filme de Gary Ross: governo obrigando jovens a matarem uns aos outros simplesmente para reafirmarem sua soberania frente à população, basicamente. Porém o problema não é a re-utilização da ideia, mas a falha em sua execução.
Imagino que em um cenário em que cidadãos ordinários são colocados para matarem uns aos outros em um reality show (considerando que eles não tem escolha se querem ou não fazer aquilo), o que mais deveria ser explorado seriam os conflitos internos e os pensamentos obscuros que circunscreveriam os “participantes”. Aquelas pessoas não são homicidas. Apenas foram obrigadas a estarem ali. Em Jogos Vorazes essas dúvidas e hesitações não existem e, por isso, podemos ver jovens entre 12 e 18 anos matando umas as outras como se tivessem sido criadas para isso. O fato de ser uma ficção científica não exime dessa responsabilidade, já que notamos que a população no geral está descontente com esses jogos. Vale dizer inclusive que o filme sequer poderia ser considerado uma “ficção científica”, pois as aparentes tecnologias futuras não fazem diferença alguma na trama (no máximo aparece uma nave voando, que também não faz nada).
Os personagens são vazios e não evoluem conforme os fatos vão se desenvolvendo. A protagonista interpretada por Lawrence – a qual é uma atriz muito boa, porém seu papel no filme não valoriza sua atuação – sequer consegue convencer de que as mudanças abruptas que estão ocorrendo em sua vida a estão realmente afetando. Os personagens são completamente desprovidos de sentimentos e tirando por dois momentos de “emoção forçada”, o filme não convence. Inclusive temos uma tentativa de um romance, contracenado com o ator Josh Hutcherson (que interpreta Peeta Mellark), o qual simplesmente se demonstra ambíguo, fazendo com que não conseguimos saber até que ponto existe sinceridade na personalidade de ambos personagens. As atuações de Lenny Kravitz (sim, pra mim foi uma surpresa vê-lo no filme também), Stanley Tucci e Elizabeth Banks apenas se resumem aos seus visuais “futurísticos” que se aproximam do bizarro, muito provavelmente inspirados pela cantora Lady Gaga.
Outro fato que incomoda muito é a ausência de violência em um filme cujo pressuposto inicial são “pessoas se matando em um reality show”. O diretor Gary Ross optou por escolher todas as opções erradas, inclusive na hora das cenas de ação, as quais ao invés de serem minimamente interessantes acabam se tornando confusas e sem nexo, pois a única coisa que vemos são borrões de movimentos causados por uma câmera bagunçada, que não tem coragem de mostrar a violência que o filme, em tese, se propõe.
Tal como Crepúsculo se aproveitou das lendas dos vampiros e lobisomens para fazer uma contextualização mais “atual”e voltada para um público mais jovem, Jogos Vorazes faz a mesma coisa com Battle Royale (entre outras referencias) e perpetua um filme ruim, que não se sustenta e não cumpre sua proposta.
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Texto de autoria de Pedro Lobato.
Você também pode conferir a minha análise do filme, com um ar um pouco mais descontraído (e ainda sob fase de melhorias), em formato de vlog no primeiro episódio de FASTBURGER. Confiram logo abaixo:
– Texto de autoria de Pedro Lobato.
Aprovado!
Assisti ao filme! Que arrependimento, filme extramente chato, a história não anda! Muito fraco!
Bom cara, mas ainda tem que melhorar um pouco essa retórica.
Quanto ao filme, ele é a versão crepúsculo do clássico “the running man” (o sobrevivente)..
Que chatice. O filme foi feito para crianças, não entendi pq tanta revolta e acho que ainda é muito cedo para analisar os personagens e a ficção cientifica do mundo de jogos vorazes, ainda tem mais dois filmes pela frente.
Júlio, imagino que em uma boa história (me referindo aqui a clássicos literários e sua lógica) o primeiro livro/filme é o que abre as portas para os personagens, o universo e o que está se passando, para que eles sejam maturados e desenvolvidos no segundo livro/filme e concluídos no terceiro. A essa altura é o momento certo pra se analisar os personagens e o cenário de ficção científica. Na minha opinião, esse filme (repito, não li o livro, portanto minha análise não é a do livro) é fraco de conteúdo e coerência. Exatamente o fato de ser um filme para crianças com esse tema já torna tudo sem sentido. Enfim, de qualquer forma, obrigado pelo comentário, cara!
“Aquelas pessoas não são homicidas. Apenas foram obrigadas a estarem ali. Em Jogos Vorazes essas dúvidas e hesitações não existem e, por isso, podemos ver jovens entre 12 e 18 anos matando umas as outras como se tivessem sido criadas para isso.”
você tá certo. não é como se elas fossem criadas PARA isso (apesar de que algumas, dos distritos mais ricos, de fato são), mas foram criadas nessa realidade, com essa consciência, sabendo que poderiam estar ali quando fossem jovens.
” Vale dizer inclusive que o filme sequer poderia ser considerado uma “ficção científica”, pois as aparentes tecnologias futuras não fazem diferença alguma na trama.”
