Roger Corman é um dos pilares do cinema americano, tendo uma importância monstra para a indústria, seja lançando cineastas que viriam a fazer muito sucesso – exemplos de Eli Roth e James Cameron – como ditador de moda também, mas acima de tudo, ele era um produtor que sabia fazer dinheiro. Foi essa motivação e claro, um orçamento paupérrimo, que o fez distribuir o filme do italiano Luigi Cozzi (ou Lewis Coates) na direção de Star Crash, uma “imitação” do sucesso de George Lucas, Star Wars – Episódio IV: Uma Nova Esperança, ainda que as influências visuais sejam muito mais pautadas em Bucky Rogers e Flash Gordon
O início apresenta a visão de baixo de uma nave de brinquedo, com nenhum disfarce para a fajutice de sua fabricação, aparentando ser esta uma filmagem de uma aventura Playmobil, capitaneada por crianças retardadas que brincam após sofrerem pancadas sucessivas na cabeça, que pioram muito as suas já conturbadas mentes. A história acompanha o produto original, mostrando uma batalha de marginalizados representados pela voluptuosa e decotada Stella Star (Caroline Munro) e por seu amigo Akton (Marjoe Gortner) que são incumbidos pelo Império (que na verdade é bonzinho) de deter o Conde Zarth Arn, um malfeitor que vem ganhando cada vez mais espaço pelo universo afora.
Claro que toda essa trama complicada é apenas uma desculpa para exibir corpos femininos com pouca roupa, maquetes de plástico das mais maltrapilhas, disparos de armas a laser fabricados com papel celofane e claro, as belas curvas de Caroline Munro, que tinha grande popularidade graças ao recente 007 – O Espião que me Amava.
Logo os dois bandidos, mais Elle – um robô que diz que não pode enlouquecer por não ter os circuitos certos, mas que é capaz de ser um grande covarde – exploram um planeta, atrás do malvado Conde, onde enfrentam Corelia (Nadia Cassini), a rainha das amazonas, que possui um exército de gostosas com trajes de banho e um gigante indiano de stop-motion com dificuldade de locomoção, que não consegue deter os bravos heróis. Curioso que tais acontecimentos não têm qualquer consequência no produto, a não ser estreitar os laços entre Stella e o robô.
Como toda boa ação tem sua recompensa má, o alienígena esverdeado e careca Thor (Robert Tessler) trai os outros tripulantes, dando cabo de Akton e deixando Stella e Elle para morrer na neve. Mas a justiça prevalece e o cacheado anti-herói ressurge para uma batalha tosquíssima com o seu vilão particular. Akton subitamente descobre-se um ser poderosíssimo, capaz de se defender com as mãos nuas e ressuscitar a bela protagonista, que estava congelada e lotada de esmegma pela superfície de sua pele, levantando linda e bela logo após a sessão impingida por seu parceiro.
Após quase perecerem a um ataque lisérgico feito de uma névoa cor de rosa das mais mal feitas, e sem qualquer justificativa para a sua origem, os ex-bandidos entendem que aquilo é um dos maiores ataques galáticos existentes, e descem até um planeta em busca do malfadado Conde. Na superfície dele, encontram Simon, o galã em começo de carreira, David Hasselhoff, mais de dez anos antes de Baywatch ir ao ar, e claro, acompanhado de sua cabeleira permanente.
No entanto, antes de se deparar com o vilão, eles têm de travar uma batalha com mais robôs stop-motion, bem melhores executados que o primeiro. Finalmente o embate final se aproxima, e o entrave é feito em duas frentes, como no final de Star Wars – Episódio VI: O Retorno de Jedi, o que levanta muitas dúvidas a respeito da honestidade de George Lucas. Apesar das cenas serem tão toscas quanto o resto do filme, a edição até que é bem feita para os padrões orçamentários e para a qualidade da obra. O roteiro contém uma virada, com o Imperador (Christopher Plummer) tendo de se sacrificar para que Stella e Simon escapem para a Cidade das Nuvens. O curioso é que não havia qualquer motivo para poupá-los, a não ser o fato deles serem os mais bonitos do elenco.
As maquetes vão ficando cada vez melhores, e uma linda mensagem de alinhamento da justiça é apresentada no final com uma carga de esperança ainda mais forte que a presente em Star Wars. Star Crash foi um dos muitos produtos de Luigi Cozzi, acostumado a realizar fitas como Cozzilla (uma versão dublada em italiano de Gojira e pintada quadro a quadro) e proporcionou a este, oportunidade de rodar clássicos como Alien, O Monstro Assassino (que se passa em um barco), Drácula em Veneza, e a duologia Hercules 87 e As Aventuras de Hércules, Lou Ferrigno. Starcrash é ainda muito inspirado no clássico Barbarella, estrelado pela bela (e nua) Jane Fonda, com um caráter muito mais trash e de conteúdo podre, sendo um chorume entusiástico de uma equipe que certamente era muito fã do gênero Space Opera, mas que não dispunha de muito dinheiro ou talento, que ainda assim, é um produto muito divertido e engraçado, claro, de modo inconsciente.
O Podtrash está orgulhoso do senhor por trazer essas podreiras ao Vortex! Belo texto, parabéns!
Eu é que agradeço por vocês terem me apresentado essa obra-prima!