Futebol é o esporte mais popular do mundo, movimenta paixões, emoções, dinheiro, tradições, competitividade etc. No caso do Brasil, é uma obsessão tão intensa que se torna praticamente uma religião nacional. Sendo assim, é normal que a filmografia brasileira tenha se debruçado sobre o esporte bretão, e contrariando a máxima de que “não há bons filmes sobre futebol“, separamos uma lista com alguns bons exemplares entre produções nacionais e estrangeiras.
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Heleno (José Henrique Fonseca, 2011)
Este é um drama que conta a história da lenda botafoguense Heleno de Freitas. Dirigido por José Henrique Fonseca, o longa narra a trajetória dramática sobre o jogador e o homem Heleno. Fonseca se baseou no livro homônimo do jornalista Marcos Eduardo Neves, e foca bastante em sua delicada biografia fora do campo, desse modo, o futebol é subalterno às tristezas e dissabores do protagonista. O desempenho de Rodrigo Santoro no papel principal é irrepreensível.
O Futebol (Sergio Oskman, 2014)
O filme de Oksman apela para o emocional, a história mostra o esporte como símbolo da tentativa de pai e filho em voltar a ter laços sentimentais fortes. Sergio busca reativas o sentimento de familiaridade com seu pai, Simão, em meio a Copa do Mundo que o Brasil sediou em 2014, e para isso, decide voltar a sua cidade natal para acompanhar o torneio com seu parente, a fim de relembras os momentos mais felizes do passado de ambos. Essa tentativa resulta em um fracasso, e o modo que Oskman trata isso na história é forte e singelo. O uso do esporte como centro gravitacional desse universo é simbólico, pois, enquanto ele não é super importante para os personagens, serve de pretexto para essa empreitada que não dá certo, acaba conversando bem com a necessidade humana se conectar com os próprios sentimentos e com a necessidade que o homem adulto tem em se consertar com os que lhe são caros, ou quem já foi. Filme bonito e emocionante na medida.
Boleiros: Era Uma vez o Futebol (Ugo Giorgetti, 1998)
A cinessérie Boleiros é possivelmente a exceção à regra no que toca o lugar-comum de que não existem bons filmes sobre futebol no Brasil. Ugo Giorgetti dirigiu duas versões, uma de 1998 e outra em 2006, mas o primeiro é sem dúvida alguma o mais inspirado entre eles. A história se passa em dois cenários básicos: um bar em São Paulo onde jogadores aposentados e veteranos conversam animadamente sobre suas carreiras e frustrações, e claro, os gramados. O elenco conta com estrelas como Lima Duarte, Elias Andreato, Cássio Gabus Mendes, Otávio Augusto, Rogério Cardoso e Flávio Migliaccio, e o formato de conversa de bar favorece o clima de resenha e o brilho de suas histórias, muitas delas inspiradas em fatos.
O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias (Cao Hamburguer, 2006)
Dirigido por Cao Hamburguer, que já tinha experiência com produtos ligados ao público infantil como o seriado Castelo Rá-Tim-Bum, o filme trata da história de Mauro, um menino fanático por futebol que herdou esse gosto do seu pai. O menino se muda para a casa do avô, um judeu ortodoxo vivido por Paulo Autran, bem diferente de seus pais. As férias que os pais de Mauro tiram são, na verdade, fruto da perseguição política dos militares. O esporte, em especial a Copa de 1970, entra como alvo dos sonhos do pai, do pequeno Mauro e até mesmo dos militantes contrários ao regime militar, que tentam em vão torcer para a Tchecoslováquia, sem conseguir esconder o fascínio pelo time de Pelé, Gerson, Tostão e Jairzinho. O desempenho de Michel Joelsas é ótimo, e Hamburguer consegue equilibrar bem o cenário caótico de perseguição política com o olhar mágico de uma criança sobre o futebol e sua relação com os pais desaparecidos.
O Roubo da Taça (Caito Ortiz, 2016)
Essa é uma das mais estranhas e bizarras histórias do país: o que ocorreu com a taça Jules Rimet do mundial de 1970? Há algumas versões dessa história no cinema nacional, mas a de Caito Ortiz lançada em 2016 se destaca pelo tom semelhante ao das chanchadas, misturando o humor estridente das novelas, com o nonsense da situação que envolve um grupo de ladrões maltrapilhos responsáveis pelo roubo do artefato mais importante do futebol da época. Thais Araújo e Danilo Grangheia estão muito bem, são engraçados e carismáticos, mas obviamente a estrela do filme é Paulo Tiefenthaler. O filme serve entre outras coisas para satirizar a política nacional e as instituições responsáveis pelo futebol no Brasil.
