Produção espanhola de baixo orçamento, escrito por Damien Chazelle (de Agnosia), Toque de Mestre conta a história de Tom Selznic (Elijah Wood), um talentoso pianista que sofre de medo do palco, retornando às salas de concerto após cinco anos de afastamento, depois de uma performance desastrosa. Momentos antes da apresentação que marca seu retorno, recebe uma ameaça, afirmando que deve fazer o melhor concerto de sua vida, sem errar uma única nota caso queira salvar a si próprio e à sua esposa, Emma (Kerry Bishé). Sem sair do piano – ou quase – tenta descobrir o autor da ameaça e como conseguir ajuda.
Não há como não pensar em O Homem Que Sabia Demais de Hitchcock devido à ambientação da trama. Utiliza-se o mesmo conceito: uma situação dramática que se desenrola enquanto a orquestra executa uma obra. Neste, diferente da produção de Hitchcock, a ação do filme se passa toda dentro do teatro – com exceção dos primeiros minutos em que o público é apresentado ao protagonista (em pânico) e seu piano. Personagens confinados em apenas um local costumam render boas histórias, com bons momentos de suspense. Com este não é diferente, apesar de não conseguir manter um nível de tensão suficiente para evitar um eventual bocejo do espectador.
Se, no seu primeiro terço, o filme se sustenta bem, o mesmo não ocorre no restante do tempo. No início, o suspense se mantém, pois, junto com Tom, o espectador tenta entender a extensão da ameaça ao mesmo tempo em que se pergunta por que raios o vilão está fazendo aquilo. Do segundo terço em diante vai se tornando cada vez mais irregular. A começar pelo momento em que “descobrimos” quem é o vilão – poderiam ao menos ter tido o cuidado de suprimir o nome do ator dos créditos iniciais – e em que é revelada a motivação do vilão – um tremendo anti-clímax. Impossível não pensar “Mas era só isso?”. Dali em diante, a trama se torna errática. As ameaças a Tom se tornam repetitivas. O foco da ação é desviado para personagens sem qualquer função narrativa – algo similar ao Rodrigo Santoro em Lost (entendedores entenderão). O filme vai perdendo fôlego e se encaminha para o desfecho sem muito entusiasmo.
É preciso relevar vários detalhes para comprar a história, principalmente se o expectador tiver conhecimento, mesmo que mínimo, do universo de concertos de música erudita. Se o pianista sofre de ataques de pânico, por que não está em tratamento – terapia e/ou medicamentos? Que maestro correria o risco de fazer uma performance com esse pianista, que não se apresenta em público há anos – sem ao menos um ensaio? Que maestro não percebe que o pianista não está agindo normalmente? E, se percebe, por que não o procura durante o intermezzo? Aliás, como não perceber, e o pianista deveria estar polidamente sentado ao piano ao invés de sair do palco sucessivas vezes enquanto a orquestra executa a peça? Para o espectador que já tenha tocado algum instrumento, fica a dúvida: por mais virtuoso que seja o músico, é humanamente impossível tocar passagens complexas como aquelas, tão excepcionalmente bem quanto ele as toca e ainda conversar com um desconhecido que o ameaça. E como é possível que o vilão tenha se preparado por três anos e não ter controle total sobre toda e qualquer ação de Tom? E ainda, se o vilão apenas queria a chave, havia várias outras possibilidades de obtê-la que não envolveriam um plano tão mirabolante e tão suscetível a falhas como o que foi engendrado.
O elenco está bem, nenhuma atuação excepcional nem nada terrível demais. A fotografia está ok, exceto nos momentos em que tenta ser inovadora e usa certas angulações sem qualquer justificativa. Se praticamente não há sangue no filme, isso é compensado pelo vermelho carmim do cenário, tão excessivo que chega a enjoar. Há algumas boas sacadas na montagem, que na maior parte do tempo se aproveita do ritmo da música. Quanto à trilha sonora, pode não agradar a todos pelo caráter atonal das composições, mas casa bem com o clima de suspense do filme.
Mesmo estando longe de ser um Hitchcock em termos de estrutura narrativa e desenvolvimento da tensão, ainda assim consegue ser um filme de suspense ‘assistível’. Não é inovador, mas cumpre o que se propõe – entreter o espectador e deixá-lo (um pouco) tenso durante 90 minutos.
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Texto de autoria de Cristine Tellier.
Assisti hoje. Tive a impressão que o diretor tentava compor algo com estilo de outros diretores. Tem algumas cenas bem ao estilo do Hitchcock. Mas a trama é forçada além da conta, fica um pouco cerebral demais imaginar que um pianista sob pressão conseguiria realizar todo um concerto.