é verdade de novo, você tá indo bem.
quanto às interpretações dos atores, ainda tá cedo pra eu falar, visto que tô indo ver o filme logo mais, mas acredito que a predisposição e o clima de quem vê o filme afeta o julgamento. teve gente que falou bem, gente que cagou, gente que falou mal. opiniões variam e você tá no seu direito.
“Inclusive temos uma tentativa de um romance, contracenado com o ator Josh Hutcherson (que interpreta Peeta Mellark), o qual simplesmente se demonstra ambíguo, fazendo com que não conseguimos saber até que ponto existe sinceridade na personalidade de ambos personagens.”
de novo, não sei falar sobre o filme, ainda não vi, mas no livro a ideia da Katniss é justamente passar essa ambiguidade, já que ela tenta usar o romance para ganhar o público (e assim os patrocinadores) e uma aliança. talvez tenha ficado mal explicado no filme, já que ele não deve ter a imersão na mente da personagem que o livro tem. se foi o caso, é falha de adaptação.
quanto a Battle Royale, acho que os dois são bem diferentes, apesar do cenário similar. o review do omeletv comentou basicamente o que eu acho sobre isso, se você quiser ver (só os primeiros 10 minutos falam do assunto). http://www.youtube.com/watch?v=51ooSyjflgU
ah não ate aqui tem gente do ovolete que praga
que inferno esse filme e o do John Carter me fazem não ter remorso de acessar a locadora do ultra .Fui com a minha namorada e sô tinha essas bombas.
ainda bem que eu paguei meia
Hollywood esta vindo numa leva de filmes for dummies
Parece ate que e ate de sacanagem
Qual seria o problema do john carter?
Eu não fiquei extremamente feliz com John Carter, mas ainda assim achei MUITO melhor do que “Jogos Vorazes”.
Eu concordo em grande parte com você, mas quanto ao que você diz sobre o filme, não o julgamento.
Quando eu terminei de ver pela primeira vez o que me veio na cabeça foi justamente esse lado superficial e como isso diferenciava o filme do livro. Quando eu terminei o livro (e li logo que o livro lançou nos EUA, então não havia nem boatos de que seria uma trilogia), eu estava muito feliz com a história que terminava ali, uma história completa. Quando o filme terminou, a sensação foi de “mas e aí?”. Acredito que, como a trilogia vai crescendo (e termina como um livro adulto), eles aproveitaram para criar uma preparação, já sabendo que fariam mais dois filmes. E espero que os próximos dois filmes confirmem isso (principalmente por ter elementos do segundo livro ali).
A ideia de Jogos Vorazes é um programa violento mesmo e o livro não é nem tão forte quanto poderia ser, mas no filme tudo isso é muito mais suavizado. Falei quase a mesma coisa que você na minha resenha. Pessoalmente, preferia que fosse mais violento, mas acho que como objetivo era fazer uma filme grande (como está sendo), eles precisaram lutar com a censura americana.
E ficção científica… foi algo que eu realmente nunca entendi. Tenho a impressão de que na hora de escolherem o gênero eles não sabiam muito bem o que colocar (no livro mesmo) e acabou sendo isso. Provavelmente, na época não se falava tanto em distopia quanto agora. Não acho uma boa ler ou assistir procurando isso, que é mais um erro de definição baseado apenas em um cenário do futuro.
Outra coisa que aconteceu é que, como o livro é totalmente narrado pela Katniss e cheio de julgamento dela, o filme ficou um meio termo. Não é a visão da Katniss, mas também não é só uma geral (por exemplo, de 24 tributos nós só conhecemos uns 6 ou mais, que são justamente os treinados para matar ou, como a Katniss, que sabem sobreviver).
Apesar disso, tem muita coisa ali interessante, o filme é feito com muito detalhe. Se você assistir como um filme comum, vai encontrar um filme comum e que até envolve. Mas, se você procurar, vai conseguir encontrar mais. Principalmente quanto aos personagens (e esse é um feito do filme, já que por causa da visão da Katniss nós não sabíamos muito).
Eu fiquei decepcionado sabe, Dana. O tema do filme, a ideia em si, é excepcional. Dá pra fazer e explorar muita coisa com ela. Eu realmente não faço ideia de como é dado esse enfoque no livro, mas assim como você está me dizendo, outras pessoas já me falaram que é melhor retratado. Porém o filme não soube refletir tudo o que envolve a história imagino eu.
Minha crítica é técnica e exclusiva ao filme e como ele aparenta para uma pessoa que não leu os livros. Acredito que não adianta nada ele só agradar as pessoas que leram os livros. Por enquanto só tenho visto pessoas que leram falando bem do filme.
Em relação ao julgamento feito em vídeo, não é pra levar a sério mesmo não. hahaha
Muito obrigado pelo comentário, Dana.
Meu que filme porco, horriveell não acredito q paguei pra ver isso!! e as pessoas se vestem como a lady gaga se vestiria pra pular carnaval eu não entendo.