Em 2013, Gavin O’Connor chegou ao ponto mais alto de sua carreira ao dirigir o drama de ação Guerreiro, que contava um pouco da história da família Conlon (Nick Nolte, Joel Edgerton e Tom Hardy) ambientada durante uma competição mixed martials arts, o que acabou rendendo a indicação ao Oscar de melhor ator coadjuvante a Nolte. Três anos depois, O’Connor retornou com o discreto e inofensivo western Em Busca de Justiça, com Natalie Portman, e mais recentemente, O Contador, com Ben Affleck.
O longa acompanha a história de Christian Wolff (Affleck), um misterioso contador, portador da Síndrome de Asperger, fato este que dificulta a capacidade de sociabilização do protagonista, contudo o torna mais familiarizada a resolver qualquer problema matemático posto à sua frente, que costuma trabalhar lavando dinheiro para organizações criminosas ao redor do mundo, e por conta disso se torna alvo frequente desses mesmos criminosos numa tentativa de queima de arquivo mal-sucedida, já que não imaginam que o silencioso contador é também um assassino profissional. As coisas parecem mudar na vida de Wolff quando ele tem seus serviços requisitados para a auditoria de uma empresa de tecnologia, e decide aceitar um trabalho legal e que possivelmente não lhe trará grandes riscos, contudo rapidamente ele percebe que o trabalho tem mais podres do que ele imagina.
Em contrapartida, acompanhamos a subtrama encabeçado pelo diretor do Tesouro Nacional Ray King (J.K. Simmons) e a agente Marybeth Medina (Cynthia Addai-Robinson), designada por King para investigar e encontrar o misterioso contador responsável por uma trilha de assassinatos de terroristas e chefes do crime organizado pelo mundo.
Partindo de uma trama simples e sabendo utilizar os clichês ao seu favor, a começar pelo típico estereótipo do gênio antissocial, cheio de segredos e capaz de realizar coisas incríveis por conta de seu autismo, o roteiro de Bill Dubuque apesar de didático funciona muito bem na proposta de O’Connor, deixando de lado monólogos e diálogos desnecessários, e apostando ainda num sub-texto em alta dentro de Hollywood, o mercado financeiro. A construção das personagens e o universo que os rodeia é adequado a atmosfera existente em O Contador, além de ainda conseguir achar espaço para uma crítica à Wall Street e uma mensagem importante, apesar do psicologismo barato, a respeito do tratamento de doenças que envolvem distúrbios neurológicos e comprometem a interação social de seus portadores.
O trabalho de direção de O’Connor se mostra eficiente durante as cenas de ação, no entanto, perde o ritmo quando retrata o passado de Wolff por meio de flashbacks desnecessários e que interrompem o dinamismo do longa e servem de muleta narrativa para um desenvolvimento mais fluido do anti-herói vivido por Affleck. Um trabalho de montagem mais apurado daria conta desses problemas.
Contudo, o filme se mostra um thriller de ação bastante eficiente no que se propõe. Affleck se mostra bastante à vontade em seu papel, apesar de sua limitação técnica de atuação, o ator tem escolhido bem seus papéis já há alguns anos, optando por personagens mais soturnos, como ocorre em Hollywoodland, Argo e Garota Exemplar, já em O Contador, Affleck parece uma junção de John Wick, personagem de Keanu Reeves em De Volta ao Jogo, com Raymond Babbitt, personagem vivido por Dustin Hoffman em Rain Man. Simmons novamente rouba cena, interpretando um agente cheio de ambiguidades, enquanto Anna Kendrick funciona muito bem ao lado de Affleck em cenas pontuais de humor dentro da ação desenfreada do cineasta.
O Contador cumpre o que se propõe, um thriller de ação preciso, eficiente e escapista que não se apresenta como algo além disso.