Maldito Futebol Clube (Tom Hooper, 2009)
Michael Sheen vive o lendário, supersticioso e vaidoso Brian Clough, treinador inglês que havia feito carreira nos pequenos times do Reino Unido. O pontapé inicial se dá com ele chegando ao clube mais forte do campeonato, Leeds United, após a saída de Don Reevie. O maior prodígio do filme é mostrar como funcionava os bastidores do esporte no seu país-fundador. Quem está acostumado a ver Sheen em sagas como Crepúsculo e Underworld talvez se surpreenda com o seu desempenho. Seu personagem é espirituoso, determinado, cheio de energia e insegurança, e a ode ao futebol se dá de maneira pragmática, mostrando o esporte como uma fogueira de vaidades.
Febre de Bola (Dani M. Evans, 1997)
Adaptação do livro homônimo de Nick Hornby, Febre de Bola é uma comédia romântica protagonizada por Colin Firth, um professor de inglês lidando com uma nova paixão, e paralelo a isso, acompanhamos sua obsessão pelo Arsenal, time inglês que passava por uma fase azarada e sem títulos. Por mais que o livro seja muito mais bem resolvido que o longa, há bons momentos nessa versão, especialmente quando mostra as diferentes etapas da vida do protagonista, grafando muitíssimo bem as manias e superstições do torcedor que frequenta estádios, mostrando que os hábitos dos ingleses não são tão diferentes dos nossos. O momento mais inspirado do filme se dá em seu desfecho ao retratar a festa da torcida após o título.
Penalidade Máxima (Barry Skolnick, 2001)
Penalidade Máxima é protagonizado por Vinnie Jones, expoente do cinema brucutu britânico e ex-zagueiro da seleção galesa de futebol. Esta é outra versão de Golpe Baixo, e em comum com o original, mostra atletas presidiários liderados por um jogador profissional mal falado, substituindo o futebol americano pelo futebol. O elenco conta com figuras carimbadas dos filmes de Guy Ritchie, repleto de humor físico e personagens carismáticos. As cenas de futebol são ótimas, conduzidas por gente que parece entender do esporte, mas o ponto positivo são os carrinhos e jogadas desleais, resultando na demonstração vívida do que é o futebol de rua.
Um Time Show de Bola (Juan José Campanella, 2013)
Esta animação é uma produção hispano-argentina, situada em um pequeno vilarejo argentino que remete a várias pequenas cidades do mundo. A qualidade da animação é grandiosa, os efeitos em computação gráfica e a textura dos personagens dão um tom quase tão mágico quanto o momento que os jogadores ganham vida. A obra de Juan José Campanella registra uma bela história sobre memória e pertencimento, além de ser uma ode ao futebol amador e as diversas modalidades oriundas dele, desde jogos de simulação mais física como totó e futebol de botão, até os mais modernos e interativos como jogos de videogame.
El Chanfle (Enrique Segoviano, 1979)
El Chanfle é produzido e estrelado por Roberto Gomez Bolaños, que vive um roupeiro do América do México, um dos clubes mais populares do país. Sua trajetória é de um homem atrapalhado, que quebra tudo o que toca, mas tem um bom coração e carrega sonhos simples. O elenco inclui Ramon Valdez, Florinda Meza, Maria Antonieta de Las Nieves e outros que compunham o grupo de personagens de Chaves, Chapolin Colorado, Dr. Chapatin (que inclusive tem uma breve aparição nesta longa) e demais histórias do Chespirito. O episódio que Chaves fala que seria melhor ver o filme do Pelé era, na verdade, uma propaganda deste filme. As cenas de futebol não são um primor, servem mais para que Carlos Vilagrán e seu Valentino possam brilhar como um jogador talentoso, porém mentiroso. No final, o que se percebe é uma obra que louva bastante o amor do povo mexicano pelo futebol.
Uma Aventura do Zico (Antônio Carlos da Fontoura, 1998)
Um time é formado por onze jogadores em campo, e o décimo primeiro filme da lista não é exatamente bom, mas é quase isso… Uma Aventura do Zico tem uma premissa insana, mostra o ex-jogador do Flamengo abrindo a chance de treinar crianças, e uma delas, frustrada por não ser escolhida, pede ao pai rico para fazer uma cópia exata do Galinho de Quintino, que ganha o “maravilhoso” nome de Zicópia. O filme mistura ficção científica, estética de televisão e até discussões bizarras sobre homofobia e machismo no esporte, por conta de uma menina que finge ser um garoto para treinar com o camisa 10 do Flamengo. Assistir os Coimbra enquanto família é assustador, pois nenhum deles parece ter qualquer intimidade com a câmera, e nem mesmo atores famosos como Eri Johnson e Jonas Bloch salvam a dramaturgia. O filme vale pela curiosidade e pelo amor ao bizarro.