Em tese nenhum tópico é tabu, ou ao menos não deveria ser. Afinal, aquilo que é pouco dito costuma esgueirar-se pelas sombras da sociedade, e ao tema é associada apenas obscuridade e medo. Mas o que parece fazer sentido também é que nem toda forma de se abordar um tema é exatamente adequada.
Una debruça-se sobre uma história de abuso infantil e seus posteriores desdobramentos sobre a vida do abusador, da vítima, e de suas famílias, onde anos após o abuso, a jovem Una confronta seu abusador e expõem os destroços de sua vida marcada por tribunais, olhares tortos, tristeza confusão. O grande problema deste filme, porém, é sua complacência com o abusador. Tal abordagem já foi usada antes, no clássico livro e filmes Lolita. Porém, em Lolita a empatia com o abusador ocorre por conta da história ser contada sobre seu ponto de vista, mas ao final consegue tornar clara o quão patética é aquela figura de um homem moralmente falido e incapaz de controlar seus desejos, e assim expondo a podridão de conceitos entranhados em nossa cultura. Una, ao contrário, quase tem pena do “sofrimento” do abusador, e quase defende sua paixão pela garota.
O filme é estrelado por Rooney Mara (Os Homens Que Não Amavam as Mulheres) e Ben Mendelson (Rogue One: Uma História Star Wars), e dirigido por Benedict Andrews, diretor de teatro em seu primeiro longa, sendo baseado na peça Blackbird, do mesmo roteirista de Una, David Harrower. Esta ‘mais longa do que deveria’ explanação sobre quem são os envolvidos na produção é para dizer que o egocentrismo é a tônica desta história. Tão autocentrada em si, que percorre boa parte dos seus longos minutos com dificuldades de estabelecer com eficiência seus personagens, apesar de ter uma dinâmica que consiste basicamente em tentar desenvolvê-los, não possuindo assim nenhuma subtrama que justifique este déficit de atenção.
Incapaz de ser rigoroso com o abusador, o filme explana de forma quase que protocolar que ele teve a condição de refazer sua vida, enquanto a vítima não. Mas nada disso adianta tão logo ele é colocado constantemente como uma vítima. Um homem perdido que cedeu à um erro bobo, e não como sendo aquilo que é, no alto da maldade que seus atos deveriam estar. Ele é um criminoso. Já Una, é eventualmente mostrada como uma moça confusa, que hoje e talvez ontem usava o sexo de forma autodestrutiva, dando a entender que aquilo talvez tenha sido realmente um romance, e não a história de um homem de 40 anos abusando de uma menina de 13.
As tentativas de fazer de Una uma pessoa forte que sofreu, mas sobreviveu, soam todas equivocadas, protocolares e fora de tom. A única ideia de seu medo constante é quando o filme demonstra que mesmo as voltas de homens de aparente boa índole, ela está constantemente entrando em tocas de lobos, pois tão logo adentra a fábrica onde irá confrontar seu abusador, o simpático Scott insiste em suas cantadas. Ele realmente parece uma boa pessoa, mas ainda assim à vê como algo disponível simplesmente por ser mulher.
Equivocado, inconsequente, sem atenção e pobre no discurso, Una não é capaz de discutir os temas que se propõem, e erra em forma e conteúdo.
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Texto de autoria de Marcos Paulo Oliveira.
https://www.youtube.com/watch?v=UgiN35SC-hM
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