X-Men: Fênix Negra, dirigido por Simon Kimberg, é o quarto filme após retomada da franquia em X-Men: Primeira Classe, e seu início se dá com um monólogo sobre destino e evolução, emulando um pouco o que Patrick Stewart fez em X-Men: O Filme, só que agora dito pela Jean Grey (Sophie Turner). Iniciado em 1975, com a infância trágica da narradora que foi acolhida por Charles Xavier (James McAvoy).
A trama não demora a chegar em seu momento “atual”, no ano de 1992, numa missão dos X-Men no espaço. Xavier e seus alunos surfam em uma enorme popularidade. A adulação aos mutantes e a discussão ética são bons pontos, mas pouco ou mal explorado. A passagem de tempo para alguns personagens é bastante confusa, Michael Fassbender (Magneto), McCAvoy e Nicholas Hoult (Fera) não tem em suas mutações desculpas para não envelhecer, como a Mística de Jennifer Lawrence (em algumas versões, Magneto também tem envelhecimento retardado, mas nada tão grave quanto aqui), e sinceramente esse passa longe de ser o maior pecado de Fênix Negra.
As incongruências começam com o estranho salto de poder de Jean. Nos quadrinhos havia o impacto dela ser fraca no início, e repentinamente ganhando poderes e adquirindo onipotência após um encontro cósmico, no entanto, em X-Men: Apocalipse ela já demonstra um grande poder, portanto, há pouco impacto no crescimento da personagem. Há algumas piscadelas para o público, como uma rave da mutante Cristal, um easter egg simpático, mas que faz pouco volume no todo. O foco dramático é evidente e bem óbvio: o envaidecimento de Xavier. Ocorre que isso já foi plantado na versão de Matthew Vaughn mas inflada aqui, e esse pecado é apontado também nos quadrinhos. Dizer que o telepata pôs barreiras mentais em Jean nem pode ser considerado exposição de trama (os trailers deixam isso claro), mas daí a culpar Xavier por isso não faz sentido. Ora, nos filmes anteriores abre-se precedentes a todo momento, tanto no filme de 2011 quanto em X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido: em um ele está em começo de carreira, no outro já é tão veterano que se aposenta e em ambos o líder mutante manipula memórias e pensamentos, mas lá não era problema.
Os inimigos estrangeiros, também soam confusos. Não se explana nada sobre os D’Bari e nem se cria um mínimo suspense sobre eles, para quem não leu os quadrinhos soam como pura tolice. O roteiro não precisa ser expositivo mas com o pouco que se dá eles parecem apenas malfeitores genéricos, e não as criaturas que vão atrás da Fênix na história clássica, e ainda tem a problemática de subvalorizar Jessica Chastain, que aliás, contraria qualquer teoria anterior.
Há bons conceitos como a comunidade de Magneto, uma espécie de pré-Genosha, mas seria muito mais legal se tivessem mostrado o desenvolvimento desta (mas vá lá, também não mostraram a guinada rumo a família de Erik no filme anterior). Outro boa ideia mal executada é o sentimento que predomina em Jean ser a rejeição, e não o medo. O fato dela não saber lidar com o poder e a maneira como os mutantes a enxergam como ameaça é um argumento inteligente, pois mostra como a educação que não é libertadora facilmente faz com que o perseguido se torne perseguidor, mas a ideia de ser acompanha por boas cenas de ação é desperdiçada por atuações repletas de frases de efeito, com um desfecho confuso, com pouca ou nenhuma razão factual para ser repleta de viradas morais. Os momentos finais de Fênix Negra são artificiais, mostrando uma nova configuração da escola e do futuro dos personagens, buscando uma aproximação com o que é visto em X-Men: O Filme. A boa construção de texto é escondida com rimas visuais oportunistas que só enganarão o espectador que estiver completamente desatento, se é que até esse abraçará essa obra, visto que é preciso memória e apego aos outros filmes. É uma pena uma franquia como essa termine de modo tão melancólico e vergonhoso, mesmo com possibilidades para um futuro fora do estúdio.